Capítulo 5

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— Dá pra me dizerem logo o que está acontecendo aqui? — Falo irritada.

— Que droga, Sam! Você não tem que saber de tudo que acontece com a gente! — Lia exclama, o que me deixa totalmente perplexa, de boca aberta e olhar retardado. Olho para o meu almoço no prato sem ter a mínima noção do que dizer.

— Entendi... — Falo devagar enquanto balanço a cabeça afirmativamente. — Entendi... Vocês são meus melhores amigos há anos e têm o direito de saber tudo que acontece comigo, mas eu não. Eu não posso saber de tudo sobre vocês porque não tenho esse direito, né? — Nego com a cabeça e encaro Vitor totalmente triste por ele não ter falado nada pra me deixar melhor. — Estou saindo então. Podem conversar à vontade, não vou mais chegar no momento em que estiverem sozinhos falando de segredos que eu não devo saber, prometo que não faço mais isso. Vou tentar não me preocupar com o que está acontecendo com vocês e sempre dar espaço para conversarem em paz, sem a minha presença. Desculpa por ter aparecido e estragado com tudo.

— Viu como você é dramática? Tudo faz um escândalo! — Lia rebate.

— Não é escândalo. Não é drama. É só decepção. Muita decepção. Só por saber que meus melhores amigos estão de segredinhos contra mim e não tem a mínima vontade de dividir as coisas comigo. Na verdade, eu estava na intenção de contar pra vocês o que está acontecendo comigo ultimamente, coisas que não aconteceram em nenhum momento da minha vida antes, mas já que não faço mais parte do grupo de vocês, também não devem querer saber. — Confesso que estou sendo dramática, infantil e egoísta, mas na hora da raiva as pessoas falam tanta besteira, né? Infelizmente às vezes não consigo controlar o que digo, mas não é mentira que estou realmente triste por Lia não querer dividir esse segredo comigo, já que somos amigas desde crianças.

— O que está acontecendo? — Vitor pergunta achando, com certeza, que eu sou idiota. Olho séria para ele, mas logo pego meu prato e me afasto na mesa.

Certo! Talvez eu esteja me precipitando, mas nós três somos melhores amigos há tanto tempo... Pensei que sabíamos tudo um do outro, e não que eles dois ficavam escondendo coisas de mim. E não é frescura! Eu simplesmente tenho o direito de saber, até porque não escondo deles o que acontece comigo, por que eles escondem de mim?

O problema também é que agora eu vou ficar sem companhia aqui, porque pelo que eu conheço da Lia, ela é orgulhosa demais pra vir me pedir desculpas e me contar o que está realmente acontecendo, e o Vitor... É, talvez ele venha falar comigo e me pedir desculpas ou tentar me acalmar; sempre que eu e Lia nos desentendemos ele consegue nos convencer a voltar atrás.

Vish, aí tem coisa! — Samuel fala assim que sento ao seu lado. Reviro os olhos. — O que foi, Samuela?

— Para! — Exclamo em voz baixa. Pela visão geral percebo que ele está me encarando, provavelmente tentando entender, ou melhor, adivinhar o que está havendo.

— Qual é, Sam? O que aconteceu? — Pergunta ainda me encarando, com as sobrancelhas franzidas.

— Não posso mais sentar com o meu irmão para almoçar? — Pergunto.

— Ah tá... — Fala ironicamente, como se isso fosse motivo para eu sentar junto com ele, e ele me conhece muito bem, porque realmente não é. Samuel sabe perfeitamente que quando Vitor e Lia estão por perto eu quase nunca fico junto com ele, até porque passo mais da metade do meu dia vendo esse rosto lindo que ele tem. — Entendi... — Fala olhando ao redor e se erguendo um pouco do banco, provavelmente procurando meus amigos. Respiro fundo e volto a comer.

— Samuel. — Chamo depois te um tempo. Ele olha para mim e espera que eu termine de mastigar e engolir a comida que está na minha boca. — Você não tinha dito que pegou um violão com um amigo? — Ele afirma com a cabeça. — Esse amigo se chama Hugo?

Ele franze as sobrancelhas. — Aham... Por quê?

— Conhece ele de onde?

— Ele é amigo do Lucas e toca na banda da igreja dele, o conheci há um bom tempinho. Às vezes a gente ainda marca de sair pra passear. Mas por que você quer saber?

— Só queria saber quem era o amigo.

— Pra quê, Samuela?

— Ah não! Não começa! — Reclamo, voltando a me irritar.

— Não começa, nada! Eu te conheço. Você quer alguma coisa. Vou até falar com ele já.

— Epa, epa, epa! Nem vem! — Finjo estar irritada com ele, mas no fundo sei que está apenas tentando me distrair.

— Então conta.

— Meu Deus! Isso é paranoia, sabia?

— Não é não. É interesse fraternal. — Reviro os olhos depois dessa e finalmente sorrio. — Vai... Pode falar, estou esperando.

Aff! Eu fui pegar o violão lá no quarto, mas quem estava tocando era ele. — Falo rápido, resumindo o máximo que posso.

— Foi ao meu quarto?

— Não, ao dá vovó.

— Mas a vovó nem veio...

— Há há! Muito engraçado, você! — Falo levantando do banco e pegando minha louça pra lavar.

— Ah, lava a minha também! — Olho monótona pra ele. — Por favor... — E faz uma cara de gato de botas do Shreek. Bufo e tiro o prato da mão dele.

v

Depois que lavo as louças volto para o dormitório, e assim que chego ao quarto me alivio ao lembrar que eu e a Lia não ficamos juntas, senão o clima iria ficar muito pesado entre nós.

Ontem ela já havia deixado pistas de que estava com algum segredo com o Vitor, mas eu tinha certeza que eles iriam me contar, por isso não recuei quando os vi conversando sérios na hora do almoço, sentei ao lado deles e toquei nesse assunto, mas eles não quiseram me contar de forma alguma, e acabamos perdendo a paciência um com o outro. Deu no que deu.

Lembro que as provas já irão começar então coloco uma roupa mais leve, que dê pra realizar alguma atividade, e vou até o salão.

Os grupos já estão separados, mas nem todos os componentes estão presentes. Não demoro muito para avistar alguns braços com pulseiras brancas e logo vou até eles.

— Oi Sam! — Hugo fala sorrindo e abrindo os braços, mas ao invés de abraça-lo, apenas estendo a mão para cumprimenta-lo, o que faz dois meninos que estão perto de nós começarem a rir.

— Pessoal! — Ouvimos a voz do André no microfone. — Já estão todos aqui? Acho que ainda não, né... Quem ainda não chegou tem mais cinco minutos. OUVIRAM? — Ele grita no microfone, causando uma microfonia básica. — Vamos iniciar nosso primeiro dia de provas. Quem será que vai sair na frente? — Ele pergunta e ouço vários jovens começarem uma gritaria. É... Pelo visto estão muito animados!

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