Capítulo 3

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Toby POV

- Ao menos conseguiu reparar se ela saiu sozinha? Ah meu Deus...

- Tenha calma Camila, a rapariga tinha alguém que a aguardava num carro mesmo à entrada do hospital.

- Ah mas isso...

- Camila, ela entrou de livre vontade, não se preocupe, está tudo bem, ela fez questão de o garantir quando me deu o recado para si, após vir aqui ver se o Toby continuava a dormir.

- Agradeço-lhe tanto doutora, ele ainda há de me matar de susto um dia destes! - doutora? Pois, bem me parecia que este colchão e este cheiro a mil e um desinfetantes me era familiar. Ah, além do pânico e fúria, misturados na voz da mana.

- Deixe-se de agradecimentos, minha querida. Preocupe-se em colocar algum juízo na cabeça d...

Abri os olhos, estava tudo meio turvo, tremido, confuso, as figuras da minha irmã e daquela que, tendo em conta o modo como dialogava com a Cami, suponho que seja a doutora Katherine Logan, muito amiga da médica do orfanato, não passavam de manchas, as suas expressões faciais podiam ser indecifráveis, que continuava a ter a certeza que me fitavam numa espécie de êxtase. Calaram-se de repente, é óbvio que repararam que acordei.

A excelente questão é, que é que me aconteceu, desta vez?

Será que foi mal comecei a beber? Não me lembro de nada depois das primeiras três cervejas. Ok, acho que pelo menos me recordo de um shot depois, depois, depois... Perdi a mana de vista e de resto, só um grande, grande vazio.

- Como te sentes, Toby? - a Cami sorriu muito calma e docemente, veio sentar-se na beirinha da cama, parecia exausta.

Sorri, nem foi para a tranquilizar, para ser sincero, não sei para que foi, só sorri, porque sim. Sentia o corpo meio dormente, como no início de uma bebedeira, sem a possibilidade de controlar bem os meus movimentos. No entanto, é impossível estar numa cama de hospital ainda bêbado, não é...? Em especial devido ao nascer do dia que consigo ver da janela, da última vez que me lembro de verificar, nem meia-noite era.

- Estou bem maninha. - eu estava, meio cansado, meio perdido, ainda assim não lhe menti. Estou ótimo!

Estou sempre ótimo.

- Bem, Toby? Quem é que consegue ficar bem depois de um coma alcoólico?! - ah, outro coma alcoólico, explica muita coisa.

Cami soava reprovadora, enraivecida, toda a calma anterior varreu-se-lhe, como se fosse capaz de me estrangular com as próprias mãos. Como é possível que, apesar de tudo isso, se mantivesse maternal, preocupada? A minha irmã é qualquer coisa de extraordinário.

- Pensava que já sabias que tenho por hábito ser diferente do normal. - uma pequena gargalhada escapou-me pelos lábios.

- Pois, eu bem sei, és um grandessíssimo idiota! - retorquiu atingindo o meu braço com um murro, ainda ri mais, a essa altura já a minha visão recuperara a sua nitidez.

- E vais dizer que tinha alguma piada se fosse diferente, maninha?

De repente o sorriso de quem ainda se controlava para tentar manter alguma seriedade e não desatar à gargalhada, sumiu-se-lhe das faces, foi como se a nossa conexão de irmãos me fizesse sentir o clima a gelar, me fizesse prever o que decorreria de seguida. Uma vez que pediu privacidade à doutora Katherine, não me restavam dúvidas de que aí vinha um sermão, dos gigantescos. E para quê? Ela sabe que não servirá de nada, eu sei que não a vou ouvir, tempo perdido.

There's Nothing Holding Me BackOnde histórias criam vida. Descubra agora