Oito

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- Vi os dois conversando mais cedo. Não deu para saber sobre o que falavam, mas não parecia ser uma conversa amigável. - Lou relata enquanto esperamos pelos milk shakes na Shark's Burguer. Com certeza esse era o último lugar que eu queria estar agora, mas Lou havia jurado de pés juntos que o Jonas não tinha expediente hoje, portanto não teriamos como esbarrar com ele trabalhando aqui hoje depois da escola.
Falando sério, não sei como ela sabe tanto assim sobre esse tipo de coisa alheia. Eu me esforço para decorar meu próprio quadro de horários das matérias escolar e ela consegue lembrar a rotina das pessoas ao redor, será um dom ou um defeito?

- Analua e Jonas conversando? - Procuro confirmar sobre quem estavamos falando, porque isso parecia impossível. Pelo o que eu saiba, os dois não se dão muito bem desde o primeiro dia. Entretanto, se não era uma conversa amigável, fazia mais sentido. Mesmo assim, não confio muito nessa história. Eles não tinham nada para conversar. Nada em comum, além... da banda. Claro, a banda! Era sobre isso. - Eles podiam estar falando sobre a banda, sei lá. Não vejo outro motivo.

- Sim, poderiam. - Lou se aproxima de mim e quase sussurando diz: - Mas não estavam. Meu palpite é que Analua inventou o boato, porque sabia que você ficaria brava e não sairia mais com Jonas. 

- Isso é a coisa mais absurda que você já disse. - Reviro os olhos em descrença ao o que ela acabara de declarar. - Não acredito que me trouxe aqui para dizer uma asneira dessas, Lou. 

- Lis, você não quer enxergar porque acha que Jonas não passa de um cafajeste. Esta cega por esse estereótipo. - Ela cruza os braços e se recosta na cadeira, convencida de que eu estava sendo uma puta cheia de pré-conceitos sobre as pessoas. Especialmente sobre seu novo namorado, integrante da banda, que por tabela também é um cafajeste à procura de tietes. 

Eu sei o que ela pensa sobre mim, acha que não sou capaz de abrir minha mente às coisas, acha que não passo de uma caipira medrosa e inexperiente. Me sentia mal por não conseguir acompanha-la em certos aspectos. Eramos muito diferentes. Sempre fomos. Mas isso estava ficando mais evidente agora.
Talvez ela tenha razão acerca de algumas coisas sobre mim, mas, ultimamente, eu sentia que não conseguia mais ser eu mesma com ela. Então tecnicamente Lou não tinha completa razão. Não mais. 
Por mais que suas intenções sejam boas quando ela quer que eu seja mais como ela, eu estava confusa e cansada de me esgueirar sobre sua sombra, precisava me desvincular disso e aceitar que nossa amizade estava, sem querer, se ruindo aos poucos.

- Lis, oi. Que bom te ver aqui, estava mesmo querendo falar com você. - Jonas se aproxima de nossa mesa segurando uma flanela verde-limão com uma das mãos. Arregalo os olhos para Lou como advertimento sobre a sua mentira. Ela sabia que ele estaria trabalhando hoje e mentiu descaradamente para mim. Foi uma emboscada.

- Não tenho nada para falar com você. – Falo para Jonas sem nem o olhar.

- Só queria que soubesse que não fiz isso. – Ele diz e posso sentir seus olhos castanhos esverdeados sobre mim, me fitando.

- Então por que está deixando as pessoas pensarem que isso aconteceu?

- O que quer que eu faça?

- Não sei. – Falo finalmente olhando para ele. – Olha, não é nada de mais, tá? Só me incomodou um pouco, porque isso reafirma a imagem que você tem e me faz parecer patética como todas meninas que você já deu um fora. - Olho para Lou e depois para ele novamente. - Eu não queria sair com você antes por isso. Sou só mais uma.

- Eu não sou assim! – Jonas fala um pouco mais alto que o normal e depois puxa uma cadeira para se sentar ao meu lado. - Lis, me desculpa. Você não é uma garota qualquer. Você é diferente. Nunca se atirou em cima de mim e nem fica bajulando só para ficar popular.

- Por isso quis sair comigo? Para vai, esse é o maior clichê que existe.

- Vou te deixar em paz. – Jonas fala dando-se por vencido e então se lavanta para voltar ao trabalho. 

Pelo cantos dos olhos, consigo ver Lou inquieta com a situação. Seu plano estava indo por água a baixo. Não conseguia deixar de pensar em nossa amizade depois disso tudo. Eu ainda tinha muita coisa para considerar, ela sempre fora minha melhor amiga e eu não queria perde-la.
Eu só estava confusa por causa de uma completa estranha: Analua. Que havia acabado de aterrissar em Águas de Sant'Anna e nunca deixou muito claro o porquê. Possivelmente ela tenha inventado o boato, ou possivelmente não também. Não era justo culpa-la assim, acho que Lou só estava com ciúmes. 

- Não, espera. – Seguro o braço de Jonas fazendo-o se sentar novamente. – Acho que ainda não me desculpei por ontem também. - Lou se arruma na cadeira e presta atenção ao que estava acontecendo com uma feição esperançosa.

- Eu não deveria ter te pressionado. – Ele começa a dizer com um sorriso no canto da boca. – É que Eduardo ficou em cima de mim, falando que eu deveria tentar e aí...

- Então era isso que estavam cochichando? – Falo lembrando-me dos dois na noite do cinema. 

- Fui um idiota. – Ele diz um pouco envergonhado, olhando para as próprias mãos que ainda seguravam com força a flanela verde-limão. - Preciso mesmo voltar ao trabalho agora, tenho umas mesas para limpar. - Ele se levanta e me dá um beijo na bochecha. - A gente se vê. 

Eu não podia deixar que as pessoas pensassem que tudo que estava rolando era por culpa de Analua. Nem que não fiquei com Jonas por causa dela, ou porque ele não quis. Seja quem for que invetou esses boatos, eles não deveriam se tornar reais. Não serei mais o centro das atenções do colégio. A "fama" durou apenas um dia e eu já estava ficando louca. 

- O que foi isso? - Lou comemora. - Eu entendi errado ou você está mesmo mudando de ideia?

- Você me deve desculpas. - Falo sem me esquecer da emboscada que Lou havia criado para me trazer aqui. 

- Pago o seu milk shake. - Ela diz rindo.

Não é tão simples. Lou acha que está me dobrando para conseguir o que quer. E vou deixar que ela ache isso mesmo. Ela é minha melhor amiga, mas acho que não me entenderia. Nem eu entendo. Pelo menos assim evitarei mais discussões e posso focar em descobrir o que raios está acontecendo comigo. Preciso urgentemente falar com a Analua, faço uma anotação mental. Essa garota está me deixando confusa em níveis cósmicos.

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