Capítulo 18

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Toby POV

Saí com a mana pouco depois, num completo silêncio, não o silêncio de antes mas uma espécie de silêncio de respeito mútuo, ela sabe que estou a processar o último tema e por muito que de repente queira que falemos disso como se sempre o tivéssemos feito, sabe que neste momento as palavras não servem para nada.

Estou bem quanto a voltarmos à casa, pelo menos acho que estou, mal me lembro dela afinal, como mal me lembro deles, não me diz nada que não tenham que ser outras pessoas a dizer-me, não me lembro, é como se nunca tivesse acontecido se não falarmos. Contudo, quanto ao orfanato não posso dizer o mesmo... Tudo naquele edifício me lembra... os meus pesadelos fazem questão que nunca me esqueça.

O que se formos analisar provavelmente só significa que o meu subconsciente nunca se esqueceu apesar de continuar a empurrar as más memórias para os confins do pensamento, como um dia fui empurrado pelo gradeamento a quatro andares do chão.

Detesto alturas, aviões, prédios, varandas...

A Cami fez-me sinal quando reparou na Torie sentada na relva, mudámos de direção e uma vez que também os seus olhos nos encontraram, levantou-se para nos cumprimentar, dar um abraço rápido à minha irmã, um a mim e foda-se o que me controlei para não a beijar nos lábios em vez de na testa, mas isso, ali em específico, seria definitivamente demasiado oficial para o nosso título de amigos com benefícios.

A mana fez-lhe uma pergunta qualquer sobre o professor que por acaso é tio da rapariga com que tenho andado, no entanto, para ser sincero, pouca foi a atenção que prestei. Não me interpretem mal, não me foquei noutra merda qualquer, nem tão pouco fitei o vazio perdido uma vez mais em pensamentos a respeito da viagem, na verdade não podia estar mais focado na figura à minha frente. Havia algo de estranho, aquela não era a Victoria que eu conhecia, pelo menos não a Victoria sóbria, que é o que por norma espero encontrar na universidade. Ela não é como eu, não precisa disso...

Algo não estava bem de todo, estava distante, melancólica.

Fiz sinal à mana e segui a figura que voltava a sentar-se nos campos, mais cabisbaixa do que alguma vez a vira.

- Toby, não estou lá grande companhia, o que é que...

- Fala.

- Ham?

- Acabei de ter toda uma conversa com a minha irmã sobre como falar é importante e deveríamos fazê-lo mais e tendo em conta tanta tristeza nessa carinha, espero que ajude mesmo, porque sou péssimo com estas cenas! - exclamei, sentado ao seu lado puxei as mangas do casaco antes arregaçadas para baixo e fechei-o, realmente eu com calor não poderia durar muito, a aragem gelava-me sempre até aos ossos, porém a forma como fazia esvoaçar os seus cabelos longos e dava à imagem diante dos meus olhos um ar cinematográfico, quase compensava.

Riu, parecia sincera, mas não conseguia ter a certeza. Por fim voltou-se para mim sem parar de sorrir, porém naquele instante nem pareceu esforçar-se para disfarçar a tristeza.

- Digamos apenas que a única família que me resta é na verdade o homem mais hipócrita que já conheci. - afirmou, a cabeça deitada nos joelhos que puxara contra o peito.

- Quanta agressividade! Não queres aprofundar? Antes parecidas curtir do teu tio...

- E curtia até ele me tratar como se querer saber alguma coisa dos meus pais fosse algum crime! - retorquiu, olhava-a com atenção, vi-a suspirar e não insisti, não parecia o correto a fazer - Depois da festa acabar fiquei à conversa com a Camila e o Jeremy acerca de passados merdosos e eu nem uma história tinha porque não me lembro de rigorosamente nada antes de viver com os meus avós e o Anthony! Queria saber de onde vim, percebes...? - transparecia uma dor tão maior de repente que me recordava da sua versão bêbada, os mesmos olhos aguados, a mesma máscara caída no chão só que num local muito mais público.

There's Nothing Holding Me BackOnde histórias criam vida. Descubra agora