𝑆𝑇𝑅𝐴𝑁𝐺𝐸𝑅𝑆, Cameron.

8.

{ EMMA }

Os meus cabelos estavam atados num penteado feito por Sarah, o meu corpo recebia os raios de sol fazendo a minha pele brilhar, estava sentada numa das arestas da cama, a brisa quente que entrava pelas janelas abertas faziam os cortinados transparentes esvoaçarem.

"Meu deus, estou apaixonada por uma mulher." comenta Sarah fazendo-me rir.

Estava a fazer uma campanha completamente sozinha para uma das marcas que me tinha enviado alguns produtos, biquínis e maiôs pois sabiam das minhas férias de alguma forma. Ofereci-me para fazer a propaganda junto com Sarah que iria ser a minha fotógrafa e Whezzie logo se voluntariou para tratar dos acessórios e tudo o que iria usar. A verdade é que o biquíni branco que ela tinha escolhido para mim junto com as jóias de ouro ficavam demasiado bem. Apoio as mãos na cama a frente do corpo deixando as pernas um pouco abertas e olho para a câmara do telefone, fazia tudo aquilo que as garotas a minha frente mandavam. Qualquer pose, cara ou gesto.

"Vocês não querem vir fazer a atividade?" Rafe entra pelo quarto e fica parado no mesmo segundo.

"Oh merda Emma, esta ficou simplesmente linda." Sarah exclama ignorando Rafe.

"Não sabia que estavam a tirar fotos, desculpem." dá um passo atrás sem tirar os olhos de mim.

Engoli em seco não tirando também os olhos dele, estava com o seu boné e uma camisa branca aberta, trazia a carteira e o telefone na mão direita. Os músculos ficaram tensos e eu pude reparar pois os braços estavam destapados. Acabei por desviar o olhar e levantar-me da cama dando passos largos até a loira.

"Já terminamos." respondo e seguro no aparelho e viro costas até a enorme varanda que tinha visão para a praia a frente.

"Então vêm?" pergunta.

"Vamos!" Sarah responde e ouço a mesma pegar em alguma coisa.

Mantive o meu olhar preso nas fotos colocando um coração naquelas que eu gostava mais e que achava que o editor ia gostar também para as editar e enviar para a marca.

"Em? Vens?" Sarah pergunta.

"Hm... Não." apoio os cotovelos na madeira da varanda.

A porta fechou e eu soltei todo o ar que prendia na minha garganta. Só depois de tanto tempo me apercebi que sustinha a respiração. Merda. Pouso o telefone e olho em volta no quarto tentando arranjar um ponto para tirar a imagem de Rafe da minha cabeça. Parecia que nada ajudava e tudo me fazia lembrar daqueles olhos azuis presos em mim, a analisar cada centímetro do meu corpo. Olhei o meu corpo no espelho e tombo a cabeça para o lado, já não sabia o que era ser tocada por outras mãos se não as dele. A verdade é que não queria outras mãos a tocar o meu corpo, queria as dele.

"Merda Emma para! Ele tem alguém." repreendo-me e caminho de volta para o meu telefone onde peguei e digitei o número de Maybank.

Demorei alguns segundos a encarar o ecrã com o nome dele ali presente, o meu polegar detinha-se, por alguma razão, para carregar no botão de ligar. Os meus dentes prendiam o lábio debaixo e o meu coração batia a mil.

"Estás a demorar para lhe ligar." viro-me rapidamente para trás.

"Rafe? Que merda?" dou um passo atrás.

"Também exitavas assim quando era para me ligar?" dá um passo em frente.

"Eu não estava a exitar. Eu ia ligar-lhe! Ia ligar-lhe e contar sobre o meu dia, se ele quisesse mostrava todas as fotos e vídeos que tirei deste sítio para ele ficar feliz por mim. E depois vou perguntar sobre o dia dele e ouvir com toda a minha atenção!" aperto o telefone contra a minha mão.

