No Seu Olhar

De Volta Pra Casa 1

Cecília Lários

Os dias passaram tão rápido que eu mal pude perceber, e quando me dei conta, já era véspera da nossa viagem de volta para o Brasil.

Mas eu estou voltando para casa como uma outra pessoa, ainda mais renovada e pronta para assumir a família que eu sempre sonhei. Voltando com experiências de uma mulher madura e casada, voltando com novas concepções e com um amadurecimento interior também.

— Esses dias aqui em Bariloche foram incríveis — eu comecei dizendo, fechando a minha mala após certificar que não estava esquecendo nada.

— Pronta, senhora Lários? — Gustavo me instigou, abrindo um sorriso provocador — Pronta para fazer parte da loucura que é ser uma Lários?

— Estou pronta, e olha que não é de hoje — nós rimos.

— É mesmo… às vezes eu me esqueço como você já faz parte dessa família muito antes do nosso namoro.

— É… — eu ri recordando de tudo que já passamos desde o que dia que nos conhecemos — Deus já tinha preparado tudo para nós dois.

— É… — Gustavo sorriu — Sem contar a baita ajuda que recebemos da Dulce Maria e da Estefânia, não é?

Eu ri concordando.

— Principalmente elas duas… — meu sorriso foi ao céu ao lembrar da Dulce — Sabe, Gustavo, a Dulce Maria despertou o sentimento mais lindo na minha vida, sabe? — sorri totalmente encantada por lembrar da minha pequena — Todo o amor que eu dei pela Dulce, ela me retribui em dobro, Gustavo.

Ele sorriu tranquilo enquanto me olhava, mas logo soltou um suspiro e seu sorriso fraquejou um pouco.

— Meu amor, você sabe que não pode mais passar a mão na cabeça da Dulce toda vez que ela apronta, não é? — meu sorriso também fraquejou.

— Eu não fazia isso, Gustavo… apenas tentava resolver a situação de uma forma diferente.

— Eu sei, eu sei — ele avançou em minha direção, como se quisesse me tranquilizar antes dessa conversa tomar um outro rumo mais sério — Mas às vezes você vai precisar ser um pouco mais rude com ela, certo? Educar não é apenas dizer "sim", muitas vezes temos que dizer "não", queira a gente goste ou não.

Eu baixei o olhar, compreendo o que Gustavo queria dizer, mas mesmo assim não concordando totalmente. Eu sei como preciso ser com a Dulce, conheço a minha menina, e sei como lidar com ela.

— Isso não é uma correção, Cecília… eu sei que você sabe como agir com a Dulce, não tenho dúvidas disso… você apenas precisa tentar não ser mole demais com ela, tá?

Senti Gustavo erguer o meu rosto para poder olhar em meus olhos, então soltei um suspiro baixo enquanto eu assenti.

Agora éramos marido e mulher, responsáveis pela Dulce Maria, e sei que iremos ter muitas dessas conversas futuramente.

— Vem cá, vamos aproveitar os nossos últimos minutos nesse paraíso enquanto o táxi não chega — Gustavo segurou a minha cintura e depositou um beijo em minha bochecha.

Eu sorri, ignorando a nossa conversa e me permitindo aproveitar esses últimos minutos o máximo possível.

Gustavo juntou nossos corpos e me guiou até a janela mais próxima, ao lado da nossa cama, para admirarmos a imensidão branca da neve do lado de fora. Me aconcheguei em seus braços e entrelacei nossas mãos enquanto inspirava e expirava calmamente, como se nada mais no mudo pudesse atrapalhar esse momento tão especial.

Senti seus beijos serem depositados em meu rosto, descendo até meu pescoço e meu ombro, e subindo novamente para a minha bochecha. Me permito fechar os olhos para apreciar melhor a sensação que seus beijos me causam, e um sorriso bobo escapa de meus lábios.