Capítulo Dez -

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Zouely estava decidido a fazer o mínimo de barulho possível: seus passos eram leves, seus ouvidos atentos a qualquer barulho - se alguém reparasse bem, seria possível ver que a pontinha arredondada de suas orelha se contraia a cada mínimo barulhinho - e, em geral, sua respiração seria nula caso ele não a utilizasse para encontrar o homem que conhecia como pai.

Seus olhos verdes percorriam a sala enquanto ele se concentrava, procurando por qualquer sinal além do cheiro quase escasso de sangue que indicasse que sua busca estava sendo frutífera. Mas, apesar de escutar e utilizar de seus outros sentidos com muita atenção, ainda não havia nada ali além de sangue e passos rápidos.

Passos rápidos!

O menino se virou rapidamente, extremamente curioso e apreensivo. Ele não estava sozinho e, infelizmente, aquilo podia significar tudo: desde seu pai - embora ele soubesse que o cheiro não era nem sequer parecido - aparecendo até Elora, que com certeza aproveitaria para dificultar a vida do jovem.

No final acabou não sendo nem um, nem outro:

- Então você seguiu o conselho de meu tio. - Uma voz rouca, mas jovem, falou assim que o zumbi se virou.

Era um dos pryatos adolescentes, um dos meninos gêmeos que ele não sabia o nome. Usava uma camiseta laranja extremamente berrante - que ficava horrível em sua pele também laranja - escrito "CAMP HALF-BLOOD" e um pégaso no centro. Zouely não tinha ideia que os gêmeos eram mestiços, mas era uma informação interessante para se ter. Uma das sobrancelhas castanhas de Zouely se levantou num gesto inquisitivo enquanto ele considerava o que dizer. Por fim, ele escolheu algo básico:

- E você é? - Ele perguntou calmamente. O outro menino sorriu e Zouely notou que todos os dentes em sua boca tinham pontinhas ligeiramente afiadas.

- Tündér - O garoto de pele laranja respondeu ainda sorrindo antes de completar a informação com um fato completamente desnecessário, pelo menos na opinião do zombie. : - Significa fada em húngaro.

Outro nome pertencente à tradição deles. Zouely achava que era um fato fofo, meio idiota, mas ainda assim fofo. E afinal, quem era ele para julgar as tradições familiares de outro?

A primeira resposta que o zombie pensou para aquele pequeno pedaço de informação inútil foi um simples "não perguntei", entretanto dizer isso apenas significaria problemas.

Se Elora havia surtado por causa de uma "piadinha", se assim podia chamar, com o nome de Áine imagine o que ela faria se soubesse que ele havia dado uma resposta dessas para outro de seus filhos?

Não, melhor só deixar quieto mesmo.

Zou hesitou por alguns segundos antes de dizer lentamente - Seu tio não me deu um conselho... - Ele observou com cuidado enquanto Tündér abaixava a cabeça e...Sorria?

- Não, ele não fez. - O outro garoto finalmente concordou quando olhou para o zombie novamente. Seus olhos pareciam estranhamente mais brilhantes e, por um momento, o coração errático de Zouely pareceu parar por tempo demais.

- Quantos anos você tem? - A pergunta o deixou antes que ele pensasse nisso conscientemente. Zouely piscou algumas vezes, considerando se bater. Ele nunca fora tão impulsivo antes e agora era quase como se ele estivesse perdendo o controle de si mesmo.

- Sou um adolescente, como você. - Se Tündér estava surpreso com a pergunta abrupta, ele não demonstrou enquanto respondia tranquilamente.

Mas aquilo não era uma resposta, afinal o pryato muito possivelmente era três vezes mais velho do que ele. Pryatos eram assim: envelheciam muito lentamente nos primeiros cinquenta anos de vida, depois simplesmente estagnavam e viviam em uma semi-imortalidade. Semi-imortalidade porque ao contrário do que se pensava, nenhuma espécie era verdadeiramente imortal: uma faca bem colocada e aquele garoto deixaria de existir.

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⏰ Última atualização: Jan 09 ⏰

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Sobrevivendo á Sombras e Desilusões | #1Onde histórias criam vida. Descubra agora