Já sentiu que a ansiedade está corroendo você e nada que faça pode te acalmar? Sou adepta a esse sentimento constante. Como filha de uma rainha, os festivais eram recorrentes, e mesmo assim, eu não consigo me acostumar.
Pessoas.
Lugares cheios.
Falta de ar.
Mas quando estou com meus amigos, os rebeldes, consigo interagir. É estranho. Me sinto em casa. Beberico a taça, o vinho desce queimando minha garganta. Dou um sorriso para Juniper, que usa um terno preto, ele acena para mim.
— Que chique o seu kimono! — ele passa a mão no tecido vermelho com flores douradas bordadas.
— A minha mãe mandou eu usar, já que vem um povinho chato da região dela, tradição, né? — torci a boca, dando de ombros.
— Saori é bem tradicional com a cultura dela, acho isso bonito nela — coloca os cabelos atrás da orelha.
Assinto concordando, talvez seja uma das coisas que eu mais gosto nela, desde criança sempre me explicou sobre minha descendência japonesa, disse que se me tratassem mal por isso, que eu a contasse e ela daria um jeito.
O hall fica cheio, repleto das cortes mais importantes de toda Chedrinn. Drystan, o filho da puta mais cruel, é um Felder, do tipo que te faz pensar se vale a pena gastar com seu réu primário.
Porém é bonito, o típico vilão de caráter questionável que comete mil crimes, mas é perdoado por sua branquitude. Seus cabelos pretos alcançam seu ombro, os olhos verdes destacam a face cheia de cicatrizes. E é óbvio que você deve pensar: Ora, Lua, por que você odeia tanto ele? Bem, felders são uma pedra no meu sapato.
Como um dos controladores da política, portais, tempo, resumindo, as coisas mais importantes, criaram regras que beneficiam eles próprios. Por ter influência, adivinha quem sai prejudicado? É, você sabe. Drystan se aproxima. A forma como ele anda esbanja luxúria, soberba.
— Uh, a princesinha saiu do casulo? — Drystan disse em um tom de escárnio, a sua língua passava pelos dentes.
Revirei meus olhos, bebendo mais um pouco do meu vinho.
— Não sei, você saiu da asa do seu pai? Achei que continuaria escondendo suas merdas, mas parece que gente ruim não tem vergonha do que faz — desdenho, sorrindo de canto.
Seu rosto fica vermelho de raiva, solto uma risada baixa. Ele sai de perto de mim, voltando aos seus, à corte de Éden, formada apenas por felders. Eu sou bem odiado por eles.
Juniper saiu daqui há tempos e nem percebi, procuro-o olhando pelo local, até que o vejo no palco de atrações da noite. Morgana tinha uma guitarra apoiada em sua coxa, eu sorri com o jeito que sua posição parecia de durona. Quem vê até pensa.
Saori se aproxima do palco, seu corpo está moldado por um kimono igual ao meu, mas sua estampa é preta com flores brancas, uma abertura nos seios deixando-os avantajados. Ela segura uma taça e, com um garfo, batuca levemente, chamando a atenção de todos.
— Boa noite a todos, hoje é um dia muito especial. A tradição milenar do eclipse, a aliança dos reinos Sol e Lua chegou — suas orbes fazem um caminho pelo local, sorri olhando para mim. — Minha filha, meu orgulho, estará selando essa aliança se casando com o príncipe.
Quê? Abro minha boca, tentando processar a informação, a minha mãe acabou de me casar com o Dante? Que porra. Dante sai da parte de trás do palco, descendo as escadas e vindo na minha direção. Meu Deus. Ele sussurra, perguntando se pode segurar na minha cintura, e eu assinto.
— A dança oficial da noiva e o noivo começará agora — a voz ressoa.
— Então era isso a apresentação? Como você é falso. — Digo, mantendo meu olhar duro perante o seu.
— Nunca quis enganá-la — ele umedece os lábios.
— Eu devia saber que você é igual a eles, sempre foi, desde criança, você não quis se abster de tradições? Por que casar comigo? — meu tom é duro, ele aperta a minha cintura.
Eu tinha que manter a postura, todos nos olhavam, ter uma discussão não é uma boa idéia. Não agora.
— Você está tão ocupada em me odiar que não percebe que estou tentando protegê-lo — sorri, mas seus olhos estão tristes. — Seu ódio não é recíproco, Lua.
Suas palavras me atingem de uma maneira tão forte que minhas mãos tremelicam. Dante me gira. Quando meu corpo vai de encontro ao seu, ele sorriu, me entregando uma rosa.
Me afasto de si, levando distância para o ponto alto de nossa dança, o salto. Corro até ele. Quando ele gira meu corpo no ar, o vento percorre meus fios, os bagunçando. Ofego quando suas mãos me colocam de volta ao chão. Meu peito desce e sobe, sua mão direita está no meio de minhas costas, as testas encostadas.
— Você consegue fazer uma coisa sem reclamar! — os lábios curvaram-se formando um sorriso ladino.
Bufo me afastando de si. Palmas são escutadas e me curvo, agradecendo. Até que não foi tão ruim assim…
— Como eu amo o que esses pés fazem, isso é arte, meus caros! — Melinoe me levanta, dando um abraço.
Melinoe faz parte da Corte Lestima, composta inteiramente de bruxes. O vestido preto que usa ressalta as coxas grossas e o corpo farto, simplesmente esplêndida. Considero-a como uma das minhas melhores amigas, a bruxinha número dois, porque se a primeira escutar isso, é capaz de me deserdar. Falando nela, parece que fareja Meli de longe, porque se aproxima de onde estou, e devo ressaltar que a bruxa de cabelos rosa não me soltou ainda.
— Bruxas naturais, sempre pelas bandas erradas — Morgana diz em um tom debochado.
— E bruxas do caos costumam se meter assim? — rebate, me puxando para mais perto dela.
— Superem, a Julieta já namora com a Morgana — aponto para Melinoe que arqueia o cenho — E você... — Morgana enruga o nariz — Pare de encrencar-se com ela, é minha amiga também.
As duas ficam de cabeça baixa. O festival segue calmo, as músicas começam, tradicionais notas clássicas. Aproveito esse curto tempo para me deliciar com as comidas. Sentado, observando as pessoas conversando, a minha mente continua em um turbilhão. Só queria a minha cama.
Não desejo me manter calada aos ataques de minha mãe, cansei de acatar às suas ordens. Como se atreve a me casar? Melhor, Asterin usou de meu segredo, ocultando que não era apenas uma aliança de guerra e sim um casamento, não me preocupei porque eu sabia que Dante nunca ia aceitar algo do tipo. Mas ele aceitou.
Por quê?
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Entre astros e cometas
عشوائيChedrinn, a própria utopia. Pessoas do mesmo gênero podendo se amar livremente, governos justos. É claro que isso era apenas o outdoor, Lua se desafiava vivendo uma vida não tão honesta, afinal toda princesa deve agir de acordo com a sua honra. Dant...