Prólogo

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Sakura

Minha cabeça doía, pulsado tanto que parecia estar separada do resto do meu corpo. Eu conseguia sentir as conexões do meu cérebro tentando funcionar acima da agonia e falhando. Meus braços não respondiam aos meus comandos e eu nem conseguia sentir minhas pernas.

Ainda de olhos fechados, tentei entender onde estava, lendo o ambiente ao redor com outros sentidos que não fossem a visão. Havia o som constante de água correndo, lembrando o farfalhar de um rio calmo. O ar era úmido e abafado, apesar de frio. Meus pulmões tinham que fazer mais força que o normal para conseguir oxigênio e a cada respiração eu sentia o cheiro marcante de pedra molhada e mofo. Havia um gosto amargo de sangue em minha língua, descendo até minha garganta quente e desagradável.

O ambiente era silencioso, mas não parecia seguro nem tranquilo. Havia uma energia ao meu redor, como correntes elétricas, pesando meu corpo contra o chão e fazendo meu coração bater forte. Adrenalina. Meu corpo sabia que estava em perigo, mesmo sem ter certeza do que estava acontecendo.

Com esforço – e medo – abri os olhos, sentindo as pálpebras queimando de dor e minhas pupilas se contraírem diante da luz. Apesar de não estar diante de luz natural, eu tinha passado muito tempo na escuridão total e agora não conseguia assimilar a luminosidade artificial ao meu redor.

Minha mão direita se ergueu em direção ao meu rosto, sentindo sangue seco e hematomas altos, doloridos. Com dificuldade, percebi que apenas um olho meu estava aberto, já que o outro estava inchado a ponto de ficar incapacitado.

Havia uma figura à minha frente, uma sombra alta, macabra e sorridente.

Orochimaru.

As memórias começaram a fervilhar em minha mente, mais rápido do que eu conseguia assimilar e gemi diante da sobrecarga de informação. Felizmente – ou infelizmente – agora eu me lembrava do que tinha acontecido e como tinha ido parar ali.

Orochimaru tinha ordenado que eu fosse sequestrada e seus capangas eram extremamente violentos. Eu tinha tentado lutar, mas tinha falhado e sido agredida tão violentamente que perdera a consciência. Agora estava em uma caverna fria, envolta por ar viciado, deitada no chão úmido e separada de Orochimaru por uma grade firme de ferro, envolta em uma aura arrocheada. Era uma cela.

- O que você quer de mim? – murmurei na direção de Orochimaru, buscando minha voz que se perdera em minha garganta arranhada e estrangulada.

Eu estava surpresa por estar viva depois de todos os golpes que tinha recebido. Podia sentir a extensão dos danos espalhando sofrimento pelo meu corpo: uma perna quebrada, um olho inchado, órgãos internos provavelmente sofrendo hemorragia. Caso não recebesse atendimento médico, dificilmente eu sobreviveria. Até mesmo minha respiração estava ficando cada vez mais fraca e eu precisava fazer uma força surreal para trazer o ar para dentro.

- Shhh, não faça força, querida Sakura – A voz melodiosa de Orochimaru me causou arrepios – Vamos cuidar muito bem de você.

Meu corpo cedeu, fraco, e minha visão ficou embaçada novamente. Senti um toque quente em minha pele e tentei me afastar, mas o máximo que consegui foi deslizar uma perna pelo chão gelado. Definitivamente não era Orochimaru quem estava me tocando, visto que ele tinha a pele gelada como a neve, mas ainda assim eu estava terrorizada. Quem estava sobre mim e o que queria comigo? Depois de ter sido agredida de forma tão intensa, eu duvidava que estivesse com aparência agradável o suficiente, mas eles eram sádicos e podiam muito bem estar em busca de mais...

As mãos quentes e macias começou a me despir, deixando meu corpo nu sobre a pedra úmida. No auge dos meus treze anos de idade, aquela era a primeira vez que eu ficava nua na frente de outra pessoa que não meus pais. Era apavorante e lágrimas corriam pelos meus olhos castigados.

- Fique tranquila, Sakura, estamos apenas cuidando de você – Orochimaru disse, mas sua afirmação não ajudou em nada.

Eu sentia frio, dor, mas acima de tudo, medo. Porém, minhas suspeitas estavam erradas, graças aos céus. As mãos quentes não me tocaram de forma inapropriada, nem tentaram tirar mais de mim do que os outros capangas já tinham tirado. Ao invés disso, elas passaram um pano embebido em um líquido quente sobre minhas feridas e emanaram chacra para curá-las.

Durante longos minutos, fiquei deitada, imóvel, sentindo meu corpo ser curado pouco a pouco. Logo meus olhos estavam se abrindo novamente e a figura diante de mim se revelou lentamente. Um ninja de cabelos cinzentos e óculos tratava de mim com atenção. Kabuto.

Eu me lembrava dele, o capanga infiltrado de Orochimaru que tinha fingido nos ajudar apenas para levar Sasuke até seu mestre. Mas Sasuke não tinha agido como eles esperavam: apesar de ter recebido a marca da maldição e de ter sido oferecido poder inigualável, tinha fugido da vila em busca de evolução sozinho, sem seguir os passos de Orochimaru. A notícia tinha corrido em toda a Konoha e todos acreditavam que Orochimaru ia fazer de tudo para encontrar o Uchiha e leva-lo para seu lado.

Kabuto me vestiu em um vestido leve e delicado, com tecido fino demais para o frio que fazia na caverna. Seu toque deixou minha pele e seus passos soaram, afastando-se de mim.

- Por quê? – soltei a pergunta com mais facilidade que antes, mas ainda sentindo dores no peito.

A risada de Orochimaru tomou o ambiente, ecoando nas paredes e envolvendo meu corpo como uma onda.

- Sasuke tem algo que eu quero e, agora, eu tenho algo que ele quer – respondeu, em um tom de voz satisfeito e ansioso.

Então era por isso que Orochimaru tinha me sequestrado? Ele acreditava que Sasuke viria me salvar e, assim, conseguiria tomar o que tanto queria do Uchiha? Como ele estava enganado.

Sasuke deixara a aldeia sem olhar para trás, abandonando os amigos, o sensei e todo o amor que eu ofereci a ele. Minha admiração, meu cuidado, meus sentimentos não tinham sido o suficiente para impedi-lo de partir e, definitivamente, não seriam suficientes para fazê-lo vir me resgatar.

- Sasuke... Não... Virá – declarei, com dificuldade.

Mas Orochimaru discordou de mim, abrindo um sorriso enorme, que tomou todo o seu rosto e fez meus músculos retesarem.

- Veremos... – disse e me deixou sozinha na cela fria.

**NOTA DA AUTORA**

Percebi que há a necessidade de ressaltar um detalhe: NÃO HÁ ABUSOS SEXUAIS NESSA FIC.

Sou extremamente contra esse tipo de ato e jamais escreveria uma fanfic onde um personagem sofre esse tipo de agressão. As torturas físicas que Sakura descreve são apenas e SOMENTE agressões (socos, jutsus, etc). Em nenhum momento a nudez dela é vista com desejo por nenhum dos torturadores nem pelo Kabuto quando trata ela. 

Mas acredito que é importante reforçar que sim, essa fic trata de assuntos muito delicados, como sequestro, depressão e tem sim bastante violência. Porém, apesar de Sakura passar por muita coisa triste, em momento NENHUM ela é abusada sexualmente.

O Tempo Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora