Enquanto Andras se afastava, Lucius remoía o fato de ter se deixado dominar por seus desejos. A última coisa que queria, era que o alfa achasse que ele era sua propriedade. Entretanto, sua mente o tornava ciente de que já era tarde e que ele pertencia a Andras de todas as maneiras possíveis e imagináveis, pela forma como que se permitiu derreter nos braços fortes do alfa e correspondeu ao seu beijo sem reservas. Com Andras, ele experimentou uma felicidade que jamais sentira antes e por isso tinha vergonha. Não fosse pela interrupção de Ödön, as coisas poderiam ter ido longe demais, e Lucius não conseguiria parar. Se fosse sincero consigo mesmo, parar não estava em seus planos. Assustado e com medo, Lucius toma sua decisão. Por um momento ele pensa em conversar com Gyuri, para tirar suas dúvidas, mas logo descarta a idéia. Sabendo-se impossibilitado de continuar o treinamento, ele vai para casa. Ao entrar pela porta, sente o cheiro de comida vindo da cozinha. Desde sua transformação que Ambrus o liberou das tarefas domésticas e de acompanhá-lo nas visitas aos doentes. Tendo conversado com Kázmér e Sárika, Ambrus sabia da importância de preparar Lucius para o porvir. Ele temia por seu único filho, estando mais do que disposto a ajudá-lo no que fosse preciso. Por conta dos exercícios diários, Ambrus mal via o menino, que chegava em casa sempre exausto e logo caía na cama. Contudo, hoje Lucius parecia atormentado.
- Filho, o que houve? Parece , além de esgotado, com algum problema que o aflige. Posso ajudá-lo?
- Não há nada, pai. É apenas cansaço.
Ambrus conhecia seu filho bem demais. Ele sabia que Lucius estava sentindo o peso da responsabilidade. Só que não era apenas isso. Ambrus sentia o conflito em seu filho e podia apostar que o motivo era o futuro alfa. Se Lucius conhecia o fato de Lunas serem comumente predestinados aos alfas, isso o deixaria mais nervoso e propenso a negar seus sentimentos. Observador como era, Ambrus sabia do amor que Lucius nutria desde mais jovem por Andras e como sua teimosia colocava o entendimento deles a perder. Só que cada vez que Ambrus tentava se aproximar de Lucius para conversar sobre relacionamentos amorosos, era afastado pelo menino, como se Lucius tivesse vergonha de admitir seus sentimentos e abrir seu coração. Nem mesmo Gyuri, que fazia questão de esconder seu óbvio interesse por Elek, era assim reservado. Se Ambrus quase poderia comparar a atitude de Lucius como um bloqueio, como se ele tivesse perdido algo precioso e não se permitisse amar. Se era por Andras ser quem era ou se era pelo próprio Lucius, Ambrus jamais saberia. Ainda assim, ele tenta aliviar o peso refletido nos olhos de seu filho.
- Lucius, eu...
- Estou realmente bem, pai. Só preciso comer e descansar. Se bem que... Poderia me responder algumas perguntas mais? Amanhã teremos o estro e eu queria me preparar.
Receoso de que se falasse algo inapropriado pudesse assustar o filho, Ambrus apenas acena afirmativamente com cabeça, encorajando Lucius a prosseguir.
- Disseste-me que é possível renegar o parceiro.
A expressão séria de Lucius apavora Ambrus. Será que a paúra de Lucius o fará fazer uma besteira e renegar quem quer que seja seu predestinado? Ou a pergunta é feita para o caso de ser Andras o escolhido? Quando Ambrus contou-lhe sobre essa possibilidade, não teve oportunidade de lhe dizer que, se a recusa fosse baseada apenas em receio e não na ausência de amor, aquele que negou o vínculo estaria condenando os dois ao sofrimento eterno. Isso acontecera uma vez, tendo a própria Deusa que intervir e bloquear a memória de ambos. Uma das histórias de amor mais tristes dos farkas, com um final lamentável. Um final que Ambrus jamais desejaria a ninguém, muito menos a seu amado filho.
- Sim, Lucius, é possível, mas...
- Então não somos forçados a aceitar ninguém. Podemos escolher ficar sozinhos? E a pessoa rejeitada pode encontrar outra? A Deusa é realmente benevolente. Sendo assim eu acho que posso me escusar de...
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Canis lupus (PAUSADA)
RomansaLucius é um jovem nascido e criado em uma aldeia em Magyarország. Os sentimentos que nutre por Andras, cinco anos mais velho que ele, e que é considerado o guerreiro mais valente de sua vila, o deixam confuso e irritado. Em seu décimo sexto aniversá...