There's Nothing Holding Me Back

Capítulo 24

"Edgar POV"

Foi difícil regressar à universidade nos dias seguintes àquele diálogo, mais difícil fora cruzar-me com Victória, doía-me tudo por ela, as palavras de Anthony ecoavam-me no cérebro sem parar, admirava–o tanto por escolher poupar a sobrinha a mergulhar no trauma uma vez mais, por muito que isso os colocasse a milhas um do outro e mesmo que fosse contra a sua necessidade de guardar tudo agora entendia um bocadinho melhor, não é de todo coisa que se partilhe com um desconhecido...

Ao menos já falou, ao menos regressou ao acompanhamento psicológico, parece mais leve.

Julguei que a nossa interação fora da universidade morresse ali, naquele pseudo abraço em que se deixou ser envolvido com os nossos corações a mil da desgraça da intensidade do momento, mas quando trocámos sorrisos na primeira aula e o vi recuperar pelo menos parte da sua energia típica, quando me pediu que ficasse no fim e me agradeceu, quando acabámos por caminhar junto àquela praia mais longe, onde havia parado o carro outrora, falávamos e falávamos e falávamos, quando se sentia capaz disso desabafava mais um pouco, às vezes era eu quem falava de como me sentia esgotado com o curso, os estudos, o ritmo que nos víamos obrigados a manter... às vezes não, limitavamo-nos a estar ali, passei a chegar atrasado a muitas saídas e a desviar-me de tantas outras devido àqueles momentos.

Faltava uma semana para as férias de natal, havia malta que regressava às terras antes do tempo na grande maioria, aqueles que eram de mais longe, os que tinham a sorte de já terem acabado as frequências ou de só terem exames depois do natal. Santa Bárbara esvaziava-se aos poucos e eu já era o único lá em casa por isso, devido ao frio resolvemos ocupar-nos da minha sala, comemos pizzas e falava-lhe de como decidira seguir pela psiquiatria, nem a Kayla e a Camila sabiam e com ele aquilo saía-me...

Eu sabia o que estava a fazer, caso contrário não me conheceria de todo, sabia que era errado e que podia causar-lhe mil problemas, sabia que tinha tendência a olhar para homens mais velhos e que a proximidade que desenvolvemos era meio caminho andado para não ter como voltar atrás, sabia que os meus dias não tinham metade da graça se de repente voltássemos a ser meros professor e aluno e não isto.

E quando naquela noite gargalhávamos no meu sofá por causa de um episódio de Friends que por acaso estava a dar no momento em que íamos por o filme, me imaginei a beijá-lo como se não houvesse amanhã, devia ter recuado, inventado uma desculpa para que saísse ou coisa parecida, ou fingir que não tinha o coração a mil com o seu sonoro riso e o sorriso lindíssimo desenhado nos seus lábios. Em vez disso dei por mim parado a fitá-lo.

Nem para disfarçar.

Parecia que o mundo tinha parado quando reparou e nem tive coragem de desviar o olhar, senti a cara a ferver diante do seu ar espantado. Depois sorriu e devo parecer completamente perdido.

- Obrigado por teres insistido, Edgar. - murmurou recostando-se mais ainda, a cabeça agora apoiada na parte de cima do sofá, o olhar agora focado no teto ainda que o sorriso se mantivesse.

Suspirei, mais calmo uma vez mais, com as suas palavras que já havia escutado umas poucas vezes.

- Sabes que já me agradeceste, certo?

Um riso, só um e baixinho, aquela sensação quente que me invadia o peito agravou-se, gostava tanto daquele calor, de como pareciam mesmo borboletas que esvoaçavam no meu interior.

- Sei, sei...

- Então para quê repetir, ham? Não é como se também nunca te tivesse dito que não foi nada de especial!

- E não é como se não tivesse respondido que sim, é. - retorquiu.

Quem não nos conhecesse provavelmente não faria ideia que éramos professor e aluno a esta altura, às vezes até nas aulas me via prestes a esquecer tais títulos, Anthony era muito, muito além disso e o meu corpo não me deixava mentir. Quanto mais próximos estavámos mais eu almejava extinguir qualquer distância e às vezes, só às vezes... conseguia ver nos seus olhos o que parecia ser um espelho dos meus sentimentos.