4. Ser livre ?¿

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Nunca experimentei a sensação
De ser livre
Teria gosto?
Ou cheiro?
Porém meus pés caminham procurando
A revolução





Quase pulei na cara do garoto, tampando sua boca. Com um timing perfeito, Saori apareceu onde nós estávamos. Puta que pariu, esse boca de sacola.

— Tudo certo? — ela perguntou olhando especialmente para mim.

A profundidade de seu olhar me deixa assustada, é como se ela soubesse meus pecados mais profundos.

— Tudo sob os conformes, Rainha! — Dante responde batendo os cílios.

A forma como ele molda sua personalidade perante adultos é de uma sutileza incrível. Minha mãe permanece parada, olhando para nós dois.

— Oh, esqueci de dizer, o Príncipe Dante irá treinar conosco por um tempo — ela olhou de soslaio para mim.

E é claro que não deixo de perceber a forma como ela frisa a palavra príncipe, quase aponto um dedo na sua cara e digo que ele está fodido, mas ele não se deixa abalar pela frieza de minha mãe.

Revirei meus olhos para o teto, o que caralhos está acontecendo? Mais uma vez, serei atrapalhada, terei que cuidar dele como uma babá e ser vigiado como uma criminosa, eu percebo em seu olhar. Ela se retira, bufo encostando minhas costas no estofado.

— Agora vamos ficar bem juntos... — ele diz sorrindo.

Minhas sobrancelhas se juntam, eu sei bem o seu jogo. Me levanto do sofá, subindo para meu quarto, deixando-o sozinho.

[...]

Corro pelos arredores do castelo com as minhas mãos fechadas na frente do meu corpo, uso uma roupa esportiva preta que ganhei de Morgana. Em meus ouvidos, escuto um solo de guitarra.

Meu corpo todo transpira, minha rotina pelas manhãs antes dos treinos sempre é a mesma. Caminho observando o pomar de maçãs, quando sinto uma mão na minha cintura. O susto é tão grande que acabo por dar uma cotovelada.

Quando viro para ver quem nocauteei, reviro meus olhos, suspirando cansado. Dante passa a mão no nariz, reclamando de dor.

— Quanta agressividade, gótico! — ele diz, sua testa está apenas uma linha.

— Desculpa, senhor. Mas se você não quer levar uma de novo... — pauso a fala — Não chegue por trás de mim em uma estrada deserta — aponto para rua, curvando meus lábios em desdém.

Esse horário é calmo e eu gostava dele justamente por isso, mas meus planos são arruinados por Dante.

Pego a toalha que está no meu ombro, enxugando o suor. Estamos voltando para o castelo. Ele anda de cabeça baixa, não era para tanto assim.

Entramos pela porta dourada com o brasão de uma meia lua, Boris olha para ele preocupado e eu aponto para minha cara, esse era um sinal que usávamos para dizer sinalizar que fiz besteira.

— Sobe lá para o meu quarto que eu vou pegar a caixa de primeiros socorros — digo, dando um meio sorriso para ele.

Ele assentiu, mordendo os lábios. Peguei a caixa que fica na cozinha e subi até meu quarto.

Seguro perto da minha barriga. Quando abro a porta do meu quarto, ele está sentado com as mãos recolhidas nas suas coxas. Parece até que é comportado, me aproximo dele, que comprime os lábios.

Engulo em seco abrindo a caixa, puxando um cotonete, tirando um antisséptico e limpando o pequeno corte perto de sua boca. Ele recuou em um grunhido.

— Vai com calma... — diz contraindo a mandíbula.

Entre astros e cometas Onde histórias criam vida. Descubra agora