Surpresas

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Os primeiros raios de sol saíam no horizonte, encontrando Kázmér em sua costumeira caminhada. Ele fora um dos primeiros a se levantar. Embora versado no ciclo da vida e acostumado às perdas, o ancião não podia negar as saudades que tinha de amigos, de família e, principalmente, de Lörinc. Em suas caminhadas, os pensamentos iam ao encontro de seu amado parceiro, parte relembrando o passado e parte desejando ardentemente estar com ele novamente. Kázmér constantemente se perguntava como Lörinc teria lidado com a relutância dos jovens, sabendo que sua disposição amável e gentil o levaria mais longe e mais depressa no treinamento e no entendimento entre eles. Até que os quatro aparecessem, a tensão continuaria presente. Com alívio, ele ouve a voz de Bel, dizendo-lhe que o estro cuidou de parte do problema, mas que ainda havia detalhes importantes a serem tratados. Uma última frase "a ajuda está a caminho", foi ouvida antes que o ancião se aproximasse do centro do vilarejo, onde vários adultos terminavam de limpar e organizar. Um Ödön irritado queria ir atrás de Gyuri, mas Cili, que não desgrudara de Aliz desde a noite anterior, não permitira, dizendo-lhe que o irmão certamente estava bem. Então Ödön voltou sua carga para Andras, Lucius e Elek, sendo igualmente repreendido pela irmã mais nova. Uma sonolenta Zsóka sai de casa, ainda desgrenhada, procurando seu pai. Pegando-a no colo, ele se junta aos outros adultos e anciãos que pararam para conversar com Kázmér

- Saudações.

Todos se viram para o jovem, percebendo-lhe a expressão preocupada. Imaginando tratar-se de zelo pelo irmão mais novo e os amigos, eles tentam ser discretos e apenas o saúdam, deixando Zóltan iniciar a conversa. Mas Zóltan está mais ocupado, ou talvez preocupado, observando a pequena menina nos braços do pai. A sensação de que precisa proteger seu povo está cada vez mais forte dentro de si. Há tantos pequenos, tantos inocentes! Pessoas que sequer têm como se defender. Zóltan não estivera em uma luta séria, como Sárika e Kázmér, que ajudaram a vila vizinha quando fora atacada por saqueadores, ou quando Sárika lutou com o farkas que aterrorizavam outro vilarejo mais distante, ou mesmo quando eles deram refúgio a tantas outras pessoas que fugiam da tirania do rei Gezá e precisaram despistar os soldados reais. Tais pessoas, em sinal de profunda gratidão, passaram a guardar-lhes o segredo e juraram-lhes lealdade. Ora, Zóltan, sendo um homem de ação, precisava fazer alguma coisa. Caso contrário não seria um alfa digno. E a cada momento acordado, ele pensava em apenas uma coisa: como ajudar seu povo a sobreviver. Kázmér, percebendo o ar alheio de Zóltan, se aproxima dos dois e inicia a conversa.

- Saudações, Ödön. Pequena Zsóka, acordada tão cedo?

Ainda esfregando os olhos, a pequena apenas retruca, a voz ainda sonolenta.

- Nagybácsi Luli e Nagybácsi Lek estão na floresta.

- Eles estão bem.

Para espanto geral, a menina parece se animar no colo do pai, enquanto diz.

- Sim! Nagybácsi Luli e Nagybácsi Lek vão ficar juntos para sempre! Como anya e apu (mãe e pai). - O espanto é geral, já que Kázmér ainda não havia dividido a informação com ninguém. Só que antes que alguém consiga perguntar como a pequena podia ter certeza, ela dispara. - Quero biscoitos!!!!

Sabendo que não conseguirá uma resposta da menina, e imaginando que, talvez, seja apenas seu desejo íntimo de ver os tios preferidos unidos, Kázmér sorri, tocando-lhe a bochecha com o polegar, ao dizer.

- Pode pedi-los à nagymamma Teçá. Tenho certeza de que ela está acordada e que os dará de bom grado.

Zsóka devolve-lhe o sorriso e agradece.

- Obrigada, nagypappa Kázmér.

Desvencilhando-se dos braços do pai, a garotinha corre para a casa de Teçá e János. Várias outras crianças começam a aparecer, correndo pela aldeia e brincando. O dia posterior ao estro é sempre assim. As festividades continuam e os novos casais são parabenizados com um almoço comunitário. A união do clã é continuamente fomentada com celebrações, grandes refeições e reuniões. Pouco a pouco, os jovens que participaram do estro na noite anterior, chegam com seus parceiros, para ajudar na organização do almoço. Exceto por Andras, Lucius, Elek e Gyuri. O fogo havia se extinguido há muito tempo e o sol já ia alto no céu quando Andras acorda, as pernas entrelaçadas nas de Lucius. Após um pequeno cochilo, eles sentiram novamente a necessidade de experimentar o novo elo, dando vazão à paixão. Apesar de ter o prazer de ver Lucius cavalgando em si, de tê-lo sob seu corpo com as pernas apoiadas em seus braços, de tê-lo visto de quatro completamente submisso, e também de bruços balbuciando coisas incoerentes, Andras ainda não havia explorado o corpo de seu amado como gostaria. Aliás, ele não achava que conseguiria, algum dia, ficar satisfeito. Não. Ele sempre iria querer mais e mais. Ele ouvira rumores de que no reino havia uma substância que deixava seus usuários dependentes de tal maneira, que não podiam passar um dia sem ela. Lucius era para Andras tal substância. Quanto mais o tinha, mais o queria. Observando-lhe o semblante sereno, Andras agradece à Deusa pelo presente. Disposto a aproveitar ao máximo seu tempo com o mais novo, ele toca levemente seus cabelos, lembrando-se de como eles se sentiam macios contra sua pele. Os olhos castanhos, agora fechados, jamais fugiram dos seus, espelhando todas as emoções sentidas com os toques, com os beijos. Andras apenas lamentou não ter podido vê-los no momento em que o elo perpétuo foi selado. O que ele não daria para ver sua expressão. Se os murmúrios e gemidos fossem alguma indicação, seu pequeno Luna estava tão contente quanto ele.

Canis lupus (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora