XL

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Jade já estava pronta para se deitar e tentar dormir, o que ela com certeza estaria longe de fazer já que mais uma vez não havia tido notícias sobre o estado de sua mãe.

Fitou Holly por um momento vendo que a mesma já estava em um sono profundo. Sabia que mesmo se tentasse, dormiria apenas por duas ou três horas, estava sendo assim nos últimos dias e Jade se odiava por cultivar sentimentos tão ruins. Se alguém da igreja soubesse a julgaria dizendo que ela não estava crendo no Deus que servia. No entanto era difícil para Jade se manter com pensamentos positivos não sabendo do que se passava do lado de fora.

Após virar-se por tanto tempo na cama, desistiu de tentar dormir e levantou-se saindo do quarto para tomar um copo d'água e quem sabe rezar mais um pouco na igreja.

Assim que Jade saiu da cozinha, apertou o roupão branco no corpo e seguiu para a igreja, talvez alguma irmã estivesse por lá fazendo vigília mas não se importava, mesmo que usando apenas pijama. Algumas mulheres do lugar estavam compadecida com a freira então uma simples roupa não iria atrair olhares maldosos.

Ao entrar no lugar Jade pode percebe que a única luz do ambiente era apenas na parte dos fundos, assim como a melodia quem inundava o templo vindo do piano ao qual a sua tortura constante de bloqueios sentimentais tocava. Perrie estava totalmente concentrada nas notas que comandava e Jade mesmo sabendo que deveria dar dois passos e se retirar dali, continuou andando em direção da loira de traços angelicais.

Perrie estava totalmente centrada no que fazia, que nem percebeu quando Jade se aproximou, apenas sentiu quanto alguém se sentou ao seu lado fazendo com que levasse um pequeno susto e parasse com o que fazia. Ao fitar a freira ali com um olhar caído olhando para as teclas do teclado, mordeu o lábio por dentro dando um suspirou baixinho.

— Esse louvor é lindo. – Jade disse baixinho com seu olhar no piano.

— Na verdade, é Avril Lavigne... Innocence. – Perrie murmurou sem graça coçando o pescoço.

— Ah. Acho que não conheço. – a freira deu um pequeno sorriso e enfim olhou para Perrie, sentindo o ar ameno assim como um reboliço no estômago.

Havia ficado tanto tempo longe da loira que a sensação de estar pertinho chegava a tremeluzir seu interior entre cócegas um frio gostoso.

— Por que ainda está acordada? – a loira perguntou desviando seus olhos do castanho. Era nítido para Jade que Perrie estava com algum impasse com ela.

— Não é como se eu estivesse conseguindo dormir direito por esses dias. – a freira respondeu com um leve dar de ombros.

— Oh sim, sinto muito. Por tudo isso. – Perrie tinha sua atenção nas teclas as tocando levemente sem realmente pressiona-las.

Jade suspirou, havia sentado no banco com uma perna de cada lado de frente para Perrie, com um movimento se achegou para mais próximo da garota, e pegou uma mão livre da mesma olhando para ela ao fazer um pequeno carinho.

— Não sei o que padre Ramiro lhe falou, mas quero deixar claro aqui que nada disso é sua culpa, fui eu quem comecei tudo isso ao te beijar e...

— Espere. – Perrie a parou, encarando a freira, mesmo que ela estivesse com sua cabeça baixa. — O padre não me contou nada e não é sua culpa, Jade. Por favor para de se sentir assim. – Perrie levou uma mão ao queixo da freira levantando seu rosto. — Preciso te dizer uma coisa, você pode me odiar depois mas eu não quero carregar isso comigo. – disse ao fitar com atenção os olhos da morena.

Jade juntou levemente suas sobrancelhas e deu um fraco aceno. Não sabia do que Perrie estava falando mas com certeza não a odiaria. Jamais faria isso.

Com um suspiro pesado, Perrie tirou a mão de seu rosto e voltou a encarar o piano um tanto receosa.

— Aquele dia no confessionário, não era o padre Ramiro quem estava lá. E sim eu. Eu quem a ouvi se confessar, Jade. – a loira mesmo apreensiva disse sem rodeios. — Holly estava preocupada com você e se o padre soubesse seria pior, por mais que acredite que fez o certo e que as pessoas daqui lhe julgariam com compreensão, devo te dizer que não, Jade, elas não fariam isso.

