Metamorfose

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Sentada tranquilamente no tronco de um enorme carvalho, Selena espera. Ali, no acampamento na beira da floresta fantasma, parte de seus farkas encara com coragem os infortúnios e dificuldades. O segundo grupo também está a caminho. Assim que Lucius e Andras colocam as peles de ovelha no chão e se deitam para dormir, Selena sussurra seus nomes. Ambos parecem incertos sobre o que ouviram e se deitam novamente após alguns minutos. Vendo que eles estão quase adormecendo, Selena os chama novamente. É mister que ambos adentrem a floresta. Ninguém pode ser deixado para trás. Caminhando a esmo, Andras e Lucius se aproximam da clareira onde Gáspár, Jancsi e os pequenos se encontram. A pequena Mila, de quatro anos, começa a chorar e os dois são atraídos pelo barulho. Porém, a luz da magia de Lucius é vista por Gáspár que, pegando sua espada, deixa o irmão cuidando dos meninos e vai interpelar os estranhos, pronto para defender a todos caso haja ameaça. Chegando por trás, o mais silenciosamente possível, Gáspár encosta a ponta da lâmina nas costas do maior deles.

- Quem sois vós e o que fazeis aqui?

A voz grave reverbera no silêncio da floresta. Num movimento rápido, Andras se vira, segurando a lâmina da espada com uma das mãos enquanto Lucius, com uma leve torção de seu pulso joga seu interlocutor contra o tronco de uma árvore, prendendo-o ali. A luz proveniente da magia do Luna se intensifica e eles passam a ver melhor o homem que os ameaçava. Ele parecia ser apenas um pouco mais velho que Andras. Suas feições são fortes, seus cabelos loiros caem nos ombros e os olhos verde esmeralda têm um brilho desafiador. Lucius imagina que este deva ser um homem que não se submete a ninguém, pois mesmo em desvantagem, ele ainda mantém o brio e a bravura. Porém há algo mais. As pessoas que Lucius encontrara fora de seu vilarejo eram boas e honestas, suas auras limpas e brilhantes, exatamente como a aura do estranho diante de si. Então por que ele os ameaçara? Havia algo que Lucius deixara passar? O desconhecido  continua tentando se soltar desesperadamente, só que sua expressão antes beligerante se transforma em pânico assim que o choro recomeça. Debatendo-se, ele não desiste de se libertar, chegando a conseguir mover os braços e pernas, fazendo com que Lucius precise reforçar o feitiço para mantê-lo no lugar.

- Deixem-me ir e sigam seu caminho! Não vos desejo mal.

Surpreendentemente a voz sai baixa, como se ele não quisesse chamar a atenção de quem quer que estivesse por perto. O esforço físico para se libertar o deixa sem fôlego e suado, porém é a preocupação em seus olhos que faz com que Lucius se volte para onde choro continua. É Andras quem responde.

- Nunca foi nossa intenção fazer-lhe mal. Na verdade viemos apenas verificar a floresta. Se o soltarmos, dá-nos sua palavra que não nos atacará?

- Não os estava atacando. Estava apenas sendo precavido. Mesmo que eu tentasse atacá-los, não vê que estou em desvantagem? Seu mago cuidou para que eu não pudesse me mover.

Apesar de situação tensa, Andras não pôde evitar um sorriso ao ouvir Lucius ser chamado de seu mago. Ora, ele era muito mais do que isso. Lucius era seu parceiro, o dono absoluto de seu coração. Todos os dias Andras se admirava com a naturalidade com que a magia de Lucius fluía dele. Mesmo sendo o futuro alfa, treinado para usar o poder herdado de sua mãe, ele não chegava aos pés do Luna, que era não somente guiado por seus fabulosos instintos, mas também por um excelente bom senso. Com um aceno de cabeça, o alfa os apresenta.

- Sou Andras e este é Lucius.

Lucius encerra o feitiço de contenção logo em seguida. Assim que se vê liberto, o homem retribui o cumprimento, apresentando-se.

Canis lupus (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora