Capítulo 19: O vazio

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Na semana seguinte, fomos convidados para uma apresentação da igreja de uma priminha de Heytor.

— Eu não tenho nenhuma roupa pra ir, mãe — reviro as calças e camisetas do guarda-roupas — as meninas devem estar indo todas de saias e roupas de florzinha, eu vou parecer um et, não quero que os tios dele achem que eu seja uma garota ruim destruidora de famílias. — confesso começando a ficar sem paciência.

Por que a roupa perfeita não podia simplesmente aparecer em um dos cabides?

— Filha — ela pega em meus ombros — você não precisa deixar de se vestir como gosta só pra cumprir as expectativas de alguém, além do mais — ela olhava as pilhas de roupa em cima da cama — você pode colocar essa calça preta, com o seu all-star vermelho e a camiseta branca com os detalhes dourados, vai ficar perfeita! — ela pega cada uma das peças e coloca no meu corpo frente ao espelho. O que acha?

— Amei! — pego as peças e separo em seus cabides.

— Agora toma banho logo que eles vão te buscar em 45 minutos.

Entro no banheiro rapidamente e tiro as roupas.

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Ouço a campainha tocar e atendo a porta.

— Boa noite — falo selando os lábios do meu namorado.

— Boa noite, namorada mais gata do mundo! — ele elogia.

Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Vamos?

— Vamos.

Ele me acompanha até o carro e sento no meio, entre ele e Nabi.

— Boa noite, Liara. — Senhora Cho cumprimenta.

— Boa noite, gente. — Saúdo todos.

Seguimos por mais alguns quarteirões e saímos em uma igreja azul de grande estrutura.

Entramos e somos recepcionados pelos tios de Heytor que nos levam até um banco no meio do salão principal.

A celebração começa com uma oração e cantoria de algumas músicas natalinas, após isso, um homem com um lindo terno de risca de giz e gravata vermelha sobe no púlpito para falar.

— Paz do Senhor, amados irmãos e irmãs, a palavra que preparei para vocês hoje é sobre o amor transbordante do Senhor Jesus Cristo para com cada um de vocês que está aqui essa noite. Abram suas bíblias em João 3:16 — ele faz uma pausa esperando todos acharem o versículo — "Porque Deus tanto amou o mundo que deu seu Filho Unigênito, para que todo que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna". Amém, vamos orar.

Era engraçado descobrir que aquele seria o versículo pregado, pois eu sabia ele quase tão bem quanto os cristãos, de tanto que é difundido.

A pregação se estendeu por 30 minutos e reverberou em minha mente por mais tempo ainda.

Algo parecia se contorcer dentro de mim quando o pastor começou a explicar a condição falha da humanidade, depois disso começou a aliviar quando foi dito que Jesus veio para pagar todos os nossos erros, mas no momento em que ouvi que ele havia aceitado uma morte de cruz pra que tudo isso acontecesse, pareceu que uma luz acendeu em meu coração.

Pensar em errar uma ou outra questão por Heytor ou ele ter apanhado para me defender mesmo não tendo nada comigo ainda já me passava uma grande demonstração de amor, mas imaginar um alguém que MORREU por mim sem que eu ao menos existisse foi algo completamente diferente. Essa foi a chave.

O amor de Jesus era completamente novo, pois era o único amor capaz de completar minha vida sem me machucar ou cobrar por isso, um amor que é paciente, que espera e que se doa por completo.

Finalmente eu tinha a resposta para as perguntas que fiz por meses entre lágrimas na jaqueira e para as nuvens do céu azulado.

Olhei para Heytor e vi suas lágrimas escorrerem por todo seu rosto, ele estava sendo respondido de algum jeito também.

Nesse momento eu tive certeza, aqui começaria uma nova guerra, o embate entre tudo que eu fui até então e tudo que o Amor poderia construir em mim. Eu tive convicção plena em começar isso e estava feliz por ter Heytor ao meu lado como aliado. 

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