Chapter II

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Seus pesadelos o acordaram mais uma vez na madrugada, os cabelos ruivos molhados pelo suor o fizeram perceber que havia perdido o controle dos poderes herdado pelos seus pais mais uma vez depois de meses.

Pais

Lucien não tinha pais, ele tinha apenas uma mãe que o amava e o protegia da forma que podia, mesmo que para isso fosse punida por Beron. O homem que o tratava como um lixo, o homem que o fez assistir a própria morte de sua paixão do passado, Jesminda. Beron nunca foi um pai para Lucien ou para os irmãos do mesmo, apenas fazia o que queria e os mandava amadurecer, tomando atitudes que traumatizou todos.

O ruivo se levantou da cama percebendo que estava amanhecendo, decidiu tomar um ar fresco antes que Vassa chegasse machucada pela manhã. Já havia se passado meses desde a guerra, Lucien decidiu sair da corte noturna mesmo contra a vontade de sua amiga Feyre.

Feyre

A amiga que ele falhou, decepcionou, a pessoa que ele deveria ter protegido e falhou. A mesma falava que nunca o culpou pelo que aconteceu, ela já o havia perdoado.

Mas Lucien jamais se perdoaria, nunca se perdoaria por ter falhado com ela, jamais esqueceria o que aconteceu na primaveril. Como esquecer? Se as marcas em sua pele sempre o lembrariam daquilo? Se suas lembranças o perseguiram durante todas as noites? Como esquecer o dia em que Feyre viu suas irmãs sendo transformadas?

Irmãs

Pra ele, havia sido horrível presenciar aquela cena, ele mal conseguia imaginar como havia sido pra ela. Ver o brilho ser extinguido de Elain, ver o ódio presente no corpo de Nestha. E em seguida, aquele poder, um poder que ninguém jamais portou, um poder que combinava tão bem com a personalidade dela, mas que ele sabia que poderia ser sua destruição. A irmã mais velha, a pessoa que alugava um grande espaço em sua mente há algum tempo. Ele se sentia sujo ao pensar aquilo, sua parceira era Elain, e ele se sentia péssimo ao perceber que nutria sentimentos pela Archeron mais velha. O que Feyre pensaria dele? Provavelmente o acharia mais desprezível do que já achava.

Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos cor de fogo, se preparando mentalmente para as perguntas frequentes de seus amigos. Ele não estava bem, e era o único que se recusava a perceber isso. Sua parceria com Elain, sua infância conturbada, o desprezo de todas as pessoas a sua volta estavam, finalmente, refletindo em seu físico. As marcas arroxeadas e a crescente perda de peso eram prova disso. Sua imagem refletia exatamente o que ele sentia. Inutilidade, desprezo, ódio e tristeza. Era patético.

Patético

Era assim que ele sentia todas as vezes que tinha que ir até a corte noturna, levando informações sobre as terras humanas para Rhysand que o desprezava sempre que podia.

A nova família de Feyre o desprezava, sua parceira o desprezava e o mantinha longe, Nestha Archeron o desprezava.

Ele não julgava elas, afinal estava presente no maior trauma de suas vidas e não havia feito nada.

Ele sabia que faltava pouco tempo até o aniversário de Feyre, em pleno inverno, onde ele teria que ficar lá para ver a amiga, a agradar talvez. Mas também onde veria Elain com Azriel, o que já não o incomodava mais. A parceira era feliz com o encantador de sombras por perto, assim como a mais velha era feliz com o general, o mostrando que ele merecia a solidão.

Solidão

Era o sentimento que o perseguia, achar que merecia viver sozinho. Que não era digno de amor e jamais seria, sua parceira desejava outro e a mulher que não saia de seus pensamentos já tinha alguém para amar. Talvez esse fosse o destino final da raposa, ficar sozinho após tantos erros e falhas. Não era surpreendente, de qualquer forma. Todas as pessoas que haviam passado por sua vida haviam o abandonado, ele já deveria estar acostumado com a solidão e abandono.

