Mi casa es su casa

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- Boa noite! - Cumprimentei tentando soar firme quando me sentia derretendo sob o olhar acalorado do pai de Will.

Eu estava olhando para uma cópia exata de Will daqui a 20 anos - os mesmos olhos gentis, o sorriso quadrado e preguiçoso, os cachos loiros bagunçados, a pele bronzeada e as inevitáveis rugas de quem sorria demais. A mãe dele não deve ter ficado nada feliz quando viu que carregou a criança por nove meses para ela sair uma cópia idêntica do pai.

- Boa noite Nico! Seja bem-vindo, fica à vontade. Mi casa es su casa. – Sua fala era acelerada, não condizente com a postura e aparência relaxada do senhor que eu havia esquecido de perguntar o nome para Will antes.

Como vinha acontecendo desde que eu conhecera Percy, eu estava mais uma vez no meio de uma situação fora do meu controle, que em condições normais de temperatura e pressão me fariam surtar, mas com Will ali eu me sentia diferente. Sim, meu coração batia desenfreadamente como se eu tivesse vindo correndo todo o percurso até ali, e eu me sentia quente como se tivesse de mãos dadas com o próprio satanás, mas eu estava bem. Respiração controlada e tudo. Era como se Will me fornecesse a calmaria proporcionada pelo fio, mas somente com sorrisos e gestos – não um controle divino fora do meu alcance, mas igualmente fora da minha compreensão.

Durante o caminho até sua casa Will caminhou ao meu lado enquanto passava a mão em minhas costas, deslizava-a pelo meu braço, depois apertava minha mão e então subia todo o caminho para minha nuca onde acariciava meu cabelo - quando soltava era como se algo tivesse saído do lugar que é seu por direito.

- Eu moro aqui. Pertinho né? – Falou quando paramos em frente a uma casa a poucas quadras do café. – Aquele dia que nos vimos pela primeira vez Percy e Annabeth tinham dormido aqui em casa. Estávamos de ressaca depois de passar a madrugada jogando e bebendo. Foi meu pai que comentou sobre a cafeteria para nós.

Era a primeira vez que ouvia sobre aquele dia. Percy morava relativamente perto também então sempre supus que haviam vindo da casa dele.

- Então é tudo graças ao seu pai? – Will somente sorrira antes de bater na porta.

***

A casa de Will era grande – tipo cinco apartamentos meu. A mobília era moderna e parecia mais a sede de uma irmandade da faculdade do que a casa de um pai solteiro e seu filho. Havia um bar anexo e vários jogos espalhados por todos os cômodos, incluindo duas mesas de pebolim, uma de ping-pong e todo o aparato para competições de dança no videogame.

- Meu pai tem um espírito jovem e livre. – Will disse quando passei tempo demais observando a coleção de pranchas penduradas em uma das paredes. – Por conta disso ele quase nunca está em casa. Foi como eu e Percy nos aproximamos. Eu ficava direto com ele.

Dali eu consegui tirar algumas informações.

1. Will era rico.

2. O pai de Will – Mark Apollo (eu perguntei na primeira oportunidade que tive e me arrependi profundamente porque não conseguia me dirigir a ele sem segurar o impulso de chamar "Marco Pollo") – não era alguém presente.

3. Mesmo não sendo presente, Will falava dele com bastante carinho, não parecendo guardar mágoas por isso.

Mark era animado. Ele cantava ao som de Freddie Mercury enquanto terminava de preparar as pizzas – e cantava muito bem. As únicas perguntas que ele havia me feito era se eu gostava de pepperoni e o que eu preferia, vinho ou cerveja. Escolhi Coca-Cola e ele e Will riram.

- Ele está se contendo bastante, acho que o assustei quando disse para não exagerar. – Will me contava enquanto dividíamos pedaços de queijo com azeite na mesa de janta que havíamos montado.

- Obrigado. – Eu estava extremamente agradecido por isso. Não era bom com interrogatórios. Sempre fui mais de ouvir do que falar sobre mim, então as histórias de Mark sobre os países com as melhores pizzas que ele havia visitado enquanto pincelava massas com molho e soltava falsetes era reconfortante.

Pela primeira vez em muito tempo eu estava verdadeiramente curioso sobre a vida de alguém. Eu queria saber mais sobre Will.

- Quando seu pai viaja você fica aqui sozinho?

- Em tese, sim. Meus pais se divorciaram quando eu era pequeno, com uns dois ou três anos, então somos só nós dois aqui. Minha mãe mora na Austrália e nós nos vemos somente nas festas de final de ano. Quando meu pai viaja eu fico sozinho no primeiro dia, mas logo vou para o Percy ou ele vem para cá, dificilmente passo muito tempo sozinho. – Will mexia no meu cabelo de novo e eu estava derretido. Tanto pelo carinho, quanto pela forma que ele pareceu entender tão fácil que eu queria mais detalhes, mesmo que a pergunta tenha sido tão ambígua e vaga.

- Minha mãe faleceu quando eu tinha cinco anos. Eu sou o irmão do meio, mas moro com Jason já faz um tempo. – Comentei querendo compartilhar um pouco da minha vida assim como ele estava fazendo. Com confiança.

- Achei que fosse filho único. Tirando o Jason, claro. – Eu ri.

- Tenho duas irmãs, Hazel e Bianca. Bianca está na faculdade então nos vemos só nas suas férias quando ela vem para casa. Hazel está terminando o colégio e mora com meu pai. Nos falamos pelo telefone todos os dias, mas mensagens, odiamos ligações.

- Vou me lembrar disso. Sem ligações. – Ele sorriu e eu quis me estapear.

- Você pode ser a exceção. – Soltei acanhado enquanto observava Mark pelo canto do olho, ocupado demais para prestar atenção em nossa conversa. Seu sorriso se alargou de uma forma que não achei que fosse possível.

Uma ligação com Will era a mesma coisa que o ter sussurrando no meu ouvido...não consigo ver pontos negativos nisso.

- Ok, pizzas no forno. O que acham de um jogo? – Mark sugeriu enquanto trazia mais uma latinha de coca para mim, embora eu ainda não tivesse terminado a anterior.

- Ele quer te agradar. – Will sussurrou para mim enquanto seguíamos seu pai em direção a uma das mesas de pebolim comigo carregando as duas latinhas, uma em cada mão.

Eu normalmente me sentia inquieto quando recebia tanta atenção assim, mas nesse caso eu podia ver que era algo genuíno, um cuidado paternal de alguém que queria agradar a pessoa que estava saindo com seu filho e isso me fez sentir quentinho. Mark era alguém que sabia da sexualidade de seu filho e o aceitava, mais do que isso, o apoiava.

- Obrigado! – Agradeci uma vez mais lhe tomando os lábios em um beijo rápido. Eu não sabia bem ao que estava agradecendo, se era pelo convite, pelo cuidado que ele estava tendo comigo, pelo carinho de seu pai ou por não ter tocado no assunto "meu pai". Talvez fosse tudo. Tudo até ali e tudo que ainda viria.

Porra, to boiola. 

Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora