Xadrez

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Sasuke

A consciência começou a me alcançar, para meu sofrimento, porque junto dela veio a dor. Costas, rosto, braços, pés e todos os órgãos do meu corpo latejavam, ardiam, sangravam, gritavam por socorro. Um gemido baixo escapou pela minha boca e ecoou no ambiente.

Abri os olhos, temeroso de que a luz pudesse fazer minhas córneas arderem, mas não havia tanta luz assim. A penumbra revelava apenas o suficiente do lugar onde eu estava, de forma deprimente e quase macabra.

A cela ficava em uma caverna úmida, onde um rio tranquilo corria ao fundo. Havia uma grade de ferro protegida por um jutsu separando-me da outra prisioneira, formando duas celas individuais.

A outra prisioneira.

Sakura.

Ela estava sentada próxima ao rio, em posição de meditação, olhos fechados, parecendo concentrada. Provavelmente sabia que eu estava acordado, mas não parecia reagir a isso.

— Sakura — chamei, sem resposta.

Ela nem se moveu. Será que estava muito concentrada em sua meditação?

— Sakura! — chamei mais alto, ainda sem resposta.

Ergui meu corpo com dificuldade, sentindo as pontadas de dor se espalhando e fazendo meus músculos retesarem. Com grande esforço, arrastei-me até a grade que separava nossas celas, tomando cuidado para não tocar na grade enfeitiçada. Agora estava bem mais próximo de Sakura e de seu espaço e conseguia ver melhor. Havia um lençol cuidadosamente dobrado na parte mais seca da cela, marcas nas paredes que se assemelhavam a desenhos e, claro, ela. Sentada, calmamente meditando, respirando de forma cadenciada, ignorando-me totalmente.

Parte de mim, timidamente, teve que admitir que estava incomodada com essa falta de reação. Sakura nunca tinha me tratado dessa forma antes e não era nada agradável. Eu tinha me acostumado a sua constante preocupação e ao seu cuidado carinhoso, essa nova Sakura era uma estranha para mim. Mas eu provavelmente era um estranho para ela também, depois de tantos anos longe. Isso sem contar que Orochimaru só a tinha prendido como uma isca para me atrair e, depois de cinco anos nesse cativeiro, eu duvidava que ainda fosse a pessoa preferida dela.

Naruto e Kakashi duvidaram que eu não soubesse que Sakura era refém de Orochimaru, mas a verdade era que, onde eu estivera durante esses cinco anos, eu não tinha acesso nenhum a informações externas. Eles tinham questionado isso também, argumentando que só se eu tivesse vivido preso por cinco anos. Mal sabiam eles...

— Você sabe algum jutsu de cura? — perguntei, ainda tentando fazer com que ela me respondesse.

Dessa vez tive sucesso em fazê-la falar, mas não foi exatamente o que eu imaginei:

— Será que dá pra você calar a boca? — cuspiu ela, ríspida, ainda de olhos fechados e em sua posição de meditação.

Se eu não estivesse com o queixo fraturado, teria aberto a boca, impressionado.

— O que você... — Ela não me deixou terminar a frase.

— Cala a boca! — exigiu, mais irritada que antes.

Esse era algum universo paralelo? Essa era mesmo Sakura? Não era possível.

— Por que você está com tanta raiva d... — Antes que eu terminasse a pergunta, Sakura se levantou num salto, furiosa, os olhos ardendo de ódio.

Sem que eu tivesse chance de reagir, ou mesmo me defender, ela me atingiu, lançando uma pedra pesada em minha direção. Caí para trás, ofegante, percebendo que não era exatamente uma pedra, e sim chacra. Como se tivesse me socado à distância, ela emanara uma quantidade tão absurda e forte de energia sobre mim que o ar - e as palavras - fugiram da minha garganta.

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