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Enquanto Andras discursa, Lucius se permite admirá-lo uma última vez. Ele está glorioso com suas calças negras ajustadas às coxas grossas e a camisa no mesmo tom, deixando entrever o peitoral tonificado. Ele era majestoso. Não havia dúvidas de que nascera para ser um líder. Na ausência de Zoltán, Andras seria aquele que protegeria os farkas e seus costumes. Porque seu pai lhe havia dito que renegar um parceiro poderia ser fatal, Lucius não via outra alternativa a não ser fugir, embora não soubesse com certeza se Andras era seu predestinado ou não. O vale Szalajka ficava a nordeste no reino. Não que Lucius realmente soubesse sua localização, mas fora-lhe dito que ficava na divisa com o território de Horvátország. Era sabido que o rei horvát, Dalibor, não se dava bem com Géza. Mas para evitar derramamento de sangue, um tratado de paz havia sido firmado há dez anos. Miklós, então príncipe, era abertamente contra tal tratado e queria invadir Horvátország para anexar seu território a Magyarország. Até porque Dalibor era politeista e permitia, assim como Géza, que o povo professasse a religião que lhe aprouvesse. Não seria surpresa se, agora que subira ao trono, Miklós rompesse o tratado. Frente a tantas ameaças e incertezas, era mister que Lucius alcançasse as sacerdotisas de Hold Kör, mesmo que ele desobedecesse sua mãe que, na carta, admoestava-o a fazê-lo após o estro, e não durante este. Ainda assim, quando a algazarra se instala, Lucius se levanta discretamente e desaparece na floresta escura.

Andras encontra-se desesperado. Ele conhece bem o cheiro de Lucius e o sente cada vez mais longe. Ele precisa agir rápido para não perdê-lo. Mesmo com excelente olfato, existe um limite para suas habilidades de rastreamento. Quando Gyuri e Elek se sentem dominar pela magia do estro, Andras os deixa, e sem perder mais nenhum segundo, disparando em direção a seu amor.

Lucius já estava longe. Mover-se em quatro patas era muito mais eficaz do que permanecer humano. Com o pequeno fardo em sua boca, ele sequer se dá ao trabalho de observar a floresta e seus moradores de hábitos noturnos. Uma coruja da neve o observa sobre um galho de Pinheiro. Um morcego sobrevoa uma clareira, enquanto Lucius corre, aproximando-se de uma área montanhosa. Ele não sabia há quanto tempo estava correndo, mas encontrava-se cansado. Não dormira nada na noite anterior, impossibilitado de acalmar os pensamentos. Viu então, ao pé da montanha, uma pequena entrada escondida entre arbustos desnudos. No verão ela ficava certamente invisível por causa das folhas. Entrando silenciosamente, ele se depara com uma caverna vazia. Transformando-se em humano novamente, ele veste a roupa que havia dobrado e guardado no pacote que fizera, bem como calça suas botas. Fazendo uma pequena fogueira, ele coloca o cobertor no solo, se preparando para dormir um pouco e poder seguir viagem em algumas horas. Assim que se deita, escuta passos abafados pela neve se aproximando rapidamente. Então ele sente o aroma irresistível de seu predestinado. O cheiro de Andras. Sua mente se torna um caos. Correr? Ficar? O que fazer? Andras não pode reivindica-lo de maneira nenhuma!!!! Ou pior! Lucius pode não conseguir se conter e reivindicar Andras.

O lobo negro entra na caverna aquecida pelo fogo. Seus olhos verdes brilhantes fixos em Lucius. Ele se transforma diante do menor, que não consegue desviar o olhar daquele corpo magnífico iluminado pela fogueira. Andras começa a se mover na direção de Lucius e diz.

- Meu.

Respirando fundo, Lucius usa de toda a força de vontade que tem para soar convicto.

- Não.

A negativa faz Andras parar no lugar, lançando a pergunta com um olhar atônito.

- Está me recusando?

O jovem sente a excruciante pontada de dor em seu peito. Fechando seus olhos por um segundo ele tem uma visão. Visão não, são lembranças de alguém, talvez da pessoa que usou o medalhão que ele agora carrega no pescoço. Nela, dois homens estão se encarando enquanto um deles tenta reivindicar o outro, apenas para ter seu elo repudiado. A dor dos dois é visível e, ainda assim, um deles vira as costas e parte para sempre. Lucius sente-lhes o sofrimento e sabe que não pode permitir que Andras passe pelo mesmo. Se ele confirmar o repúdio, o elo será desfeito e o preço a pagar será caro. Com um suspiro pesado, Lucius ainda oferece uma resistência muda.

Canis lupus (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora