A Chegada da Nevasca

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Lars estava em frente ao mar, atirando pedras contra ele, vendo-as quicar sobre a água salgada e depois afundar, desaparecendo na imensidão.

Sentia-se tão inútil.

Seu pai tinha dito para que ele ficasse na Grã-Francia, que garantisse a aliança que Lynae certamente não estava conseguindo garantir, nas palavras dele e, se fosse necessário, arranjasse uma forma de submeter a nação grã-francesa.

Lars não se lembrava de uma única vez que seu pai tenha se dirigido a ele para falar de outra coisa que não fosse assuntos governamentais de seu país, crises politicas, conselhos ou lições que o príncipe tinha que aprender para se tornar rei.

Diferentemente de Ryland, que tinha certa autonomia para governar seu país como príncipe regente, Lars era apenas um subalterno de seu pai, só podia tomar decisões quando lhe era permitido. Era ridículo, ainda mais considerando que Lars tinha vinte e cinco anos.

– Parece um pouco conflituoso, príncipe Lars.

O príncipe snölês olhou por cima do ombro e encontrou Jonathan ali com as mãos nos bolsos de sua calça.

– Você gosta de ser inconveniente, não é mesmo, Jonathan?

Jonathan riu e se aproximou mais de Lars.

– Mas que surpresa, você também não gosta de mim. – disse ele com escárnio.

– Não pode me culpar – Lars abaixou e pegou mais uma pedra, atirando-a no mar, em seguida. A pedra quicou quatro vezes, antes de afundar. – Todo mundo sabe que quer a coroa de Ryland e agora que minha prima é casada com ele, isso vai afeta-la também. E ela já tem problemas demais.

– O que você faria, Lars? – Jonathan estava olhando para o mar, o cabelo negro balançando com o vento. – Se fosse regente de um país que tem que prestar contas a outro, que lutou tanto para se separar, mas é obrigado a se submeter para não ser destruído? O que você faria?

– Eu provavelmente não dormiria com metade da Europa.

– Isso é injusto. Dormi com gente da Ásia e da America também.

Lars não pôde deixar de rir.

– Eu acreditei em Edward. Quando ele veio pra cá para se casar com Emilie, achei que não fosse se esquecer de seu país, que é um Harrison. – Jonathan mexeu no botão de seu paletó como se fosse abri-lo, mas não o fez. – Ele era meu primo e eu amava ele. Mas ele se esqueceu, virou o rei da Grã-Francia e se esqueceu que um dia já foi inglês. Agora sou eu que tenho que defender a Nova Bretanha.

– Por que está dizendo isso pra mim? – quis saber Lars, olhando para Jonathan. Ele era um tanto mais baixo que o snölês, estava com o cabelo bagunçado pelo vento e tinha os mesmíssimos olhos dos príncipes Oliver e Steven; um tom de azul claro e límpido, como o de um céu ensolarado e sem nuvens.

Jonathan deu de ombros.

– Não tenho muita gente com quem conversar por aqui. E você é quem menos tem motivos pra me odiar, eu acho.

– Eu sempre tenho motivo para odiar alguém, Jonathan.

Um sorriso se esticou nos lábios de Jonathan, enquanto ele olhava para Lars.

– Então, você era muito íntimo de Edward? – Lars perguntou, apenas para evitar que Jonathan continuasse a olha-lo como estava olhando naquele momento, como se o príncipe Lars fosse um objeto de desejo.

– Sim. Ele cuidava de mim como se fosse meu irmão mais velho. – Jonathan ficou sério, como as pessoas ficam quando estão prestes a dizer algo importante. – Eu não vim pro funeral dele quando ele morreu e nem nunca mais vi ele depois que ele veio pra Grã-Francia, exceto em seu casamento. Eu nunca nem quis conhecer os filhos dele e quando eu vim, ano passado, fiz o Ryland dar um soco na minha cara.

A Rainha da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora