Chuva de rosas

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Há cinco anos em Buda
Évike acabara de chegar ao castelo para servir como criada. A senhora que organizava as tarefas a havia colocado na cozinha. O coração de Évike batia na mesma intensidade e rapidez que tambores de guerra. Os homens a olhavam com cobiça, as mulheres com inveja. Évike não compreendia aquela atitude. Na vila onde morava, logo depois de perder seus pais, as pessoas a acolheram e ajudaram até o momento em que se mudou para o vilarejo de sua irmã Ibólia, onde também era vista com simpatia. Évike estava arrependida de ter se voluntariado a ir ao castelo. Ela não sabia lidar com a mesquinhez e a maldade. E teria que fazê-lo completamente só. Perdida nestes pensamentos, ela se assusta quando uma mão grande toca seu ombro. O assombro se torna maior quando uma voz grossa se faz ouvir.

- Pequena, não precisa se assustar! Sou Bernát, cozinheiro. Trabalhará comigo e vou protege-la. O castelo não é um bom lugar para meninas inocentes. Não tinha nenhum outro lugar para ir? Bem, não importa. Farei o possível para que esteja segura.

Évike sentiu alívio pela primeira vez, desde que iniciara o trajeto de sua aldeia até o castelo. Embora ela soubesse que Bernát não poderia protegê-la de tudo, ela pelo menos teria um amigo. Eles estavam conversando animados quando dois homens bem altos e bonitos entram na cozinha. Ambos de cabelos negros, só que enquanto um deles tinha olhos castanhos, os do outro eram de um azul cristalino. Évike estremeceu ante a frieza daquelas safiras e estava tão concentrada que não percebeu que todos no recinto fizeram uma reverência.

- Meu príncipe. Que honra tê-lo aqui. Como podemos servi-lo?

As palavras de Bernát despertam Évike, que desajeitadamente faz uma mesura. Porém ela não sabia qual dos homens era o príncipe. O que seria dela se, logo em sua chegada fosse executada por não dar as devidas honrarias ao futuro rei? Mantendo a cabeça baixa e culpando-se por ser tão irresponsável, ela não percebeu a mão quente e calosa que se aproximou. Só quando a sentiu em seu queixo, levantando-o suavemente é que Évike se viu diante dos olhos azuis gelados e sem emoção.

- E quem seria a dama?

Mesmo procurando não demonstrar seus sentimentos, Évike arregala os olhos e abre a boca, espantada por ser chamada de dama. A delicadeza do príncipe herdeiro não condizia com seu olhar cruel. Sabendo que precisava responder, sua voz sai mais como um sussurro.

- Meu senhor, sou apenas ajudante na cozinha. Não sou uma dama. Meu nome é Évike.

- Há quanto tempo está aqui, pequena flor inocente? Não me recordo de tê-la visto antes.

- Acabei de chegar. O Senhor Bernát está me ajudando e me ensinando o trabalho. Todos são muito gentis.

Ora, Évike imediatamente se frustra. Ela jamais mentia! E agora, perante o príncipe, diz que todos são muito gentis, quando na verdade a única pessoa gentil é Bernát? Ao mesmo tempo, ela não quer causar problemas a ninguém. Conhecendo a brutalidade do regente e sabendo seu filho ser igual, ela prefere não ter na consciência a responsabilidade pelo sofrimento de outrem.

- Mesmo? - O sarcasmo de Miklós a deixa sem jeito. E a mão em seu queixo não se move. Évike sente-se desconfortável com o escrutínio, pois os olhos azuis a examinam de cima a baixo de modo contínuo. - Gentileza não é algo que se veja por aqui. Mas se a dama diz que sim, quem sou eu para desmentir.

Soltando-a, Miklós se dirige a Bernát.

- Está tudo pronto para o jantar à noite?

- Sim, meu príncipe. Está tudo conforme seu desejo. Quer que seja servido na pequena sala de refeições ou em seus aposentos?

- Em meus aposentos. Ficaremos mais à vontade lá.

- Sim senhor. - Bernát responde com uma reverência.

Canis lupus (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora