Will Sol... Ace

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Jason não esqueceu a história do brownie tão fácil, principalmente quando no dia seguinte a cafeteria amanheceu lotada, colocando fora de cogitação a possibilidade de sobrar comida. Pelo menos a aflição no meu estômago sumira – Percy parecia estar melhor naquele dia. Não que isso tenha me ajudado com o meu melhor amigo e sua perspicaz namorada.

- Você viu o Percy ontem? – Piper perguntou durante o jantar. Eu tinha passado o dia preparado para o ataque, mas ainda assim me engasguei com a comida. Piper riu. – Você está rosa Nico. – Ela continuou rindo, o que me deixou ainda mais envergonhado favorecendo a sua diversão.

Pelo menos Jason estava no banho – algo que não acho ter sido uma coincidência.

- Eu não o vi ontem. – Reclamei, tentando cessar seu riso. – Só mandei uma mensagem porque ele estava me incomodando. – Ela finalmente parou de rir. Tive de me segurar para não comentar o quão parecida com a mãe ela era quando o assunto era fofoca. Não era um momento apropriado para eu apanhar.

- Te incomodando como Nico? – Eu gostava disso na Piper. Ela parecia sempre estar verdadeiramente disposta a te ouvir, como se realmente quisesse fazer isso, e não como se fosse uma questão social implantada que te obrigava a perguntar o que estava chateando o outro.

- Você sabe, com essa conexão sinistra que me faz sentir o que ele está sentindo. Eu já tenho angústia o suficiente por mim mesmo para ter que lidar com os problemas dele também. – Ela sorriu compreensiva.

- O fio é ambíguo. Ele não escolhe o que transmite, só o faz. Às vezes é bom e nos ajuda e acolhe, outras é ruim e nos deprime e desespera. É difícil entender, mas somos os únicos capazes de fazê-lo, porque no fim o fio é só o fio Nico. Quem sente somos nós.

Jason voltou do banho enquanto eu ainda absorvia o que Piper dissera – não fui bem-sucedido. Não queria esconder nada dele então, por fim, expliquei a situação.

- Percy parecia mal ontem, eu senti na boca do meu estômago. De alguma forma eu sabia que era ele, e por algum motivo não gostei disso. Não de sentir aquilo, mas de saber que ele estava se sentindo mal. – Os dois se entreolharam. Jason apoiou sua mão na minha porque a angústia do desconhecido sufocava minha garganta e ele sabia. Sempre sabia. – Não sou bom em conversar, ou demonstrar apoio, ou mesmo me expressar bem, então levei os brownies até ele. – Jason fez um movimento, mas não de dei a chance de me interromper. – Deixei na portaria.

Jason riu de leve e afagou meus cabelos. Sentia-me constantemente uma criança perto dele, mas não via isso como algo ruim. Era novidade para mim ser cuidado, então sempre aceitara de bom grado.

Depois disso, Jason parecia ter finalmente me perdoado pelos brownies.

**

No dia seguinte o legado do brownie retornou; loiro, bronzeado e com a voz rouca e arrastada pedindo meia dúzia dos mesmos. Não pude evitar o pânico que bambeou minhas pernas ao reconhece-lo. Era a primeira vez que o encontrava sozinho, e ao contrário da minha expressão assustada e arisca, ele sorria.

- Nico né? Eu experimentei alguns dos brownies que tu deixou lá em casa e mano... surral. Deve curar até ressaca. – Falou casualmente, como se fôssemos íntimos. Chocado é uma palavra muito simplória para descrever o meu estado. – Ah é, ainda não fomos devidamente apresentados certo? Meu nome é Will, Will Solace. Sou primo do Percy e praticamente moramos juntos.

- Praticamente? – Foi a única coisa que consegui gaguejar. Sua beleza impedia um pouco o meu processamento de informações.

Will Solace era muito mais o meu tipo do que Percy.

- Eu meio que passo mais tempo na casa dele do que na minha. Tia Sally faz a melhor comida do mundo, e agora eu descobri o melhor doce de todos, sério... – O loiro continuou com seu monólogo, desfazendo a primeira impressão que tive dele como sendo alguém relaxado e tímido.

- Seis brownies e um café para viagem. – Interrompi. Processei o pedido enquanto ele me olhava curioso. Eu podia sentir o meu rosto começando a queimar, embora tentasse a todo custo fingir indiferença. – O que foi? – Perguntei por fim, cedendo ao meu incômodo.

Eu deveria andar com uma placa de "ser antissocial, por favor respeite".

- Consigo ver por que são almas gêmeas. – Seu sorriso era charmoso, inclusive o dente encavalado do lado direito. Era a primeira vez que notava, mesmo que o tivesse no rosto desde que chegara. Will pegou sua nota fiscal da minha mão e eu continuei travado, sofrendo do meu humilde gay panic. – Não esquece de ligar para ele, você prometeu. – Terminou, indo em seguida para o balcão onde se retirava os pedidos, me deixando mais instável que coca com mentos.

Antes de sair da loja ele acenou em minha direção, fazendo-me sentir tão afobado quanto no dia que percebi aquele fio em meu dedo. Pela primeira vez busquei conscientemente o auxílio de Percy. Meus batimentos cardíacos normalizaram-se depois de 2 minutos.

"Obrigado"

Mandei uma mensagem simples antes de voltar a trabalhar. Quando voltei a notar o celular, algumas horas depois, Percy tinha respondido.

"De nada cara"

Seguido de um contato anexado.

"Raio de Sol...ace"

Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora