Chaos Kurayami

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Chaos Kurayami sempre gostara de estar no topo. Um de seus principais hobbies sempre fora fazer simulações mentais de seu triunfo sobre todos os inimigos, mas especialmente de sua vingança contra Austin Taylor, o mascarado que certa vez frustrara seus planos na frente de um garoto.

Quanto mais Chaos realizava suas simulações, mais claras e realistas elas passavam a lhe parecer, como se de fato estivessem prestes a se tornar realidade. Ele visualizava todos os possíveis passos que o levariam à vitória. Isso o dava um considerável grau de satisfação, além de sempre fazê-lo capaz de antecipar vários passos de seus adversários, utilizando-se de todas as diretrizes, habilidades e recursos ao seu dispor. Para Kurayami, a capacidade de tornar suas pretensões e desejos em realidade — através de suas constantes visualizações e simulações mentais — era uma de suas melhores especialidades. Força, habilidades inigualáveis, uma mentalidade forte e afiada... eram tudo de alguém precisaria para estar no topo. Mas ele queria se tornar ainda mais poderoso. Afinal, queria que o mundo inteiro estivesse sob o seu poder e triunfar sobre tudo e todos; e o meio mais fácil que conhecia de fazer isso seria se apossando do Poder da Serpente. Mas, para tanto, precisaria dos Instrumentos do Caos, também conhecidos como Instrumentos da Serpente.

A maioria dos artistas arcanos — que conheciam a história dos lendários Fragmentalistas — temia tal poder. Porém, para Chaos, o maior erro dos Fragmentalistas fora tentar dividir o mesmo poder entre eles.

Sob um capuz e em vestimentas cinzas com detalhes pretos, que combinavam com o clima tempestuoso, o jovem Chaos meditava tranquilamente em cima de uma alta torre de aço, até ouvir movimentos apressados de alguém que vinha rapidamente em sua direção. De súbito, ele levantou-se, sem usar os musculosos braços, inclinando-se para trás, e então moveu-se rapidamente para o lado, como nada mais que uma sombra fumacenta. Reagindo ao som e movimento de objetos reluzentes, ele saltou e rodopiou no ar, esquivando de quatro facas arremessadas. Então, posicionando-se ao plantar um pé no cabo da última faca voadora, ele impulsionou-se para trás e pousou para segurar uma mão, antes que a ponta de um reluzente punhal pudesse tocar a sua têmpora.

"Mas que perigo...", pensou Chaos conforme esboçava um sorriso preguiçoso sob o capuz envolto por sombras.

— Ora — Chaos disse —, você deve ser o tal Ancião da Colônia do Sul... Agora há pouco... estava imaginando que um momento assim chegaria.

— Seu monstro... — chichiou um idoso vestido em trapos chamuscados.

Chaos imaginou que o coitado devia ter passado por poucas e boas só para encontrá-lo ali. Quanto tempo o infeliz havia desperdiçado em sua procura?

— Repare só no estado do mundo — o ancião apontou para baixo; e o jovem olhou, sem conseguir ver nada abaixo além de um enorme labirinto de ruínas repleto de mortos-vivos. — Quem em sã consciência causaria uma coisa dessas?

Os olhos prateados do jovem brilhavam sob a escuridão do capuz.

— Não faço a mínima ideia, já que não tenho nada a ver com isso — Kurayami respondeu, sorrindo, enquanto apertava o punho do idoso, deliciando-se com o fato de o ancião odiar o quanto os jovens podiam ser cínicos. — Mas olhando o seu estado..., suponho que deve ter passado por maus bocados, velhote. Mas que barbaridade! Um homem da sua idade devia estar descansando ou relaxando, em vez de sair correndo por aí pra comprar briga numa zona de alto risco. Olha, se abaixar essa coisa, eu prometo deixá-lo ir. Porém, se recusar...

— Quem além de você pode ser o monstro por trás disso?

Chaos usou a outra mão para coçar a cabeça, num gesto casual e frívolo.

— Quem sabe... Tem loucos por toda a parte, velhote.

— Que tem loucos por toda a parte, tem sim. Mas, ainda assim, não estou convencido de que você não tem parte nenhuma nisso.

— Então, o que tenciona fazer?

— Isso é óbvio: levá-lo para o julgamento na Colônia do Sul.

— Ah, é mesmo? E se eu não quiser ir? Sabe, acho que não estou muito a fim disso; tenho mais o que fazer e lugares a saquear — Chaos sorriu de forma debochada.

Os olhos do ancião tornaram-se duros como rocha.

— Então, isso terá que ser do jeito mais difícil — respondeu o idoso, lançando em seguida algo plano, retangular e vermelho com a sua mão livre. O objeto caiu no chão aos pés deles; e logo começou um chiado, como se algo estivesse queimando. Assim que ouviu o som, conforme suas narinas eram invadidas pelo fedor de pólvora, Chaos soube imediatamente o que aquilo significava: um talismã explosivo feito pelos guerreiros arcanos da Colônia do Sul, indivíduos que mantinham tradições antigas e sempre agiam pelas sombras de Long-Laberyon. Ele olhou de volta para o ancião, o qual — flexionando estranhamente a mão — desvencilhou-se logo, como nada mais que um borrão, antes de desaparecer de vista. Por instinto, Chaos saltou para trás, para longe da grande explosão — que logo englobou a torre.

Mas, ainda assim, o seu corpo sentiu o tremendo impacto; e ele flagrou-se sendo arremessado pelos ares.

Steve Holtters - A Patrulha do Alvorecer da Ordem dos FalcõesOnde histórias criam vida. Descubra agora