Steve Holtters - A Patrulha do Alvorecer da Ordem dos Falcões

Sombras

Chaos disparou um gancho no beiral de outra torre para manobrar agilmente em pleno ar. Manipulando precisamente seu centro de gravidade, ele se afastou do local da explosão conforme o segundo gancho se fixava no cume de um penhasco, para onde Chaos se dirigiu antes de se transferir com uma série de acrobacias para as colinas rochosas. 

"Essa foi por pouco.", pensou Chaos, ciente de que estaria gravemente ferido se não tivesse sido rápido o bastante para usar sua energia arcana como armadura.

Ao pousar, o explorador olhou em volta. O silêncio reinava quase absoluto, interrompido vez por outra pelo farfalhar dos ventos que se mesclavam ao canto dos pássaros, mas talvez o velhote estivesse indo sorrateiramente em busca de seu corpo. Se esperasse, provavelmente voltaria a vê-lo. Contudo, Chaos tinha lugares a explorar e artefatos a apanhar. Não podia perder tempo com joguinhos. Com isso em mente, ele saltou para a floresta.

Quando começou a chover, Chaos buscou abrigo em uma caverna nos recantos da floresta. Assim que entrou na escuridão, entretanto, o explorador sentiu uma sutil presença espreitando das trevas.

— Ora, ora... Você se parece com alguém em busca de poder — disse uma enigmática voz das sombras.

— Ahn? — Chaos olhou, mas não lhe era possível ver nada além de sombras e morcegos descansando ao fundo da caverna.

A voz apenas prosseguiu:

— Posso oferecer isso... Poder é algo que tenho a oferecer. Faça um contrato comigo e terá PODER para virar este mundo pelo averso.

Chaos sorriu. A inebriante sensação de estar sob a presença de uma entidade das Sombras o divertia de uma forma curiosa.

Ao norte de Arkádia, nas fronteiras de terras isoladas do mundo comum, nas adjacências das grutas e moradas dos antigos sábios da Ilha Morcego, Heróis Arcanos de todas as partes do mundo se reuniam em tendas, sabendo que os Tempos Escuros estavam de volta.

— Há poucos de nós — comentou Ashbelland. — Eles nos chamam de rebeldes, mas falta pessoal para uma verdadeira revolução.

Os olhos do rapaz examinavam as peças de xadrez depositadas no tabuleiro. 

Jogar jogos de estratégia naqueles dias escuros era uma de suas únicas alegrias desde que o mundo se tornara um cenário espantoso repleto de espiões e assassinos mortos-vivos. Não fosse por aquelas pequenas alegrias, Ashbelland acreditava que já teria se tornado mais um anti-herói amargo e trágico — do tipo que provavelmente buscaria poder em pactos sombrios —, e não seria nenhum exagero dizer que ele faria todo e qualquer sacrifício necessário, até mesmo um pacto com a Serpente do Caos, se fosse preciso para derrotar os Caóticos e os patifes da organização Shishigami.

— Mestre — falou o seu discípulo, um jovem de túnica da cor da areia. — O corvo mensageiro chegou.

Ashbell se apressou a se levantar e correu para a saída da tenda. No céu carregado de nuvens cinzas, via-se um corvo voando ao encontro do acampamento.

Ao pousar no ombro do discípulo, o corvo estendeu a pata com um pequeno rolo de pergaminho. Ashbell o pegou, abriu e se pôs a ler.

O rosto de Ashbelland sombreou-se ao ler a mensagem de um de seus homens.

— Capturaram Nick Chumbo Branco — anunciou.

— Não posso acreditar nisso — replicou o discípulo. — Ele era um de nossos mais importantes Revolucionários enviados em missão à Long-Laberyon.

— Se quisermos reavê-lo — continuou Ashbell —, nosso inimigo sugere que estejamos dispostos a participar de um jogo mortal.

O rosto do discípulo se contorceu de susto. Em seguida, os dois ouviam gargalhadas ensandecidas.

— Parece que vocês precisam mesmo de poder — começou o encapuzado de preto, ao aparecer repentinamente da sombra, bem como um espectro empunhando uma longa espada sobre o ombro. — Posso lhes oferecer isso, desde que façam um contrato comigo.

Ashbelland hesitou. Já ouvira histórias de pessoas que buscavam por poder, e que fizeram um contrato com aquela antiga entidade das Sombras. Até onde sabia, as coisas não acabaram muito bem para elas, embora as histórias relatassem que teriam alcançado seus objetivos.

— Azamber... — Ashbell tentou encontrar as palavras certas. — Que tipo de poder você teria a me oferecer?

Azamber riu.

— Ora, o que mais seria além das Artes das Sombras?