Capítulo Quatro - Indo

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A rua que antecedia a Accaputti estava tão bonita quanto sempre. Sendo meio proxima da Montegomery,  as ruas que levavam a ambos os estabelecimentos eram igualmente limpas e iluminadas de uma forma que não ocorria em nenhum outro lugar.

E era na rua do Montegomery que eu estava caminhando enquanto observava aquele lugar enorme. Meu pai me disse que quando ele entrou na "casa do prazer" pela primeira vez, o lugar tinha menos da metade do tamanho que é hoje.

Mas isso era óbvio porque,  nos últimos dez anos, o estabelecimento se tornou bastante conhecido e é claro, cada vez maior e mais bonito.

Roxlan era o principal acionista do lugar, tendo o construído com apenas 15 anos por pura necessidade.
Ele tinha tido uma infância difícil assim como a maioria das crianças mestiças nascidas naquela época.

Roxlan nasceu alguns meses antes da guerra estourar e era um mestiço de zombie e mareene. Sua mãe,  uma sereia viveu com ele sob a água durante seus primeiros quatros anos de vida mas então com o fim da guerra a situação piorou e o menino passou a ser evitado e até mesmo agredido por causa de sua filiação. 

Durante o primeiro anos após guerra, o preconceito contra os zombies não era tão infundidos na sociedade mas era algo que crescia rapidamente dia após dia e a mãe de Roxlan, vendo o filho sofrer tanto, acabou mandando o menino viver com o pai.

As coisas entretanto não melhoram depois disso: aqueles primeiros anos foram horríveis para qualquer zombie e quando o pai de Roxlan morreu quando o menino tinha nove anos a situação apenas piorou.

Roxlan passou os próximos três anos pedindo comida e morando nas ruas e descobriu que pessoas como ele precisariam sacrificar certas partes de si se quisessem sobreviver e foi o que ele fez. Depois, com 15 anos, tinha conseguido dinheiro suficiente para abrir a primeira versão do Montegomery e juntou todos os meninos e meninas que tinha conhecido ao longo daquele tempo num só lugar.

E embora fosse um pensamento difícil de se ter, a abertura do Montegomery salvou milhares de zombies de morrerem de fome nas ruas. Era com o dinheiro que ganhavam lá que os zombies haviam  se reerguido a ponto de poder dizer que eles tinham sobrevivido.

Eu não sabia como o mundo tinha sido naquele tempo, mas conseguia entender que o hoje era muito melhor do que o passado um dia tinha sido.

Em meu estado reflexivo, mal notei que tinha chegado ao meu destino até me encontrar cara-a-cara com um dos seguranças da Accaputti.

Este era um bloejorn e como todo exemplar da espécie;  tinha a pele negra, um rabo peludo como um gato da cor de sua pele escura e um corpo completamente desproporcional.  Era baixo, com cerca de 1,30m de altura mas seus corpos eram bastante largos talvez com uns 50 ou 60 centímetros de comprimento. Os pés eram semelhantes com os de um elefante e seu rosto era bruto com olhos afundados em sua face, uma boca larga e gorda com dentes a mostra e um nariz um pouco achatado contra o rosto.

Não fazia um conjunto bonito mas o objetivo dele era justamente ser intimidador e um bloejorn servia bem a esse serviço.  Desviei dele escutando o rosnado baixo como o de um cão e entrei na base de operações de Archeon como se eu fosse o dono do local.

Ali ,  todos sabiam que eu pertencia à Archeon e nunca me machucariam a menos que ele pedisse.  Por sorte, Archeon não gostava de compartilhar seus pertences.

Meus pés me levaram direto a uma sala e eu tinha duas opções: o salão de festas sempre cheio ou o segundo andar onde ficava o quarto e o escritório menos formal de Archeon.

A primeira opção me deixaria entediado rapidamente,  eu não era o maior fã de festas e eu tinha que falar com Archeon. O mais fácil seria procurar por ele no local onde ele passava uma boa quantidade de tempo.

Sobrevivendo á Sombras e Desilusões | #1Onde histórias criam vida. Descubra agora