Cecília Lários
Ergo o olhar na sala de aula para averiguar se todas as meninas estão concentradas na lição de português que passei há poucos instantes. Algumas e outras de vez em quando cochicham algo entre si, mas de modo geral todas parecem estar bem concentradas. Hoje elas estão bem mais calmas do que os outros dias normalmente, e eu não sei se agradeço por isso ou se eu estranho.
Tento me concentrar novamente nas outras atividades que estou corrigindo, mas não consigo. Minha mente viaja para o Rey Café, pensando nos inúmeros problemas que o Gustavo está tendo. Eu tenho ao máximo não me preocupar com os problemas da empresa, pois além de confiar seriamente em meu marido nas suas decisões, ainda tenho o colégio e minhas alunas para esgotar todas as minhas preocupações, mas na maioria das vezes eu não consigo.
Eu percebo como Gustavo está sempre em alerta, pensativo demais, calado. Ele apenas consegue se distrair um pouco quando a Dulce está em casa, mas isso é apenas nos finais de semana, então nos outros cinco dias Gustavo fica inquieto, se remexendo de um lado para outro na cama quando vamos dormir, e eu sei que tudo isso é preocupação. Além disso, penso em minha irmã, e também no Cristóvão. Tentei conversar com ela há alguns dias, mas apenas tivemos uma grande discussão e isso piorou bastante a relação do Gustavo e do Cristóvão, que já estava por um fio.
Só de pensar em todos esses problemas, fico esgotada.
— Professora Cecília? — Ana Júlia me chama.
— Oi, Ana Júlia, pode falar.
— Posso ir ao banheiro?
Eu ri, pois acreditei que seria algum problema.
— Pode sim, mas rápido que daqui a pouco a Irmã Luzia chega para dar aula de Inglês para vocês, tá? — ela assentiu e correu para fora da sala.
— Eu adoro a aula de inglês, não tenho nenhuma dúvida — ouvi a Bárbara dizer em provocação e me segurei para não revirar os olhos. Às vezes até eu não aguento essas provocações.
— Claro né, você morou nos Estados Unidos, mas tem outras meninas que querem aprender e a gente tem que respeitar — Duda disse, enfatizando o ‘respeitar’.
— Tá bom, tá bom meninas — intervi — Vamos terminar essas atividades que eu quero todas prontas antes da aula acabar.
[...]— A sala é sua, irmã — eu disse a irmã Luzia, ao terminar de recolher minhas coisas após o fim de minha aula — Tchau meninas, até daqui a pouco.
— Até daqui a pouco, professora Cecília — todas disseram em uníssono, me fazendo rir.
Assim que saí da sala, pensei no que fazer. Quero ir ver a Diana para conversarmos um pouco pois faz um tempinho que nós fazemos isso, mas ainda tenho que combinar com a Fabiana uma aula que eu e elas estamos planejando juntas para as meninas.
— Cecília? — ouço me chamar.
Quando me virei, encontrei a irmã Ana parecendo um pouco apreensiva.
— Oi irmã, tudo bem? O que houve?
— A Madre quer falar com você lá na sala dela.
— Hm, tá bom, eu já vou para lá.
— Mas ela quer que você leve a Dulce Maria também.
Fiz careta estranhando.
— A Dulce?
— É, foi ela que pediu… — Irmã Ana ergueu os ombros, estranhando tanto quanto eu.
Estranhando o pedido da Madre, volto para a sala de aula à procura da Dulce Maria.
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No Seu Olhar
Roman d'amourUma história baseada na história de Carinha de Anjo a partir do momento do casamento de Gucilia. No Seu Olhar irá detalhar o tão sonhado casamento de Gustavo e Cecília, o dia a dia, a relação de uma família completa com a Dulce, a superação de prob...