Cap. 16 - A verdadeira mentira

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Gustavo Lários

Subi as escadas da cobertura correndo, ansiando por encontrar a minha esposa no nosso quarto, se preparando para o nosso jantar. Eu a beijaria, diria o quanto estava linda e perguntaria por nossa filha. Depois perguntaria sobre o seu dia, sabendo que certamente ele me contaria uma história maluca típica daquele colégio, e então eu iria falar sobre o meu dia, principalmente sobre a visita inesperada do meu ex sogro, e sobre suas ameaças.

Tenho certeza que Cecília irá dizer as palavras certas para me deixar aliviado, reconfortado em seus braços, como sempre. Cecília faz isso comigo, me conforta.

Entrei no quarto, mas ele estava em completo silêncio e em um escuro arrepiante. Acendi a luz, pensando que Cecília poderia estar tirando um cochilo, mas a cama estava impecavelmente arrumada. Talvez ela esteja no banho. Entrei direito no banheiro, após tocar levemente na porta e não obter resposta, mas ele também está vazio. Comecei a estranhar. Voltei para o nosso closet e me assustei. Boa parte das roupas dela sumiram, não estão penduradas no lugar de sempre. O que aconteceu aqui?

Saquei meu celular do bolso e tentei ligar uma, duas, três vezes, mas todas as tentativas foram sem sucesso.

Desci as escadas correndo gritando por Silvestre ou pela Fran, por qualquer um que pudesse me explicar porque as roupas de Cecília sumiram do closet. Os dois também não sabem a resposta, mas afirmaram que viram a Cecília chegar em casa e subir para se aprontar, como sempre fazia.

Passei a mão pelo rosto aflito.

O marido chegar em casa e ver que as roupas da sua esposa sumiram e que ela não atende as suas ligações não é um bom sinal. Não mesmo.

Pensei em ligar para Estefânia ou até para o meu irmão e para a madre, mas minha prima está grávida e a preocupação com a própria família já a consome bastante, e eu não posso preocupar a madre e o meu irmão também. Não agora. Pensei, pensei e pensei. Minha mente só conseguia chegar a um único local: a casa de Fátima.

Peguei a chave do carro e desci para a garagem do prédio. O elevador pareceu uma eternidade. Me joguei dentro do carro e acelerei para a casa da minha cunhada, tentando ligar para o celular de Cecília várias vezes. Ele parecia estar desligado. Algo não estava certo.

Toquei a campainha assim que cheguei. Bati na porta. Toquei de novo e bati de novo.

Cristóvão apareceu.

— Cristóvão, a Cecília está aqui? — questionei de uma vez.

Não me importava o nosso conflito.
Eu quero saber da minha esposa.

— Você tem muita cara de pau de aparecer aqui depois de tudo, não é Gustavo?

O encarei incrédulo.

— Cristóvão, eu quero saber da minha esposa. Não estou falando da gente.

— Eu também estou falando da sua esposa, Gustavo — ele firmou — ou ex-esposa.

Quis gritar.

— Do que você está falando? Cadê a Cecília? CECÍLIA? VOCÊ ESTÁ AÍ? — gritei, ansiando para que ela aparecesse.

Cristóvão me fuzilou com o olhar.

— Fala baixo! Ela não precisa ficar ouvindo você assim depois do que você aconteceu. Você acabou com o seu casamento, Gustavo.

Me balancei para trás.

— Mas o que foi que eu fiz?

— Você traiu a sua esposa, Gustavo. Foi isso o que você fez!

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⏰ Última atualização: Jun 21, 2022 ⏰

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