Projeção Astral

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08 DE JANEIRO DE 20XX

Após certo tempo, seguindo as instruções do Mestre Espadachim que o ensinara a arte do Bushido Ryu, Steven H. Arkane mergulhou profundamente em seu interior para acessar a dimensão onírica mais harmoniosa existente dentro de si, a mesma que — há cinco anos — o permitira dominar o seu estilo Musasabi com apenas 13 anos, de forma a ampliar ao máximo a arte da leveza para se mover livremente em pleno ar ao manejar a espada sob o manto de Ki. Desde então, o semifauno a chamava de Zen Musasabi Ryu, embora tal dimensão fosse praticamente um reflexo da remota vila onde crescera no meio das montanhas.

Zen Musasabi Ryu, a bela floresta circundada pelas montanhas cobertas de neve, possuía uma cachoeira sob a qual, em posição de lótus, o aprendiz espiritual podia adentrar facilmente em nirvana, uma vez que apenas a paz e tranquilidade o inundavam.


Em algum momento, ao alcançar um profundo estado de meditação, o adepto do estilo Musasabi Ryu permitiu-se projetar a consciência para o exterior, tal como um mergulhador que retorna à superfície após apanhar um tesouro no fundo do mar.

Assim que deixou a dimensão interior, o viajante espiritual se viu no Quarto Subterrâneo, onde o seu corpo jazia na cama de ervas. 

Ignorando o fato de se sentir um fantasma em território estranho, o viajante sondou pelos recessos das tocas. A maioria das salas parecia selada por alguma espécie de encantamento, mas todas as outras em que conseguiu se infiltrar viam-se vazias; ou, pelo menos, nelas não havia nenhum sinal dos itens que lhe pertenciam. E mesmo se houvesse, o explorador espiritual acreditava que ainda teria de lidar com a questão: como pegá-los? Mesmo que soubesse a localização exata deles, o senso comum dizia que seria inviável para um espírito apanhá-los. Sem mencionar que, se quisesse recuperar seus pertences fisicamente, teria que haver uma via oculta por onde puxá-los, mas — quando em carne e osso — somente a magia de repositum o permitia ter um breve contato com os caminhos ocultos.

Quando se cansou da sondagem pelo complexo de tocas, o viajante espiritual subiu para levitar livremente pela superfície. 

"Está tudo bem.", pensou o viajante."Podemos usufruir da verdadeira liberdade quando estamos livres dos grilhões do corpo."

Conforme concentrava-se em vasculhar o mundo ao seu redor, parte de si meditava se fora de seu interior haveria uma área apropriada para conjurar o portal que conduzia ao mundo Fauntasy — um apelido que ele mesmo dera ao plano no qual seu corpo semifauno jamais poderia adentrar. Apesar de imaginar se podia lhe surgir alguma ideia no mundo dos faunos, ele intuía que deveria fazer um reconhecimento de áreas altamente perigosas do mundo dos humanos, para que pudesse evitar ou antecipar os perigos quando surgisse uma oportunidade de regressar em carne e osso à superfície. Assim o aprendiz espiritual evitava a maioria dos problemas, tais como fossos repletos de lanças de bambu, emboscadas de tribos canibais ou bruxas sanguinárias.


O dia em que aprendera a acessar suas habilidades de esquilo em sua terra natal sempre seria inesquecível, pois era o dia em que Steve passara a desfrutar do prazer de voar. O prazer de planar alto enquanto saboreava o frescor em seu rosto sempre fora imenso, mas voar fora do corpo era sem dúvidas incomparavelmente melhor. Mesmo porque, apenas em consciência ou espírito, ele podia ir muitíssimo além do limite da copa das árvores. O fato de poder passar despercebido aos olhos espiões geralmente lhe passava uma doce sensação de calmaria, como se realmente pudesse deslizar pelos cenários com a total liberdade. No entanto...

Após vistoriar os arredores, o viajante astral testemunhou muitos eventos macabros sob o céu cinzento, muitas coisas terríveis de gelar o coração. 

Steve Holtters - A Patrulha do Alvorecer da Ordem dos FalcõesOnde histórias criam vida. Descubra agora