Capítulo 2 - Queria mandá-la à merda e não, ao mesmo tempo.

33 5 22
                                    

Camila

Apenas após atravessar as portas envidraçadas do hospital e passar a ocupar uma das múltiplas cadeiras azuis e desconfortáveis da sala de espera, onde me mandaram permanecer, com a garantia de que me trariam notícias, me recordei de que havia desaparecido sem avisar ninguém. Se bem conheço Kayla, estará por esta altura num estado de alarme enorme, caso o álcool não lhe tenha já deturpado o sistema por completo.

Estava correta, o que não faltavam era chamadas perdidas suas, até de outras colegas. Todavia ainda foi ao meu irmão que resolvi ligar primeiro, embora estivesse certa de que estaria muito menos atento ao telemóvel que a minha grande amiga. Ainda era o meu irmão.

Tal qual era de esperar, a chamada caiu na caixa de correio uma e duas e três vezes, não me preocupava assim tanto, apesar de Toby ter uma tendência monstruosa para problemas, tinha uma ainda maior para foder com uma rapariga aleatória num canto qualquer, principalmente em noites de festa. Por fim resolvi ligar à Kayla.

- Cami! - exclamou ao atender, mal lhe ouvia a voz tamanho era o barulho a rodeá-la - Onde raios te meteste? Andava tudo à tua procura, porra!

Que exagero! Não é como se fosse algo fora do comum, pessoas perderem-se no meio de multidões, como aquela que estava na dita festa.

- Camila Gomes! Camila, és a Camila, irmã do Toby, não és? - nem tive tempo de expressar aquele pensamento ou de a tranquilizar contando o ocorrido, pois de súbito surgiu esta voz correspondente a uma bonita miúda de cabelos escuros presos num coque feito à pressa, que não trazia nada além de um vestido curtito de alcinhas, de um tom entre rosa e vermelho que avançava à pressa na minha direção de pés descalços e saltos altos na mão, uma vez que os seus olhos encontraram os meus.

A sua roupa bastava para me levar a suspeitar que outrora se encontrava na mesma festa que todos nós, porém foi a referência a Toby que me ligou todos os alertas, confirmando em simultâneo as minhas suspeitas.

- Kayla, eu estou bem, já te dou mais detalhes. - posto isto desliguei e permiti ao meu olhar que fosse tomado por completa preocupação.

- Sim, sou eu, que se passou? - a força nas pernas já nem me faltava, estava habituada a que muitas noites ou dias acabassem em salas de espera de hospitais, bem mais do que deveria.

- É possível que seja mais prudente sentares-te. - aconselhou acariciando-me o braço, era lógico que era grave, tendo em conta como ainda tremia.

- Se aqui estás significa que não é coisa para ficar parada, logo conta-me à vontade. - esforcei-me para soar o mais tranquila possível, com ou sem o meu instinto de irmã mais velha a gritar cá dentro, implorando por urgentes explicações.

- Bem... - engoliu em seco - O Toby ele, ele literalmente apagou, meio que, nos meus braços... - aqui já tinha o coração na garganta, contudo optei por deixá-la prosseguir - Nós estávamos a beijar-nos, havíamos até combinado de ir para o apartamento que umas amigas minhas dividem, para momentos mais, como posso dizer, privados - ok, já me arrependi de lhe permitir que continuasse - Ok, desculpa! Ele, ele de um momento para o outro ficou super estranho, pálido... Desapareceu para o exterior a dizer que precisava de apanhar ar mal reparei que já custava a aguentar-se em pé. Resolvi segui-lo, oh que bem que fiz!

Coma alcoólico. - li com facilidade na sua expressão perturbada.

É complicado descrever quando algo já não te surpreende e mesmo assim consegue fazer com que te caia o mundo aos pés, não existe uma palavra que defina tal sensação, apenas sei que é como estou a esta altura, por já possuir um certo conhecimento na área.

There's Nothing Holding Me BackOnde histórias criam vida. Descubra agora