Capítulo Nove - Procure

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O único som que se ouvia no quarto era a da respiração profunda, mas completamente não rítmica,  característica do jovem mestiço. Na cama, dois corpos repousavam juntos embora não se pudesse dizer que dormiam, já que tanto o adolescente quanto o seu pai se mantinham de olhos bem abertos, alertas e vigilantes a qualquer som que viesse do lado de fora daquela porta branca.

Agora haviam se passado minutos, senão horas, desde a confusão de mais cedo com Elora e até esse momento tudo se mantivera calmo, silencioso até, como se não tivesse mais ninguém dentro das paredes brancas da enorme mansão.

E Zouely não podia deixar de pensar que estava calmo demais. Ele imaginou quando guiou o pai mais cedo pelos corredores que seriam seguidos, interceptados antes mesmo de chegar em seu lugar "seguro" e seriam punidos.

Talvez a família exigisse suas mortes ou fossem açoitados publicamente como escravos. Ou então alguns de seus membros fossem arrancados: uma unha ou um dedo? Era um bom método de tortura e era comum o suficiente certo?

Bem, ele pensou, suas transgressões não foram graves o suficiente para uma punição muio ruim, certo?

E se fossem, o que ele faria?

Mataria alguém do mesmo jeito que tinha feito antes quando ele e seu pai foram atacados? A menina de Scion poderia ter sido um acidente - não fora nem ele que a machucara mesmo - mas ele já tinha sua cota de mortes antes dela e ele já imaginava que não seriam as últimas.

Ele só tinha que conseguir matar uma família inteira e fugir com Noxzyin antes que alguém pudesse impedi-los.

Sim, realmente daria tão certo...

O suspiro escapou por seus lábios antes que ele pudesse contê-lo e seus olhos rapidamente foram para a figura do zombie mais velho temendo que o homem tivesse notado, mas ele não o fez e o jovem deixou seu corpo relaxar.

Zouely conteve um bocejo: estava tarde e mesmo a vigília não mantinha sua mente ocupada o suficiente para mantê-lo desperto. Ele se mexeu, enrolando seu corpo pequeno ao lado da massa imóvel que era o pai e tentou ocupar a mente brincando com os próprios polegares.

Não deu certo, porém, e ele logo estava pensando nas muitas maneiras que os de sua raça foram assassinados por bem menos do que o pai tinha feito. Ele se lembrava de ouvir os mais velhos falando sobre, das descrições detalhadas dos corpos e sobre como, exatamente, eles pareciam ter sido torturado. Eles falavam sobre o sangue, sobre a dor e a injustiça.

Assuntos sérios que eram demais para a criança que ele era na época ouvir: havia sido tão traumatizante para sua mente infantil ao ponto de, por muito tempo, servirem como combustível para os seus pesadelos.

Zouely tinha certeza que um dia morreria daquela mesma forma.

É claro que a medida que crescia aquilo fora sendo esquecido, superado, mas hoje, depois de muito tempo, tudo havia sido trazido á tona por sua mente fértil.

Repentinamente, passos soaram do lado de fora do quarto e o garoto ficou tenso: seu corpo se levantou instintivamente e se prostrou de frente para a porta numa posição meio agachada - algo que o permitiria atacar rapidamente em qualquer sinal de perigo.

Noxzyin ficou confuso por um momento já que ele não havia escutado nada, mas ele já tinha aprendido na prática que a audição do filho era muito melhor do que a dele jamais seria - muito provável uma herança da sua metade shifter - e, sendo assim, seguiu a liderança do mais jovem sem questionar e se prostrou ao lado do zombie mais novo, apenas esperando.

Os olhos do jovem brilhavam no quarto escuro, as iris expandidas como as de um gato estavam fixas na porta e sua orelhas se contraiam a cada passo mais perto do que o anterior.

Sobrevivendo á Sombras e Desilusões | #1Onde histórias criam vida. Descubra agora