Cap. 10 - Coisas mal resolvidas

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Cecília Lários

Abri uma das gavetas no meu lado do closet em busca de roupas para correr com o Gustavo nessa manhã de domingo. Nunca fui muito de fazer exercícios físicos, pois só de andar todo aquele colégio — muitas vezes em busca da Dulce Maria — já valia por qualquer exercício. Mas, Gustavo me pediu tanto para acompanhá-lo nessa manhã que eu resolvi aceitar. 

— Pronta meu amor? — ele entrou no closet já pronto para sairmos, após eu finalmente ter escolhido uma roupa básica e ter me trocado. 

— Aham — respondi saindo do closet, encontrando meu marido de bermuda e camisa esportiva. Gustavo fica ainda mais lindo sem ternos e toda a formalidade da empresa. 

Eu o amo com Gustavo Lários, dono de uma das maiores empresas de exportação de café, mas eu amo quando ele é apenas o meu Gustavo, o meu marido, pai da Dulce Maria, e nada mais que isso. 

— A Dulce está brincando no quarto com o Emílio, a Fran e o Silvestre estão em casa, ficam de olho neles — ele disse. 

Seguimos para o quarto da Dulce, onde ela brincava de bola com o Emílio. Os dois haviam chegado há pouco tempo do teste de futebol que o Zé Felipe fez, e preciso dizer que estavam umas graças com a camisa personalizada com a foto do Zé Bagunça. 

— Filhota, eu e a Cecília estamos saindo para correr, tá? A Fran e o Silvestre estão lá embaixo, qualquer coisa é só chamá-los — disse Gustavo.

— Eu não sabia que você corria, mamãe. 

Eu ri. 

— Como não? E todas as vezes que eu corri atrás de você naquele colégio, hein? — eles riram, e por um breve momento, minha mente viajou para o momento em que eu ainda era noviça e vivia atrás da Dulce e da Fabiana, que viviam aprontando e me colocando junto na bagunça. Às vezes eu olho para o passado e dou uma risada ao perceber que eu nem sonhava com o que me aguardava futuramente. — Vamos? Eu vou ganhar de você na corrida… — mal terminei de falar, saí correndo do quarto da Dulce e desci as escadas tentando barrar Gustavo que tentava me ultrapassar, mas me casei com um varapau de dois metros que corre há anos, e eu apenas há cinco minutos. — Isso aqui não vai ser justo — comentei assim que entramos no elevador, e ele riu me olhando. 

— Então vamos deixar isso aqui mais interessante… — ele disse, se colocando à minha frente, me prensando contra a caixa de metal que nos leva para o hall do prédio — Fazemos uma pequena aposta… — senti quando suas mãos pousaram em minha cintura com vontade — se eu ganhar, eu quero algo seu, e, se por acaso a senhora lários aqui ganhar, eu faço o que você quiser… que tal? é justo para você? 

Eu queria rir, mas a forma intensa e poderosa como seu olhar penetrava o meu riso se calou e meu coração acelerou. É claro que ele está falando sério, e apenas está aguardando a minha confirmação. Abro um sorriso entrando no seu joguinho, enroscando os dois braços por volta de seu pescoço antes de me inclinar e depositar um selinho suave em seus lábios antes de dar a minha resposta. 

 — O que eu quiser? Nossa, são tantas possibilidades — murmurei contra a sua boca, colando mais os nossos corpos. 

Estou ciente que estamos quase chegando ao térreo e preciso seguir logo com a minha resposta.

— Eu assumo o risco — ele respondeu, puxando os lábios de canto de forma que um sorriso um pouco sem-vergonha expanda em seu rosto. 

— Fechado — sem mais, ocupei o curto espaço entre as nossas bocas assim que o puxei para um beijo rápido, o suficiente possível para selar ainda mais essa nossa brincadeira. Diminui a intensidade do beijo assim que ouvi as portas do elevador se abrindo — Começando agora! — o empurrei para o lado, saindo em disparada na sua frente até o portão do prédio, e saindo, posteriormente, para a rua. 

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