Voltar para o escritório foi um alívio, mas Harry não podia se dar ao luxo de perder mais tempo. Ele derramou a próxima memória na penseira e mergulhou, tentando preparar seu coração para o que sabia que viria. Conhecer o fim da história era extremamente doloroso.
Tom estava sentado próximo à janela, lendo, quando uma coruja pousou e bateu com o bico no vidro. Ele olhou para os lados, tentando perceber que alguém mais notou o animal, mas as demais crianças pareciam preocupadas com o programa na tv ou o café da manhã. Assim que abriu a janela a coruja despejou um envelope que caiu aos pés dele e saiu voando.
O menino pegou o envelope e levou para o quarto, não havia ninguém lá além dele naquele momento. Aparentemente aquela não era a primeira carta que Tom recebia, Harry chegou a pensar que o destinatário poderia ser a Lizie, mas ela não tinha nenhuma gaiola com ela quando voltou de Hogwarts e sua família é trouxa, então não teria como ser deles.
Harry se aproximou para que pudesse ler a carta, quando Tom puxou o pergaminho de dentro do envelope o mesmo recorte de jornal que estava na maleta caiu no chão. O garoto se abaixou para pega-lo, mas sua mão congelou no meio do caminho. Os olhos dele seguiram a manchete e com as mãos tremulas ele recolheu o pedaço de jornal do chão.
Tom deixou-se cair na cama que rangeu com o peso repentino. Ele voltou sua atenção para a carta e Harry aproveitou para lê-la também.
"Tom, eu sinto muito que seja eu a te dar essa notícia, encontrei esse jornal em uma banca e quando reconheci a foto pensei que você precisava saber. Ela nem teve tempo de usar magia para se defender e o Profeta Diário nem se deu ao trabalho de comentar o caso. O que você pretende fazer a respeito?"
Os olhos de Tom estavam muito vermelhos e injetados, como se ele estivesse lutando para não chorar. Ele amassou a carta e jogou para longe, depois olhou para o recorte de jornal e tentou amassa-lo também, mas não conseguiu. Um grito horrível escapou da garganta dele enquanto caia de joelhos. Harry sabia exatamente como Tom se sentia, foi o mesmo que ele sentiu quando Belatrix matou sua única família. A dor contida naquele grito foi algo que Harry nunca imaginou ouvir vindo do homem que um dia seria Lord Voldemort, mas ele entendeu que foi a partir deste momento que Riddle se transformou. Ter a única pessoa que ele amou retirada dele de maneira tão brusca foi o que o transformou em Voldemort. Quando Sirius morreu ele ainda teve Lupin e seus amigos para ajudá-lo a superar. Ele ainda tinha Gina.
Eles escutaram o som de passos apressados no corredor, algum funcionário do orfanato deveria ter ouvido Tom gritar, ele se levantou com dificuldade e virou o guarda-roupa para que caísse bloqueando a porta. Todo o conteúdo que estava dentro se espalhou pelo chão e Tom começou a rasgar tudo o que viu, ele pisou, amassou e quebrou tudo o que podia. Do lado fora gritos podiam ser ouvidos e alguém tentava forçar a maçaneta.
Após destruir tudo o que podia Tom caiu novamente na cama amassando o recorte de jorna contra o peito, ele chorou por um longo tempo até ouvir alguém batendo na porta.
"Tom, sou eu o Professor Dumbledore, posso entrar?"
Harry ficou surpreso ao saber que Dumbledore estava lá, mas Tom não se mexeu. O armário que estava bloqueando a porta flutuou de volta para o seu lugar, dando espaço para que o homem pudesse entrar.
"Os funcionários me ligaram, estão com medo de você. O que aconteceu Tom?" Dumbledore perguntou se aproximando da cama do menino.
"Accio." O jornal nas mãos de Tom saiu voando até Dumbledore e Tom reagiu imediatamente.
Ele levantou como um animal que acabara de ser ameaçado e atirou-se em cima do professor.
"Devolva."
Dumbledore só precisou de um momento para ler o que estava escrito e devolveu o papel a Tom que o agarrou novamente.
"Eu sinto muito Tom."
"Vá embora." O menino respondeu com raiva.
"Deixe-me ajuda-lo, tenho certeza de que Lizie não iria querer vê-lo assim." O professor tentou.
"Como você pode saber? Nenhum de vocês nunca se importou, forçaram ela a voltar para aquela casa mesmo sabendo como ela era tratada. Agora vão ignorar o caso e deixar na mão da polícia dos trouxas." A cada palavra a voz de Tom aumentava de intensidade e o quarto começou a tremer. Dumbledore se manteve calmo, mesmo diante da explosão do menino.
"Ela era uma bruxa, ela merecia muito mais do que isso." A voz de Tom falhou e os soluços vieram um atrás do outro.
"Sim, ela merecia." Dumbledore tentou se aproximar de Tom, mas o menino deu passo para trás.
"Eu te trouxe uma coisa Tom." O homem retirou uma outra carta de dentro das vestes e entregou para o menino que o abriu com a mãos trêmulas.
"Você só pode estar brincando, acha mesmo que isso vai me calar?" Tom perguntou jogando o envelope e seu conteúdo de volta no professor. Harry pode ver um objeto brilhante sair voando de dentro do envelope, o distintivo de monitor.
O menino foi andando até a janela e se virou com os olhos fechados para não ter que encarar o professor.
"Eu não estou tentando cala-lo Tom, você tem todo o direito de estar zangado e sofrendo, eu apenas quero te dar a oportunidade de fazer a diferença. Você é um bruxo brilhante e eu não tenho dúvida de que fará grandes coisas. A escolha está em suas mãos agora Tom." Com um aceno de varinha Dumbledore concertou todas as coisas quebradas do quarto e colocou tudo no lugar. Os envelopes flutuaram de volta para a cama de Tom.
Depois de olhar uma última vez para o menino Dumbledore saiu do quarto e fechou a porta.
Tom abriu os olhos novamente e Harry reconheceu imediatamente o brilho que havia neles. O mesmo que nunca deixou os olhos de Voldemort.
"Você tem razão professor, eu farei grandes coisas."
A força com que Harry foi arremessado para fora da memória jogou-o contra a porta do escritório. Ele escorregou pela madeira até atingir o chão e encolheu os joelhos contra o peito. Desta vez os soluços estavam vindo dele, assim como o choro.
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As memórias de Riddle
FanfictionTodos temos algo que queremos esquecer, mas Tom Riddle foi mais longe. Ele a apagou completamente de sua memória. Só assim poderia continuar com o seu plano. Só assim poderia se tornar aquele que não deve ser nomeado. Dez anos após a morte definitiv...