Catorze

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Finalmente o dia do nosso aniversario chega, a melhor coisa desse dia é quando ele acaba. Sério. Não tem benefício nenhum. A gente só envelhece e as pessoas são mais falsas do que o normal.

Logo mais a Lou estará aqui em casa, então tenho que me apressar para levantar da cama de uma vez. Checo meu celular e vejo algumas notificações de parabéns. Resolvo agradecer todas depois, no fim do dia. Afinal, é só mais do mesmo: "parabéns, feliz aniversário, tudo de bom" blá-blá-blá.

Caminho em direção a cozinha e sinto o cheiro maravilhoso de café. O meu aniversário é o único dia em que a minha mãe faz questão de não pegar nenhum turno na parte da manhã. Na verdade, esse motivo e o café da manhã que ela faz são o único benefício desse dia. Ela trabalha tanto que sinto muita falta da sua companhia no dia a dia.

- Feliz aniversário, meu bebê! - Minha mãe me abraça com uma mão enquanto a outra mexe os ovos na frigideira.

- Que cheiro delicioso, daqui a pouco os vizinhos vão bater na porta e se convidar para tomar café com a gente.

- Tudo para vocês, meu bem. – Ela fala despejando os ovos quentinhos no meu prato. - O que Lou está aprontando para vocês duas hoje? –

- Ah, ela planejou uma superfesta. Você sabe. – Falo enquanto me sirvo com um pouco de café. – Achei que ia ficar mais animada esse ano, mas na real eu preferia ficar em casa.

Meu celular vibra em cima da mesa e consigo ler o nome de Analua antes dele bloquear novamente. Mesmo estando brava com ela, não consigo evitar o sorrisinho em meu rosto.

- Hummm, olha quem está apaixonada. – Minha mãe fala enquanto se senta na mesa.

- O quê? Eu? – Quase engasgo com o café.

- A senhorita, sim. Quem está apaixonada que ri assim para a tela do celular feito boba.

- Nada a ver, mãe. – Falo sentindo minhas bochechas arderem.

Ela se levanta da mesa dando risadinhas.

- Cadê a Lou? Esse ano ela está atrasada para o café da manhã. – Minha mãe muda de assunto.

Alguém toca a campainha na mesma hora e nem preciso adivinhar quem seja.

- Falando no diabo. – Falo brincando e vou atender a porta.

Assim que abro a porta Lou pula em cima de mim quase nos derrubando no chão. Acho que não existe nenhum outro dia em que Lou fique tão feliz, quanto o dia do nosso aniversário.

- Parabéns para nós!!!– Ela grita agarrada em meu pescoço e então se afasta para acrescentar: – Eu nem vi você indo embora ontem, garota! Fiquei preocupada.

- Feliz aniversário, Lou. – Falo ignorando a sua última frase. Eu estava tentando esquecer tudo aquilo que aconteceu ontem e acho não iria ajudar se eu ficasse falando sobre isso.

Em seguida ela cumprimenta minha mãe com um beijo no rosto:

- Bom dia Dona Carla! Nossa, que mesa linda! E o cheiro também não fica pra trás, dá pra sentir lá de fora!

- Ok, sua puxa saco. – Falo puxando uma cadeira para Lou. - Vamos comer.

Lou e minha mãe conversaram a manhã inteira sobre ela ia se superar na festa esse ano, e o quanto ela estava animada com tudo. Eu apenas apreciei o meu café da manhã em silêncio, observando minhas duas pessoas favoritas no mundo conversando. Eu queria poder congelar esse momento para sempre.

Todo aniversario temos um ritual de tomarmos café juntas, e depois saímos para passar o dia na praia, decidi que hoje em especial ia deixar meu celular em casa, não aguentava mais as mensagens de Analua querendo se explicar. Eu nem sei porque ela acha que tem que se explicar. Tudo bem que ela meio que se declarou para mim algumas horas antes de beijar outra, mas e daí? Ela não me deve satisfações e eu não deveria ligar para isso.

Então, conforme a tradição, passo o resto do dia todo na beira da praia com a Lou. Esse tempo é exclusivo e sagrado para nós.

Porém, parece que dessa vez a Lou está se esquecendo disso, porque, enquanto estamos sentadas na esteira de praia sob areia, ela está digitando sem parar em seu celular. Isso é bastante incomum na verdade, pois ela leva a nossa tradição de aniversario muito a sério.

Por mim tudo bem, não me chateia ela estar ocupada falando com sei lá quem. Sem sarcasmo, sério. Pelo menos assim posso descansar minha mente e me preparar psicologicamente para o que terei que enfrentar mais tarde.
Fico olhando para o horizonte onde o mar e o céu formam uma coisa só e sem querer me pego lembrando do dia em que passei na praia com Analua. Acho que me sinto mal porque a amizade dela me traz uma sensação de tranquilidade. É diferente da amizade de Lou, que fala pelos cotovelos. Claro que adoro ficar com minha melhor amiga. Mas acho que gostava de passar o tempo com a Analua porque eu podia ficar em silencio de vez em quando sem parecer estranho. Quer dizer, ela meio que me causava umas sensações estranhas, mas deve ser só porque era uma pessoa nova. Era diferente.

- Está pensando em quê? – Lou corta meu transe.

- Hum, nada não. Cuidando dos últimos preparativos da festa de hoje? – Falo apontando para o seu celular.

- Mais ou menos. Sabe, Lis, eu quero que essa noite seja perfeita. Até para você que não curte aniversário. Então, tenta aproveitar tá? Não fica pensando demais. Só... aproveita. – Ela fala com certa ternura na voz.

- Tá bom. – Afirmo.

Talvez eu esteja mesmo sempre pensando demais.

ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora