A Rainha da Neve

Trégua

A princesa Lynae Heikki é deixada sozinha em sua festa de boas-vindas.

A aliança entre Snöland e a nossa pátria, Grã-Francia, pode não ser duradoura, assim como o noivado do príncipe regente Ryland com sua noiva, Lady Lynae.

O descontentamento dos grão-franceses com a possibilidade de uma rainha snölesa cresce cada vez mais.

A Grã-Francia não pode aceitar um inimigo sentado no trono ao lado de nosso rei.

A aceitação de Lynae em território grão-francês é quase nulo.

E esses foram apenas alguns dos trechos mais marcantes da matéria que o jornal da Grã-Francia publicara naquela manhã.

Após acabar de ler a matéria, Lynae jogou o jornal na cama com todo a força, mas ele acabou quicando no colchão e caindo no chão, trincando sua tela. Ela xingou, mais alto do que pretendia, mas não ligava se Erik ou Axel soubessem de sua boca suja.

Faça-se essencial, Lynae. Alguém sem valor não dura muito tempo. Fora o que a rainha dissera a ela.

Mas como se faria essencial para um povo que a odiava apenas por nascer snölesa?

Snöland tinha sido inimigo da Grã-Francia na guerra, mas isso tinha sido há anos! É claro que, houve uma grande chacina no país francês por parte de Snöland, mas era uma guerra, pessoas morriam. A Grã-Francia também matara muitos.

Por mais que Lynae tentasse se convencer de que era só isso, ela sabia que não. Snöland passara dos limites várias vezes. Uma delas foi extremamente marcante. Uma vergonha que manchava o reino de neve para os demais países, e que também manchava Lynae. Mas ela não tinha culpa.

E se descobrissem sobre ela? Nesse caso, ela seria totalmente inútil a rainha Emilie, porque não haveria a menor possibilidade de o povo grão-francês aceita-la. E o que aconteceria com ela?

Lynae não gostava nem de pensar sobre isso.

Steven percebeu, logo no café da manhã, que aquele seria um daqueles dias.

Sua mãe, apesar do jeito calmo com que conversava com o rei e a rainha de Snöland, possuía a veia de sua testa saltada, como sempre ficava quando algo a irritava profundamente – em geral a falta de tato de Ryland em lidar com as coisas –, o que deixava ela alheia a quase tudo, dando respostas vagas e sorrisos falsos. Mas Steven achava que ninguém reparava tanto nisso, além da família.

Mitchell estava com sua "cara de pai", como Oliver zombeteiramente chamava quando o irmão mais velho ficava com aquele semblante de preocupação e prestava duzentas vezes mais atenção em Lou e em Eddie, como se os usasse para esquecer seus problemas.

Ryland estava do seu jeito ansioso nervoso. Isso acontecia quando alguma coisa não saia do que jeito que ele queria ou simplesmente quando estava trabalhando demais. Quando ficava desse jeito, ele ficava mais distraído do que o normal, era preciso chamar sua atenção cinco vezes antes que ele olhasse.

Ele balançava sua perna freneticamente, mexia em alguma coisa o tempo todo com as mãos e seu maxilar ficava tenso e rígido. Mas naquele dia, Ryland estava essencialmente mais nervoso que ansioso.

Até mesmo Lynae, que sempre mantinha sua postura de superioridade elegante, parecia um pouco devastada. Havia olheiras muito escuras embaixo de seus olhos e ela estava com a cabeça baixa, olhava para o próprio prato e para mais ninguém.

Ela e Ryland pareciam estar fazendo força para não olharem um para o outro.

Os olhos de Steven vagaram pela mesa até Katie. Ela não estava sentada a sua frente, como de costume, mas ao lado da dama de Lynae, Anneli. Ela parecia bem, sorridente e animada, como ele sempre a via. Katie o pegou a olhando e sorriu pra ele e ele, como sempre, sorriu de volta.