Na manhã seguinte minha cabeça latejava como se alguém estivesse martelando dentro do meu cérebro. Ainda bem que hoje não temos aula. Qual a vantagem de se beber álcool? Sério. Acho que não funciona direito para mim, nem bêbada conseguiria me enturmar ou dizer a coisa certa. Como se eu precisasse disso para passar vergonha. Comecei a me lembrar da noite passada e enviei uma mensagem para Lou:
"Oi. Eu sonhei ou você realmente pegou o baterista?" – entregue às 11h34
"Você sabe que eles só fazem isso pelas garotas, né?." – entregue às 11h35
"Relaxa, ele beija muito bem." - recebida às 11h35
"QUAL A PROBABILIDADE DISSO DAR CERTO?" – entregue às 11h36
"Nossa Lis, não é como se eu fosse me casar com ele." - recebida às 11h37
"Depois não diga que eu não avisei." – entregue às 11h37
"Falando nisso, marquei de ir ao Shark's Burguer com ele e a prima dele hoje." – recebida às 11h38
Analua, a garota com piadinhas galanteadoras? Nem pensar. Com certeza eu diria algo constrangedor na frente dela e, quer dizer, eu nem a conheço direito ainda. Meu celular vibra novamente interrompendo meu devaneio:
"Vamos, vai. Ela precisa conhecer a cidade e fazer alguns amigos." – recebida às 11h40
"Ela parece ter amizades já." – entregue às 11h40
Por que isso estava me deixando tão incomodada? Talvez fosse só a dor de cabeça. Ouço duas batidas na porta do meu quarto:
- Querida, deixei seu almoço pronto. Estou indo para o meu turno extra de hoje. – Minha mãe fala atrás da porta. – Qualquer coisa chame a Charlote.
Minha mãe trabalhava como enfermeira no único hospital de Águas de Sant'Anna, e, apesar da cidade ter menos que cem mil habitantes, no fim do ano faz calor e a cidade enche de turistas que vem visitar as praias. Isso significava um grande aumento de pessoas com queimaduras de água-viva, desinteria por causa do camarão, ou até mesmo alguns afogamentos. E minha mãe tinha que fazer turnos extras para cuidar dessa gente no hospital. De vez em quando, Charlote, a nossa vizinha de meia-idade cartomante que mora do outro lado do corredor do prédio, bate em nosso apartamento entre uma consulta e outra para saber se estou precisando de alguma coisa.
Ela é uma boa pessoa e entendo que queria ajudar, mas acho que não preciso de uma babá. Principalmente de uma que cheira à incenso de lavanda. Às vezes sinto que, apesar de ela atender muitas pessoas, só faz isso para ter com quem conversar, pois mora sozinha há anos e sua única companhia é o seu cão Mabel.Mal coloco meu almoço para esquentar quando ouço a campainha tocar.
- Meu deus, Charlote. Minha mãe acaba sair para trabalhar e você já... – Abro a porta e dou de cara com Lou e sua nova trupe composta por Eduardo (seu novo peguete) e Analua.
- Oi para você também. – Lou diz enquanto fico paralisada na porta sem entender nada.
- Oi, achei que fosse minha vizinha. O que vocês fazem aqui? – Pergunto sem delongas.
– Já ouviu aquele ditado sobre Maomé e a montanha? Pois bem, viemos te buscar para comer um delicioso e gordurento hamburguer no Shark's.
- Eu disse que não iria. – Sussurro inutilmente para minha melhor amiga, como se eles não pudessem me ouvir.
- Calma Lis, vai ser legal. Eu prometo. – Analua diz com um sorriso torto na cara.
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Ela
RomanceLis é uma garota normal com problemas normais, que vive em uma pequena cidade litorânea, cujo seu único propósito parece ser coadjuvante da vida de sua melhor amiga Lou. Mas tudo está prestes a mudar em seu último ano na escola São Junípero, quando...