Dez

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Analua faltou na escola por quase um mês inteiro. Não a vi mais depois daquela cena do refeitório. O que me deixava na dúvida se o sumiço repentino dela tinha alguma coisa a ver com o fato de eu estar com o Jonas, ou se foi só algum problema com a sua família. Provavelmente era a segunda alternativa. Porque, convenhamos, eu não sou tão convencida assim para achar mesmo que ela perderia um mês de aula só por minha causa. Enfim.
Agora a Mari estava sempre comigo e com a Lou para cima e para baixo. De repente ficamos mais próximas nesses últimos dias e eu estava gostando de tê-la por perto. De nós três, ela era a mais madura e com os conselhos mais certeiros. O que me ajudou bastante, pois o meu aniversário e o da Lou finalmente seria nesse final de semana, e a Mari estava nos ajudando muito com os detalhes do planejamento da festa. Ela conseguia conter as ideias malucas da Lou e ao mesmo tempo despertar o meu interesse com alguns pontos referente aos preparativos da festa. Sem contar que, com ela envolvida nisso, eu não tinha que suportar as maluquices da Lou sozinha.
Já estava tudo certo para o Luau e parecia que ia ser tudo incrível. Lou estava cada dia mais animada.
A banda de Jonas ia tocar em nosso aniversário, e pensar nisso me fazia ficar com frio na barriga. Porque primeiro: Jonas disse que tinha bolado uma música especial para o dia e segundo: a Analua estava na banda. Esse era um detalhe importante porque eu não conseguia esquecer que, depois de quase um mês, eu iria rever Analua e isso me deixava estranhamente nervosa.

- No que está pensando? – Jonas me questiona enquanto devaneio encostada na parede do corredor.

- No fato de que odeio aniversários. 

- Você vai adorar. Eu prometo. – Ele diz, como se a responsabilidade de eu gostar ou não da festa fosse dele. Era fofo, mas irritante ao mesmo tempo. Jonas tinha um lado muito grudento que descobri nesses últimos dias também. Ele se preocupa demais com tudo estar perfeito. Isso é legal até. Não me entenda mal. Só que o seu positivismo também enche o saco. Às vezes eu só queria reclamar sem me sentir mal por isso.

- Por acaso você sabe o motivo da Analua ter sumido? – Pergunto do nada. Só queria mudar de assunto, mas depois percebo que essa não foi uma escolha muito inteligente de assunto.

- Não. Como eu saberia? – Ele franze a testa.

- Achei que vocês ensaiassem para a banda juntos. – Respondo rápido. Boa.

- Ah, é. Ela não tem aparecido muito nos ensaios também. Tava até pensando em arrumar outro baixista, mas ela escreve umas canções muito boas e, sabe como é, o Edu ia ficar chateado porque ela é a prima dele... – Jonas continua falando e quando estou quase perdendo o foco da conversa ele pergunta: - Por que você quer saber dela?

- Hã... É que ela é minha dupla na aula de literatura, e tenho um poema para entregar na semana que vem. Sobre o qual combinamos que ela faria desde que eu apresentasse. Mas parece que fui abandonada nesse barco.

- Não se preocupe. – Jonas segura minha mão e a beija. - Você é capaz de fazê-lo sozinha. 

Duvido muito, penso comigo mesma. O sinal toca e Jonas me puxa para um beijo antes de irmos para as nossas respectivas salas de aula.
Para minha decepção e alívio, o lugar ao meu lado continuava vazio. Me ajeito na cadeira de sempre e aguardo o dia tedioso terminar para me encontrar com Jonas. Ele faz questão de me levar para shopping hoje para escolher uma roupa para o final de semana.
Antes de sair, tento mandar mais uma mensagem para Analua sobre o nosso trabalho do poema. Mas sei que é inútil, porque ela nem está visualizando-as. Como todas as mensagens enviadas nesses dias, essa também é recebida e continua sem o flegue azul. Desisto. É a última vez que faço isso. Afirmo para mim mesma. Mas, ates que eu guardasse o meu celular, ele vibra em minha mão anunciando uma nova mensagem. Quando checo a mensagem, meu coração quase para ao ver o nome de Analua na tela.

"A praia ainda está de pé? Podemos falar sobre o trabalho lá, se preferir." – recebida às 11h41

"Agora?" – enviada às 11h42 

"Sim. Posso passar na escola para pegar você" – recebida às 11h42

"Ok. Te espero" – enviada às 11h43

Faltavam dois minutos para o sinal que anuncia a nossa saída dessa prisão tocar. E eu não conseguia conter a minha aflição em sair com a Analua. Praia ao meio-dia? Ela só podia estar pirando, mas não posso perder a chance de conversar com ela. Valeria o esforço.
O relógio marca 11h45 e automaticamente me levanto e saio da sala, antes mesmo do sinal tocar. Quando estou quase chegando no portão da escola escuto Jonas me chamando. Droga. Esqueci que tinha combinado de sair com ele. 

- Nossa flor-de-lis, você tá com pressa para ir às compras ein?!

– Jonas me alcança ofegante.
Tudo que eu precisava era inventar uma desculpa que o convencesse que eu não iria poder sair com ele agora. O que é muito difícil, pois eu minto muito mal e ele é insistente.

- Então... sobre isso, é que aconteceu um imprevisto e eu não vou poder ir. Minha mãe precisa da minha ajuda em casa. – Minto descaradamente e quase cruzo os dedos na expectativa de que ele acredite. 

- Sua mãe? Ah, tá bom. Eu te levo pra casa. - Droga. Ele achou um furo na minha mentira. 

- Não precisa Jonas, eu vou com ela. – Mari chega como um anjo da salvação. Ela pisca para mim começa a me puxar para fora da escola. Não me dando tempo nem de me despedir de Jonas. Me parece um pouco suspeito, já que ela nem estava do nosso lado na conversa. Será que ela sabia sobre Analua? Começo a me questionar se ela sabia esse tempo todo e estava escondendo algo de mim.

- Mari, como voc... - Começo a falar, mas ela me interrompe logo que abro a boca.

- Você fica me devendo uma. – Ela diz sorrindo.

Eu estava certa em achar que ela estava escondendo algo. Aposto elas haviam planejado tudo. Analua aparece do nada e Mari se livra do Jonas. Seria muita coincidência pra acreditar. Eu só não entendia o porquê disso ainda.
Assim que viramos a esquina e damos de cara com Analua esperando. Mari, acena sem dizer nada e vai embora. 
Estranho.

- Mas o que foi isso? Como a Mari sabia que você viria? – Começo com uma pergunta atrás da outra. – Onde você se meteu esse tempo todo? Sabia que você pode reprovar por faltas?

- Bom te ver também. – Analua sorri de canto.

ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora