Como chegamos até aqui

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Sasuke

Era a primeira vez em meses que eu tinha uma noite de sono tranquila, sem precisar manter um olho aberto pelo risco de ser atacado, então acabei perdendo a hora. Quando acordei, Naruto já tinha saído para sua ronda e Kakashi dormia, sereno, no beliche acima do meu. Eu nem mesmo tinha ouvido os dois andarem pelo quarto, apagado como estivera.

Lavei o rosto e escovei os dentes antes de sair para ver o dia lindo que estava fazendo do lado de fora. Não havia nenhuma nuvem no céu, o rio corria tranquilo, o sol brilhava sobre a casa de campo, iluminando todos os cômodos. Mas Sakura não estava ali.

Meu coração deu um salto, preocupado por um instante, mas logo se acalmou. Se Kakashi estava dormindo tranquilo, não era possível que algo de ruim tivesse acontecido.

Saí para o quintal, ouvindo uma voz distante no galinheiro. Aproximei-me e encontrei Sakura, conversando com as galinhas como se fossem velhas amigas. Ela segurava uma no colo e a cena chegou a ser cômica.

— Você é a mais bonitinha de todas, sabia? — ela dizia para a galinha — Brincadeira, meninas, vocês todas são lindas.

As galinhas pareciam responder a ela, piando com entusiasmo cada vez que Sakura lhes dava uma deixa.

— Essa também era a favorita de Itachi — Sakura se assustou ao ouvir minha voz, mas continuou segurando a galinha delicadamente — Dá pra acreditar nisso? Meu irmão tinha uma galinha favorita.

Sakura riu.

— Realmente é difícil de imaginar — respondeu e devolveu a penosa ao galinheiro, onde ela pareceu se gabar com as amigas por ter sido a única a receber colo e carinho.

— E aquela ali — Apontei para uma muda na horta — Era a planta preferida dele.

— O pé de cebolinha?

— Não, do lado dele.

Sakura percebeu que se tratava de uma cerejeira em estágios iniciais de vida e abriu um sorriso.

— Preferida de Itachi ou sua preferida?

Eu não esperava por essa pergunta, nem mesmo que ela me encarasse com aquele olhar cândido e suave. Perdi ligeiramente o equilíbrio, mas disfarcei, fingindo que estava querendo seguir em direção ao rio e ela me seguiu.

— Acho que era a preferida da casa — respondi — Deidara também gostava muito dela.

— Você viveu muitas histórias com eles aqui, não é mesmo?

Sentamos em uma pedra alta, deixando apenas nossos pés dentro da água corrente, lado a lado.

— Éramos uma família — admiti — Meio esquisita e muito brigona, mas uma família.

Sakura sorriu, parecendo imaginar nossos momentos naquela casa de campo, e observou o rio correndo, com peixes nadando tranquilos lá dentro.

— Eu viveria aqui para sempre sem reclamar, sabia? — disse ela, de repente.

Observei os arredores também, admirando com o mesmo carinho a natureza que nos rodeava, a casa que meu irmão e Deidara tinham construído juntos, a história que poderia construir para mim ali.

— Acho que nunca te perguntei como você veio parar aqui — Ela gesticulou para o exato lugar onde estávamos — Como se aliou a seu irmão e de onde veio a ideia de atacar Orochimaru.

Percebi que era verdade: Sakura era a única naquela casa que não sabia como tudo tinha acontecido. Ela tinha confiado em nós e se entregado ao resgate, vindo parar na casa de Itachi, mas não sabia como eu tinha vindo parar aqui, nessa casa, vivendo como uma família com meu irmão e Deidara.

O Tempo Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora