Capítulo 15

20 3 7
                                    

Jeremy POV

Estive com muita gente ao longo dos anos, dos sítios, dos dias, das distintas ocasiões, no último ano em especial. De entre todas as pessoas namorei (pelo menos a sério)uma única, Julian e podia jurar que era a minha alma gémea, o amor da minha vida, quando eu ainda acreditava nessas coisas...

O Julian tinha o melhor coração e a minha gargalhada favorita, curtia de ler e de se deitar comigo ao Sol na relva do quintal da casa da sua mãe, gostava de fumar quando se enervava, mais do que em qualquer outra altura e ele fumava muito o que não o deixava com mais ar de durão, que era o que muitos adolescentes tentavam ao fazê-lo. Embora mais baixo e magrito fui sempre eu quem o protegeu, quem se fez de forte, quem cuidou mais. E quando ele se tornou extremamente overprotective entrei em pânico e fui me distanciando pouco a pouco, parecia que algo me sufocava, até o levar ao limite... Magoou-me a sua mudança brusca, tão desconfortável, magoou-me que dissesse que era um mal agradecido que não dava valor às pessoas, mas sei que o fui, que fui o principal culpado pelo fim de nós dois, pelo fim do último resquício de mim mesmo. Limitei-me a aceitar que amor e merdas dessas não foram feitas para pessoas como eu, gente que desistiu de sentimentos e sensações bonitas reais, gente que desistiu da vida, que se limita a fingir que está tudo bem antes de se deixar cair de cabeça no abismo.

E depois, depois no início deste ano estava à beira da morte e ela apareceu, ela e a sua preocupação genuína, o seu coração grande, a teimosia, o sorriso singelo, o carinho, respeito e as dores, as dores que está sempre a tentar fingir que não existem, que não são dignas de alarme para ninguém. A Camila viu tudo aquilo que eu sou contra a minha vontade, viu este desastre e não fugiu, viu as duas faces da mesma moeda e teimou em ficar e por isso, porra por isso é que isto aconteceu! Porque senti a necessidade de olhar por ela como olha por mim, porque me preocupo, porque aparentemente tenho uma razão para me levantar da cama todos os dias, uma razão a sério desta vez.

De súbito estávamos a gritar na cara um do outro tal qual um par de idiotas, antes de não me aguentar e a beijar. É claro que não pensei, é que claro que por isso tive que ficar a noite inteira a compensar, estendido na cama, incapaz de adormecer, com a cabeça prestes a explodir de tanta coisa em que pensar ao mesmo tempo.

Não voltámos a trocar uma palavra desde então, salvo uns constrangidos "como estás?", quando por acaso nos cruzávamos no campus.

Sei lá, entrei em pânico, entrámos... Não era suposto acontecer assim.

Era uma chantagem, um acordo! Depois alguém que se importava a sério, determinada que dói, uma amiga, alguém sem a qual os meus dias perdiam a piada, o meu conforto, o meu safe place.

Refúgio

Engraçado, pensava que esse não era o meu tipo, afinal com o Juls sempre fui eu o refúgio e quando mudou deu merda, que irónico, apaixonar-me pela primeira pessoa a quem permiti que olhasse por mim e ela passar-se quando me tentei preocupar com ela como me passei uma vez que o Julian tentou fazer o mesmo, parece o raio de um ciclo inquebrável.

Seja como for, ainda me parece mais irónico que tudo, que tenha sido no meio dessa nossa discussão que tenhamos perdido o controlo e nos beijado, sim, nos, porque eu senti, ainda que meio em choque ela retribuiu, era mutuo.

Tão mútuo quanto a nossa mútua necessidade de fugir logo a seguir, que lindo.

Estraguei tudo...

Agora nem sei se ela vai à porra da festa! Se for preciso mudou de ideias e vou ficar que nem um idiota!

Não és assim tão especial, Jeremy, ela não ia faltar só por estarem nessa vossa merdinha estranha.

There's Nothing Holding Me BackOnde histórias criam vida. Descubra agora