Lobo em Pele de Cordeiro

764 72 21
                                    

Emilie estava em pé atrás de sua mesa de braços cruzados encarando o vazio, quando a porta se abriu e Jonathan entrou, seguido por Mitchell.

Era totalmente desconcertante olhar para Jonathan, porque ele lembrava muito Edward quando tinha a idade dele. Os mesmos olhos azuis celestes, os cabelos escuros, a altura, exceto o fato de que Jonathan tinha aquele jeito de se portar como se fosse um pavão se exibindo e suas feições eram mais atraentes do que as de Edward, mas ainda assim, poderiam ser até irmãos.

– Então, rainha, a que devo o prazer? – Jonathan abriu um sorriso ácido e enfiou suas mãos nos bolsos da calça, encarando-a como se ela fosse de alguma forma inferior, o que deixava Emilie irritada.

– Você tem mesmo um dom para o cinismo, não é mesmo, Jonathan?

– Fui abençoado por Deus, eu acho. – A expressão de Jonathan se tornou subitamente sombria e impassível. Mas Emilie não sabia dizer se ele sabia ou não porque estava ali.

Emilie deu um passo para trás e sentou-se na cadeira lentamente.

– Sente-se, Jonathan. Mitchell, obrigada, mas pode sair agora.

Mitchell olhou demoradamente para Jonathan, que piscou para ele como se fossem velhos amigos, então se virou e saiu, fechando a porta atrás de si.

– E então, rainha? – Jonathan se senta na cadeira em frente. Diferentemente das outras pessoas que ficavam de certa forma intimidadas pela presença de Emilie, Jonathan aparenta estar extremamente confortável, ele não se deixa intimidar, muito pior, ele é quase tão intimidante quanto.

Emilie arrastou a cadeira para mais perto da mesa, sentando-se. Apoiou seus antebraços em cima do tampo de madeira ajeitando sua postura.

– Vou ir direto ao ponto. Dois aviões cargueiros que levariam grãos à Snöland sumiram e eu tenho fortes motivos para achar que foi você.

A reação de Jonathan foi simplesmente arquear as sobrancelhas com um ar de inocência que não combinava com ele. Não foi uma grande reação de surpresa, mas ele parecia verdadeiramente chocado, certamente não esperava por isso.

– Isso soa como uma grande segredo pra mim. Você deveria me contar? Porque eu não sei guardar segredo. – Ele cruza as pernas e a olha com extrema satisfação para Emilie, que enrijece o maxilar.

– Isso não me preocupa, Jonathan, já que você está em território grão-francês e estou lhe informando que isso é um segredo de Estado e, caso você conte para alguém, estará passível de ser preso, pois está sob minha jurisdição. Aposto que conhece a lei, não conhece, Jonathan.

Aquele sorriso satisfeito persistia no rosto dele, o que deixava a rainha levemente preocupada.

– Eu conheço a lei, rainha.

– E então, foi você?

– Não seja ridícula, Majestade. Mesmo que eu soubesse do que você está falando, mesmo que eu tivesse culpa, por que diabos eu diria a você?

– Porque você é aquele tipo de pessoa que gosta de se gabar dos seus feitos e, se eu estou te perguntando, é porque não tenho provas. – Emilie apoiou a mão na bochecha enquanto não tirava os olhos de Jonathan nem por um segundo, como se ele pudesse causar catástrofes se não fosse supervisionado.

– Desculpa desaponta-la, rainha – Jonathan se levantou da cadeira e caminhou até a porta.

Emilie também se levantou, mas de forma brusca, o que chamou a atenção do príncipe para si novamente.

– Jonathan, eu sei que tem muito rancor de nós, essencialmente do meu país, mas se você fosse o governante da Grã-Francia também não abriria mão da Nova Bretanha. Porque não é assim que a gente faz, Jonathan, não podemos simplesmente abrir mão das coisas.

A Rainha da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora