Império dos Três: Capítulo Final

Prólogo

Dia 12

– Checando pressão e batimentos cardíacos – digito no computador para que ele me mostre enquanto falo no gravador de voz. – Estável.

Anoto as informações na caderneta ao lado da mesa. Depois, olho o relógio no pulso.

– O receptáculo não demonstra anomalias – falo, olhando para o próprio. – Ainda assim, seus cabelos cabelos às vezes têm um comportamento estranho, é algo que vale a pena ressaltar, embora não seja de fato um problema.

Dia 36

Tudo está silencioso, mais uma vez, estou sozinho no trabalho, a minha equipe não tem a mesma dedicação que eu tenho, essa é a verdade.

A única coisa que me deixa mais perturbado do que saber que vou virar a noite de novo é ver aquele rosto endurecido. Não estava assim nos primeiros dias, mas ninguém quer acreditar. De qualquer forma, não tem nada que ele possa fazer mesmo, é isso. Tenho que relaxar e continuar meu trabalho.

– Parece que somos só nós dois de novo hoje – levanto a xícara de café para o receptáculo e brindo antes de beber.

Dia 88

– Bom dia, doutor – minha assistente chefe entra na sala, trazendo muitos papéis consigo, jogando-os sobre a mesa.

– Que conversa é essa de doutor? Já disse que você não precisa me chamar assim – rio, coçando a barba.

Chloe sorri, claramente está muito contente por sua promoção. Ela mereceu, pois tem me ajudado bastante a lidar com o sujeitinho que estamos "operando".

– É que eu ainda não me acostumei – sua mão toca o meu ombro. – Obrigada pela oportunidade, Mark, não vou te decepcionar.

– Eu não fiz nada, você fez. Eu apenas reconheci – pisco. Em seguida estalo os dedos e o pescoço, preparando o meu corpo para mais um longo dia de exames, aplicação de soros dos mais variados tipos e finalmente iremos começar a pré-extração daquele cara. – Bom, então vamos começar. Com sorte nós sairemos daqui antes da meia noite. Chame os outros.

A mocinha sai imediatamente e eu me levanto da cadeira, ando calmamente até o vidro que nos separa. São os cabelos de novo, eles estão balançando, como se estivessem mergulhados na água, os fios não têm pressa alguma de se movimentarem. Olho novamente na tela as informações, só para ter certeza de que a cápsula está lacrada. O computador diz que sim.

Dia 123

– É uma honra recebê-lo, senhor – faço a saudação.

O homem acena com a cabeça e volta com o olhar para o receptáculo.

– Como estão indo?

– Tudo conforme planejado – faço uma pausa. – Podemos começar a extração.

– Ravel! – Um subordinado entra desesperado e fala algo em seu ouvido. Fico surpreso ao saber que ele o chama pelo nome. Devem ser próximos.

– Faça a extração o quanto antes, vocês já têm um receptor – ele ordena, virando as costas logo em seguida.

– Sim, senhor!

Só me permito respirar de verdade depois que o homem sai. Ao encarar novamente o receptáculo tenho uma surpresa. Seus olhos estão abertos.

– Você... Pode me ouvir? – Pergunto, batendo no vidro com a parte de trás do dedo, tentando manter a calma.

O seu rosto permanece sério, uma veia grande já marca presença na sua testa, desde ontem. Aquele olhar é tão intenso que chega a ser hipnotizante, é como se ele estivesse vendo toda a minha vida através de seus olhos.