The Truth

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— O clima em Istambul nas próximas semanas irá... — a voz da apresentadora da TV parecia distante na mente de Seher, mesmo o aparelho eletrônico estando a apenas 2 metros de distância dela.

Uma chuva torrencial caía lá fora, fazendo a casa inteira tremer com o barulho dos trovões e raios que iluminavam a noite escura. O aquecedor da sala da casa de Fikret estava ligado, mas nem mesmo o calor que ele emanava conseguia aquecer o frio que ela sentia por dentro.

Durante os meses Seher sentia esse frio congelar cada vez mais seu coração. Era como se as farpas de gelo perfurassem o órgão, fazendo-a experimentar uma dor insuportável. Uma dor que superava qualquer dor física.

Cada palavra que saiu da boca dela contra Yaman parecia voltar com o dobro do impacto para ela. Devido às exigências de Canan, ela foi obrigada a machucar o amor de sua vida. Dia após dia ela precisou se manter firme diante dele e falar as coisas mais absurdas que poderia falar para alguém.

O semblante triste no rosto dele após cada uma das agressões verbais parecia assombra-la. Ela sequer conseguia dormir a noite por causa daquilo, e quando conseguia, era atormentada pelos pesadelos. As lágrimas que Yaman derramou diante dela pareciam afogá-la em um mar tempestuoso.

Dois meses haviam se passado desde a última discussão que tiveram. Na ocasião, ela havia dado a última cartada ao falar que não o amava mais. Ironicamente, enquanto ela falava essas palavras, o amor que sentia por ele parecia explodir em seu coração. Se ela estava fazendo aquela tortura era por amor a ele. Ela preferia viver em um mundo em que ele estivesse vivo e odiando-a do que em um mundo em que ele estivesse morto. Seher poderia lidar com o ódio dele, mas nunca poderia lidar com a ínfima possibilidade da morte de seu amado.

— Tem certeza que não vai querer o chá? — a voz de Fikret a assustou.

— Não. — Ela o observou se apoiar na soleira da porta e olhá-la.

— Está com insônia de novo? — ele perguntou, mas seu tom deixava claro o que ele queria dizer. Fikret estava ciente do quanto Seher tentava evitar dormir, por puro medo de encarar o tormento de seus pesadelos.

— Quando esse pesadelo acabar, vou ter tempo para dormir. — Ela falou enquanto olhava suas mãos. A aliança já não estava mais lá, mas Seher quase podia sentir a presença do círculo dourado.

— Depois de amanhã os resultados do exame dele sairão. — ele suspirou. — em breve saberemos se seu corpo aceitou o fígado novo e você poderá voltar para sua família.

— Espero que seja tão fácil quanto pareça. — Ela falou tristemente.

Canan havia doado parte de seu fígado para Yaman há cerca de um mês. Durante todo esse período ele havia passado por uma série de exames, mas apenas esse último feito há alguns dias seria decisivo. Se o corpo dele se adaptasse ao novo órgão, então nenhum problema em relação a isso seria detectado. E Seher finalmente poderia ir até ele sem medo de machucá-lo mais do que já estava machucado.

Durante as últimas semanas, ela e Fikret haviam montado um dossiê com tudo que tinham para incriminar Canan. Com a promessa de explicar posteriormente, Seher também pediu a ajuda discreta de Nedim, que concordou após ver o quanto ela parecia sincera. Ela sabia que, em outros tempos, Yaman acreditaria nela, mas devido a situação em que estavam, ela precisaria de todo tipo de prova física para convencê-lo de que fora obrigada a deixá-lo.

Por isso, ela havia armazenado os laudos entregues a ela sobre o veneno que Canan havia dado para o filho. Também reuniu informações a respeito do remédio que sua sogra tomava, remédios estes que nada tinham a ver com o tratamento do câncer inexistente. E por último, a gravação de voz.

Histórias Independentes (SehYam)Onde histórias criam vida. Descubra agora