"Hm... Será que ele te ia elogiar por estares assim? Se calhar só ia querer saber do porquê de estares assim e ignorar todo o resto, talvez nem fosse falar do dia dele. Ia ficar demasiado apagado com a imagem que ia ter de ti." sorri.

"Ele ia sim elogiar, e ia sim querer saber do meu dia tanto quanto contar o dele!" respondo indignada.

"Não me parece que ele seja alguém virado para essas coisas, Emma." dá de ombros.

"Ele é! Ele ouve-me, sabe das coisas que eu gosto e..." sou interrompida pela risada de Rafe.

"Ele sabe que odeias as bordas do pão? Ele sabe que amas morangos com muito açúcar? Ele sabe a tua música favorita? Sabe a tua cor favorita? Ele sabe a coleção de livros que tens e que usas cores para destacar as frases nos livros? Ele sabe que tens um sinal no dedo mindinho do pé? Ele sabe qual é o teu maior medo?"

O meu coração falhou uma batida, estava sem palavras, as minhas mãos tremiam e os meus olhos não soltavam os dele. Estava agitada tanto por fora como por dentro.

"Ele sabe onde gostas de ser tocada Emma? Ele aprendeu alguma coisa no tempo em que esteve contigo? Ele reparou em algum detalhe teu? Ele sabe que quando choras ficas com a ponta do nariz vermelha? Já lhe contaste o que gostavas de fazer?"

"Não temos essas conversas." viro costas colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha.

"Ele sabe que o teu coração só acelera comigo?" segura o meu pulso com cuidado.

Fecho os olhos e obrigo o meu corpo a não se arrepiar com o toque, obrigo-me também a acalmar mesmo que isso seja impossível. Tudo o que consigo fazer é comprimir os lábios e esforçar-me para não cair no jogo mental que ele está a fazer comigo.

"Não devias estar com a Marie?" falo entre dentes.

"Devia, mas é aqui que quero estar." responde e eu viro-me para ele.

"Ela sabe que estás aqui? Ou é como o JJ? Não sabe de nada teu." encaro-o.

"Acredito que seja como JJ, mas acredito ainda mais que tu sabes mais de mim do que eu próprio, porque reparei na forma como me olhaste e sei com todas as certezas que se fechasses os olhos ainda ias conseguir ver-me ao menor detalhe."

"Não." abano a cabeça de forma negativa.

"Ele sabe quando mentes? Porque eu sei. E acabaste de mentir." estala e eu olho-o novamente.

"Como Rafe? Como?" dou de ombros.

"Não me olhas nos olhos como estás a olhar agora." sorri.

"Isso não é verdade!" desvio o olhar e repreendo-me mentalmente.

Ele ri e solta o meu pulso.

"O que queres?" limpo de forma discreta o suor que se acumulou nas minhas mãos.

"Tanta coisa. Mas a principal é pedir desculpa."

"De quê?" dou de ombros.

"Por ser um idiota, por ter quebrado a nossa promessa." aproxima-se, mas eu afasto-me.

"Eu sabia que ias quebrar a nossa promessa." respondo.

"Então porque me fizeste prometer?"

"Porque queria ver até que ponto conseguias substituir-me. Talvez me quisesse magoar a mim mesma para parar de te amar e criar ódio. Funcionou."

"Nunca te substitui Emma! És insubstituível e sempre serás. E estás a mentir de novo, não me consegues odiar." abana a cabeça de forma negativa.

"Eu odeio-te sim Cameron, odeio-te com todas as minhas forças, porque tu não sais daqui, estás em todo o lado até quando estás do outro lado do mundo. Odeio-te por teres alguém, por dares a esse alguém o que devia ser meu! Odeio-te porque não consigo parar de te amar. E odeio-te por ter de viver contigo na minha cabeça." aponto.

"Então porque é que te forças a estar com ele?" aproxima-se mais.

"Da mesma maneira como te forças a estar com ela. Do jeito que nunca me poderás ter, outra pessoa vai ter. Tens de lidar com isso porque eu tenho de lidar." cerro os punhos batendo contra o peito nu dele.