A morena tinha seu cenho franzido, e rapidamente soltou a mão de Perrie passando a lembrar-se de tudo que falou aquele dia.

— Então... então você sabia que eu queria me afastar, mas foi porque eu te falei e não porque o padre quem contou algo. – disse em voz alta, mas ainda estava pensando sobre o dia em questão. — E não foi ele ao concordar. Foi...

— Sim. – Perrie soou com a voz fraca. — Sinto muito, eu só não queria vê-la se culpando dessa forma quando na verdade não é responsabilidade sua.

Jade respirou fundo, soltando o ar de forma lenta. Pensou nas palavras que Holly havia lhe dito e em tudo que estava acontecendo. Se não era culpa sua, o que era tudo aquilo? Não se conteve sentindo quando seus olhos marejaram e uma lágrima solitária lhe escapou.

— Desculpe Jade, eu só aceitei fazer aquilo porque não queria ver você em encrencas maiores. – Perrie falou pesarosa acariciando o braço da freira, vendo a mesma com uma cara de choro.

Estava ligeiramente tensa, não sabia o que fazer e não queria ver Jade chorar.

— Eu entendo, está tudo bem. – Jade disse baixo limpando rapidamente a lágrima que escorreu. — É só que, eu tenho estado uma bagunça desde que descobri sobre minha mãe e  fica pior ainda sem ter notícias dela, e a madre também não me deixa sair, e tem v... – a freira parou olhando Perrie por alguns instantes, mas baixou a vista novamente. — Tem tantas coisas, eu só queria saber como ela está e eu não posso ir atrás disso. A madre nunca permitiria.

Perrie se moveu no banco ficando com uma perna de cada lado também e de frente para Jade, logo a morena a puxou para um abraço protetor.

— Holly me disse sobre isso. Mas não concordo. – Perrie murmurou sobre os cabelos da morena, tendo a mesma a abraçando com tanta força e saudade, que chegou sentir seu corpo tremer levemente. — Mas não fique assim ela deve estar bem. E não se preocupe, logo toda essa bagunça vai acabar. As coisas vão se organizar, tá bom? – disse baixinho para Jade e a mesma assentiu. — Eu estou aqui com você, Jay. – disse ao beijar o topo da cabeça da morena.

Jade fechou seus olhos por um momento aspirando fundo.

— Me desculpe por querer me afastar de você, é só que... eu achei...achei que seria o ideal. – murmurou com a voz embargada.

— Tá tudo bem, Jay. – Perrie disse de forma carinhosa.

Jade ergueu seu rosto dando um fraco sorriso, e Perrie a olhou vendo seus olhinhos brilhantes. Acariciou o rosto da freira levemente, logo secando o cantinho de seus olhos e viu quando a mesma abriu um pouco mais do sorriso. Seus olhares então se prenderam em uma intensidade admirável.

Agarradas aquele frenesi, ambas foram se aproximando simultaneamente até estarem com suas testas coladas e respirações em desordem. Talvez o coração de Jade estivesse acelerado igual o de Perrie mas a morena julgava que o seu pudesse estar muito mais.

Como começou, juntas aproximaram as bocas até que os lábios estivessem em contato sentindo um ao outro. Como um próximo passo, Jade capturou os ombros de Perrie juntando ainda mais os corpos. A morena então aprofundou o beijo dando um suave suspiro aos sentir a morena retribuir na mesma saudade.

Tudo parecia ser tão intenso e único quando estava com Jade que não sabia dizer qual das duas estava se entregando mais naquele beijo.

Quando separaram, Perrie voltou a abraçá-la contra seu peito como se pudesse acabar com toda tristeza que a freira sentia com o simples gesto. Sabia que para Jade ter um pouco de paz interior precisaria dar um jeito de levá-la até a mãe para ver como ela estava. E isso era algo que Perrie já maquinava em sua mente para fazer no dia seguinte.

Agora em questão as duas, havia apenas uma coisa que Perrie poderia fazer, por mais difícil e doído que fosse.

Pensar naquilo a fez engolir em seco, apertou Jade ainda mais em seus braços aproveitando do cheirinho da garota, tentado ao máximo guardar daquele momento em sua memória.

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