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Cocei os meus olhos, para mim não existe aula mais chata do que a de Física. Não entendo nada do que sai da boca da nossa professora Srta. Tomaz, que está a mais de quarenta minutos falando sem parar. Faço o maior esforço para não cair no sono enquanto ela cospe todo seu conhecimento sobre as leis de Newton, o que é um sacrifício tremendo. Lou, minha melhor amiga, que graças a Deus também era a minha dupla nessa aula, sabia tudo sobre as fórmulas e as leis de Física. É quase inacreditável, já que ela não presta atenção na aula e dedica todo o seu tempo exclusivamente a fazer fofocas e falar sobre garotos, mas, apesar disso, sempre garante um dez para gente nessa matéria.

- E então? – Lou sussurra para mim.

- O quê?

- A festa de Halloween de hoje à noite. Às vezes eu acho que você nem ouve o que eu falo. – Ela assopra os cabelos loiros da testa e cruza os braços demonstrando chateação.

Lou sempre foi assim; a rainha do dramalhão. Eu a conheço desde que eu vim ao mundo, deve ser essa a explicação dela ser a minha melhor amiga, porque se não fosse por isso, duvido muito que eu seria amiga de uma das maiores patricinhas do colégio São Junípero. Somos quase irmãs, só que de mães diferentes. E falo sério quando digo isso. É que nossas mães se conheceram na maternidade e deram à luz a nós duas no mesmo dia, com uma diferença de duas horas mais ou menos. O que a faz ser duas horas mais velha do que eu, como ela sempre faz questão de jogar na minha cara. Apesar de muito popular, Lou nunca mudou quem ela é comigo, e isso é umas das coisas que eu admiro nela. É muito fácil ser mesquinha e egoísta quando se tem muitas pessoas que enchem seu ego e puxam seu saco.

- Aquela festa à fantasia que eu disse que não iria? – Perguntei quase que retoricamente. Ela estava a semana toda me enchendo para irmos, e eu estava negando na mesma proporção.

- Você e eu sabemos que você sempre diz isso e acaba indo no final.

- Eu sei, mas dessa vez eu pretendia não ir de fato.

- Fique sabendo Jonas também vai. – Ela disse se referindo ao garoto que estava sentado a uma fileira de distância de nós.

Jonas é o garoto mais cobiçado do colégio. Um típico adolescente rebelde com uma banda de rock, que causa risadinhas e rubores nas meninas quando passa desfilando pelos corredores. Acho até que ele masca um chiclete imaginário para parecer mais charmoso. O caso é que eu já fui uma dessas meninas ruborizadas pelo seu charme na época em que ele era apenas um garoto sem banda. Caso este que só Lou sabia, e que admito ter sido um tremendo erro contar-lhe, pois agora ela vive me envergonhando com essa história e querendo juntar nós dois. Eu já superei que ele jamais vai olhar para mim e que não temos nada em comum, mas Lou não. Ela não desiste fácil.

- Espero que vocês tenham entendido bem o trabalho do último bimestre. –Srta. Tomaz diz olhando diretamente para nós duas. Fazendo a sala toda se virar e nos encarar também.

Droga. Diferente de Lou que está acostumada a ser o centro das atenções e até gosta disso, eu prefiro não chamar mais atenção para mim do que o necessário. E deixo isso bem claro quando começo a gaguejar um pedido de desculpas para professora que nos fulmina com o olhar.

- Claro, e devo dizer que estamos muito ansiosas para fazer essa experiência, Srta. – disse Lou me interrompendo graças à Deus. Sério, como ela conseguia?

Logo no fim da aula quando saímos da sala em direção ao estacionamento do colégio, Lou cantarolou o caminho todo dizendo que depois dessa eu devia a ela ir naquela festa estúpida de Halloween e não tive como negar. Mais uma vez o meu dia foi persuadido pela minha melhor amiga.

- Te pego às oito. Não esquece da fantasia! – Ela disse piscando para mim enquanto se afastava.

- Você pode me convencer a ir, mas não pode me obrigar a usar fantasia. – Eu grito de volta para ela.

ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora