Dezessete

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Eu acho que nunca andei tão rápido pela escola, eu literalmente estava quase correndo pelos corredores, esbarrando em todo mundo e pedindo desculpas.
Assim que dobro a esquina de um corredor para saída da escola, dou de cara com o Jonas e quase o derrubo no chão.

- Nossa, Lis. Ta querendo me machucar mais do que já estou? - Jonas fala assustado.

- Preciso falar com você.

- Eu não posso agora, preciso passar na diretoria e deixar o meu atestado...

- Jonas, é sério. – Falo impaciente.

- Não pode ser depois? – Ele coça a cabeça. Parecia estar querendo se desvencilhar de mim logo.

- Olha, eu não queria ser uma cuzona, mas, eu já sei o que você fez e... mesmo antes de saber, eu já ia falar com você porque precisamos terminar.

Nessa hora me encarava com os olhos arregalados, ele surpreso. Quase ofendido. Acho que na cabeça dele, eu jamais teria coragem de terminar com o cara mais descolado e bonito da escola.

- O que você disse?

- Você não pode achar que nós iriamos continuar juntos depois do que você fez. – Falo irritada. - Você roubou a música de outra pessoa para cantar para mim, como se fosse sua!!

-  Não Lis, você não pode estar falando sério. – Ele ri de nervosismos, um pouco sem graça com as pessoas que passam do nosso lado nos encarando.

- Mas eu estou... Além disso, acho que a gente nunca foi um bom casal.

Não espero ele responder e saio da escola. Precisava ir para casa, precisava descobrir onde era a de Eduardo, precisava falar com Analua. Ela não podia ir embora sem falar comigo.
Quando cheguei no apartamento, estranhamente minha mãe estava em casa fazendo almoço.

- Oi filha. – Minha mãe fala da cozinha.

- Mãe, o que está fazendo aqui? – Pergunto preocupada.

- Falei com a Charlote quando cheguei e ela estava preocupada com você.

- O que ela te falou?

- Por que você não conversa comigo, filha? Você podia ter me contado sobre Jonas, sobre... sobre tudo.
Eu não queria ser grossa com a minha mãe, mas eu realmente não tinha tempo pra isso agora.

-  Mãe, desculpa, é que você meio que nunca tava aqui e eu terminei com Jonas hoje, porque talvez eu goste da Analua. E ela está indo embora, e eu preciso falar com ela antes dela ir, e, ah, ela socou o Jonas porque ele roubou uma música dela. – Tento recuperar o folego. Acho que minha explicação não estava sendo muito efetiva porque minha mãe me olhava com uma cara de quem não estava entendendo nada.

- Calma, calma. – Minha mãe coloca a mão em meu ombro. - Eu nunca fui muito com a cara de Jonas mesmo.

Minha mãe começa a rir, o que faz com que eu dê risada também.
Minha mãe estava sendo bastante compreensiva até. Ela se oferece para me levar até a casa de Eduardo para que eu conseguisse falar com a Analua.
Eu estava puro nervo, não tinha planejado o que falar para ela ainda e também não sabia se ela ia querer me ouvir. Se ela fosse embora mesmo, não sei se adiantaria alguma coisa eu estar indo lá agora. Não que eu fosse fazê-la mudar de ideia nem nada do tipo, afinal eu não sabia o porquê ela estava partindo de fato. Mas eu precisava ao menos esclarecer tudo e tentar dizer o que eu sentia. E, se com isso ela decidisse ficar, não vou mentir que não ficaria feliz.
Quando chegamos na casa de Eduardo estava tudo escuro, parecia que não tinha ninguém em casa. Pego o meu celular e ligo para o número de Lou.

- Alô? – Lou atende no segundo toque.

- Onde você está? – Vou direto ao assunto.

- Estou com o Edu na rodoviária. Viemos deixar Analua, ela teve que voltar para casa dos pais. Por quê?

- E ela já foi?

- Acabou de sair.

Fico em silencio.

- Lis?

- Ah, falo com você depois. – Falo com a voz embargada e trato de desligar logo.

Não sei o que é pior, ela nem se despedir de mim, ou ter me ignorado desde ontem.

- Filha... eu sinto muito – Minha mãe fala.

- Ela nem ao menos me explicou o que aconteceu ontem. – Falo. - Eu tive que descobrir sozinha. Parece, inclusive, que todo mundo já sabia menos eu.
Sinto a raiva tomar conta de mim.

- Como ela pôde ir embora desse jeito? – Falo revoltada.
Minha mãe apenas me olha, acho que não tem nada que ela diga agora que me faça ficar melhor e ela sabe disso.

“Presumi que você iria ao menos se despedir de mim. Eu só queria dizer que agora eu finalmente entendi... Eu acho que já posso admitir que eu realmente gosto de você.” – enviada às 19h46

Envio a mensagem para a Analua enquanto minha mãe dirigia de volta para casa e depois desligo o celular. Não sei se eu queria que ela respondesse. Eu estava realmente chateada e precisava de um tempo para pensar. Colocar tudo em ordem e tal. É um péssimo momento para descobrir que gosta de uma pessoa. Especialmente quando essa pessoa simplesmente vai embora.
Antes de dormir liguei o celular para que o despertador funcionasse de manhã. Mas, no meio da madrugada, o meu celular começa a tocar e eu, meio dormindo, recuso a ligação sem nem ver quem era. Segundos depois ele começou a tocar novamente. Acordo assustada e atendo com a voz sonolenta que quase nem sai.

- Alô?

- Você não acha isso injusto para caralho? – Escuto a voz da Analua do outro lado da linha irritada.

- Analua, pelo amor de Deus, são 3 horas da manhã. Por que você está gritando comigo?

- Você não pode me mandar uma mensagem daquela e achar que eu não posso gritar com você.

- Se acalma, ta? Você também não foi justa comigo em ter ido embora assim. Onde você está? – Pergunto ouvindo alguns barulhos no fundo da ligação.

- Estou aqui.

- Como assim? Na casa dos seus pais?

- Não. Na sua vizinha, Lis. – Não consigo a ver, mas aposto que ela revirou os olhos agora. - Cheguei faz um tempo, mas não consegui falar com você. Então a Charlote me disse que eu poderia ficar aqui até você acordar.

- Quê? – Sento-me na cama com um pulo.

Quase caio da cama quando tento me levantar, saio chutando o cobertor que se enrola em meus pés e corro para a porta da entrada. Assim que a destranco e abro dou de cara com uma Analua sorridente me esperando ainda com o celular no ouvido.

- Oi. – Analua diz.

ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora