Espiã do Subterrâneo

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Ainda sentado à mesa, Steve pensava em Mana e em seu rosto gentil. Ela se despedira dele com uma reverência e um desejo de boa sorte, e até sorrira, porém aquela expressão séria e cansada mal havia desaparecido de sua face... 

Céus, a jovem parecia estar trabalhando tão duro para o tal Dr. Potato... O viajante sentia-se um pouco incomodado ao pensar nisso. 

"............"

De qualquer modo, não podia ficar sentado sem fazer nada. Ele terminou a refeição, embrulhou a comida que sobrara, então arrumou as coisas e saiu.

Ao esconder o mini-submarino nas margens da vila, o viajante apanhou a espada, o arco e a aljava com as flechas. De repente, uma expressão séria lhe sombreou o rosto. 

Desde o dia em que acolhera as lições do Lendário Espadachim da Ordem Relampegia, Steve sempre sonhara em ser um grande Guerreiro Arcano; talvez porque mantinha o sonho de passar os códigos de honra adiante; o sonho de trazer paz, ordem, estabilidade... Enfim, encaminhar o mundo a uma era onde qualquer aventureiro poderia viajar ao redor do mundo sem preocupação... Parecia uma grande utopia ou apenas o sonho de uma criança que crescera em uma família de Guerreiros Arcanos. Ainda assim, tinha a vontade de realizar grandes façanhas ao empunhar uma espada real. Embora espadas tivessem sido criadas para derramar sangue..., ele pretendia usá-las para proteger inocentes, para trazer tempos pacíficos, onde mesmo os seres mais fracos teriam condições de alcançar a plena liberdade, o estilo de vida ideal... 

"Mas que dilema...", pensou Steve conforme amarrava a aljava em suas costas.


As suas orelhas de esquilo permaneciam escondidas sob o cabelo castanho na altura dos ombros, apesar de só haver transeuntes mortos-vivos pela estrada. Ainda pensando na xamã, Steve seguia através de um caminho de barro ladeado por florestas. De vez em quando ele subia em alguma árvore para melhor observar os arredores. Preferia evitar perigosas surpresas, então ocasionalmente usava a sua habilidade Sciurus Volans — Esquilo Voador — para saltar e planar conforme esquadrinhava os diversos cantos florestais. Aqui e ali, macaquinhos saltitavam de galho em galho enquanto pássaros gorjeavam. Sentindo a brisa acariciar o rosto, o aventureiro contemplou zumbis em vários pontos e nas mais variadas condições, mas felizmente nenhuma horda deles. Buscava rastros da jovem xamã, apesar de ela parecer cuidadosa o bastante para não deixar nenhuma pista para trás. Por um momento, ocorreu a ele que poderia ser um pouco tarde para seguir Mana, mesmo que seus instintos avisassem que ela seria um elemento chave para encontrar a misteriosa Bella.

"Sei que ela não é uma aventureira comum, mas ainda não é tarde para rastreá-la. Posso rastreá-la.", pensou o viajante. Por mais que só conseguisse sentir o fedor de morte, confiava tanto na visão como em seus instintos.

Ao meio-dia, Steve chegou a um vale cheio de cadáveres decepados. Se afastando de uma cabana de madeira, caminhou rumo ao sudoeste pela mata, até avistar uma árvore de tronco oco com um buraco em sua base. Havia muitas pegadas ao redor. No entanto, a maioria delas, mesmo as mais recentes, pareciam pertencer a zumbis. Curioso, ele imaginava o motivo pelo qual seu instinto o teria conduzido até ali. Mas, de repente, divisou algo interessante: um vulto desaparecera dentro da toca, antes que um buraco se abrisse repentinamente na terra ao lado dele. Foi quando uma garota toupeira apareceu para surpreendê-lo. Subitamente, sob o céu nublado, Steve sentiu o cheiro de fauno.

— Qual é o problema? — Steve ouviu a voz sondar em inglês. Não um inglês qualquer, mas um carregado pelo sotaque familiar somente aos habitantes do Mundo dos Faunos.

"..............."

Sem palavras, o semifauno observou a menina emergir do buraco. 

Não era coisa de sua imaginação. Era de fato uma garota com as características de uma toupeira. Um sedoso e belo pelo preto, salpicado de castanho, a cobria nas partes certas. Ela o fitou com um par de pretos olhos de aros castanhos por cima da máscara verde que ocultava a parte inferior do rosto, seus longos cabelos pretos com mechas castanhas ondulando ao vento. Trajava uma blusa marrom sem mangas e calças da cor das folhas do outono. Steve tentou espiar os pés dela, mas suas botas de cano baixo pareciam se camuflar em contato com o solo.

Steve Holtters - A Patrulha do Alvorecer da Ordem dos FalcõesOnde histórias criam vida. Descubra agora