Ouviu algo fazer barulho pela casa, provavelmente Jurian e sua estranha mania de acordar cedo. Seus pensamentos repentinamente se voltaram para seu sonho.

Nestha.

Aqueles olhos azuis como o oceano, e tão gelados como este, o perseguiam a meses. Já era bastante estranho sua atração por ela, mas sonhar frequentemente com ela parecia até um pouco maníaco para Lucian. Ele se levantou, rumo ao banheiro, ciente de que teria mais um dia meio bosta, com a sensação de cansaço que havia se tornado sua melhor amiga nos últimos tempos. Lavou o rosto, encarando o reflexo no espelho. Fogo o encarou de volta, fogo e algo mais forte, algo que estranhamento parecia atrelado a suas vísceras, ao seu ser. Ele sempre soube que era diferente dos irmãos, por algum motivo muito estranho. Talvez a falta de maldade e ambição causasse essa diferença. Talvez fosse por isso que era odiado por tudo e todos. Por não seguir os passos de sua dinastia.

Ele suspirou, se retirando do banheiro após uma ducha rápida e se vestindo com roupas casuais. Observou o estreito corredor da casa, que Vassa havia, de alguma maneira deixado aconchegante. Alguma característica humana, certamente. Jurian já estava sentado à mesa, o olhou dos pés a cabeça, e soltou um assobio baixo.

— Você está horrível.

Lucien revirou os olhos, ou pelo menos o olho de carne. Se sentou e encarou a mesa, mesmo que o móvel estivesse fora de foco.

— Obrigado pela parte que me toca, é realmente reconfortante.

Jurian riu, se inclinando na cadeira e repousando o rosto nas mãos unidas. Encarou Lucian como se estivesse vendo sua alma, e isso o incomodou.

— Você sabe que odeio quando me olha assim.

— Assim como?

Lucian riu baixinho antes de responder.

— Como se soubesse exatamente todos os meus erros, e todas as cores de cueca que usei ao longo da vida.

A careta do humano o fez rir ainda mais. Jurian se ajeitou na cadeira.

— Sabe, antes de ser morto, durante a guerra, eu costumava achar que ficar tanto tempo vivo lhe impedia de sentir normalmente. Esse era o único motivo que me fazia admirar vocês. Mas, te olhando, ou você falhou muito como feérico, ou eu falhei muito na minha teoria.

— Eu voto na primeira opção. – Disse, um sorriso vazio nos lábios.

Jurian me olhou, como se quisesse dizer algo, mas estivesse com receio.

– Diga.

– Você está assim apenas pela sua parceira ou tem algum outro motivo?

Suspirei fundo, olhando para o teto em um pedido de paciência. Jurian suspirou também, talvez um pouco arrependido da pergunta.

– Você não precisa...

– Tem um outro motivo, mas não me sinto confortável para compartilhar ele, tudo bem?

Ele assentiu, e eu agradeci internamente. Sempre fora assim com ele e Vassa, ninguém invadia os limites de ninguém. Eu nunca havia tido esse privilégio, de ter minha privacidade intacta.

Me levantei, ele me encarou com confusão no olhar.

– Vou até o lago, quer vir? — Perguntei, rezando para que ele negasse. Ele pareceu perceber, pois negou, inventando uma desculpa sobre ler algo.

Sai da casa, indo em direção ao pequeno lago a alguns metros. Me sentei na beira, decidindo por apenas observar ao invés de adentrar. Consegui visualizar na superfície reflexiva todos os núcleos de meus problemas, e suspirei. Talvez sempre fosse ser assim, e se fosse, ele desejava nunca ter nascido.


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Oi Oi, estamos de volta com mais um capítulo para vocês. Gostaríamos que agradecer o apoio que nos foi dado, mesmo sendo uma fanfic sobre um casal não tão comentado, o alcance que tivemos com apenas um capítulo foi incrível, muito obrigada! Peço que por favor não se esqueçam de votar e comentar o que acharam, isso incentiva muito, e nos dá um feedback do que estão achando do desenvolvimento da história! Até a próxima, espero que a leitura tenha sido proveitosa. 

Corte de amores proibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora