Capítulo 8

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Toby POV

Vesti-me, a cada peça de roupa que enfiava, uma memória nada agradável surgia diante dos meus olhos, é por isto que detesto dormir!

Foi como se voltasse a ser o miúdo do orfanato que picava os mais velhos, mais fortes, que tropeçava quase de propósito, que se distraia a passar à estrada quase de propósito, amava a adrenalina como amava o facto de poder vir a tirar-me a vida. Foi como se voltasse a ser o órfão que não parecia nada órfão porque era tão alegre, menos, é claro, quando se metia nas casas de banho a escortanhar os pulsos, as pernas, na tentativa de sentir alguma coisa que não aquele vazio constante, não chegava tão perto da morte nessa altura quanto é de esperar, eu queria ir, mas era demasiado medroso, contudo ainda foi suficiente para deixar a Cami em pânico quando descobriu, para tentar que a psicóloga da escola fizesse algo de mim por ter medo de ela não conseguir, ninguém conseguiu.

Ninguém nunca conseguiu ao longo destes anos, mais tarde ou mais cedo desistem e deixam que parta para onde já tantas vezes estive a um deslize de cair.

Digo tanto, mas com ou sem pouca vontade de viver ao estar sóbrio e sozinho, ainda tenho a minha irmã mais velha e ainda tenho medo, pânico.

Não é de espantar que o meu cérebro estúpido tenha ido buscar a noite em que esses mesmos gajos me desafiaram a passar para o lado de lá da varanda do último andar do orfanato. A primeira vez em que damos um beijinho à morte (no caso, a primeira de que tenho memória, segundo consta...) não se esquece, no entanto, para ser honesto, não sei quem esteve mais perto dela, se eu, a Camila quando descobriu, ou os rapazes quando ela soube.

Terminei de calçar os ténis e coloquei-me de pé, pisquei os olhos, era para ser só um piscar de olhos... O meu corpo estremeceu todo ao rever aquilo outra vez, fui obrigado a sentar-me na beira de cama novamente ao sentir o meu corpo prestes a cair de um quarto andar.

A porta abriu-se de repente, dei um salto.

- Então, pronto? - assenti mal Torie proferira tais palavras - Nice, estão torradas a fazer na cozinha.

- Obrigado, mas... Como te disse, não sou de comer muito de manhã. - não era uma mentira, nunca acordava com apetite, nem tão pouco estava acostumado a comer após acordar, com a miúda com que fiz sexo na noite anterior.

- Boa, porque daqui a pouco é hora de almoçar, então se esperares um bocadito já nem será de manhã! - retorquiu, desarmou-me que desgraça.

Sorri, um incontrolável e rasgado sorriso em que a princípio os meus olhos não encontravam os seus, que no entanto lhe dirigi conforme me coloquei de pé.

Ela decidia, estava claro, como se ontem não tivesse já a certeza disso, não desgostei, de todo.

- Portanto que assim seja. - desisti, deixando-me guiar pela sua mão que agarrou a minha, tal qual lhe fiz ontem, tal qual me fez ontem, como se há horas não tivesse passado pelo espaço para o qual nos dirigíamos, como se fosse um caminho complicado e cheio de gente, não era, o que não fez com que odiasse este contacto físico. Gosto de contacto físico.

Já na cozinha, que se dividia da sala por nada além de um balcão, o que fez com que com facilidade avistasse a figura adormecida da terceira amiga, estendida no sofá, sem sinal de Peter, pobre coitado, não deve ter tido sorte.

Os meus olhos encontraram por fim os de Jeremy, as suas faces mudaram de cor instantaneamente(porquê? Que bela pergunta), não pude evitar um risinho que este pouco depois até me retribuiu, por sorte, sem entornar o café de que, como Nataly, bebericava, dividindo com a mesma, um prato de torradas. Não trocavam uma palavra.

There's Nothing Holding Me BackOnde histórias criam vida. Descubra agora