Capítulo Três

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Depois do rangido da porta se abrindo, só o que escuto é a minha respiração reverberando, uma silhueta entra a passos quase mudos, evitando a cortina de luz solar que atravessa as poucas falhas feitas por tiros nas paredes da edificação, os raios mostram em seus feixes que o ar está impregnado com a poeira. Faço um sinal de silêncio para todos com o dedo indicador e me levanto.

Me esgueiro vagarosamente pelo cômodo com os pés descalços e paro atrás de uma parede, faço um gesto com a mão para os humanos ali presentes se dispersarem, eles pegam suas crianças e vão para os fundos engatinhando, enquanto isso vou me certificar que o invasor seja eliminado, seria bom ter a ajuda de Lukas, mas ele está em uma expedição solitária em busca de comida para nós. Espio o cenário a frente, e mesmo com a escuridão abraçando o lugar, tenho uma noção de onde o desconhecido está, consigo até mesmo perceber que ele está segurando alguma coisa, usando as duas mãos, possivelmente uma arma.

Só o que preciso é de um contato visual direto, e quem quer que seja estará morto, mas talvez tenham mais deles lá fora. Então é melhor ser mais discreta, concluo, puxando da calça a minha faca de combate. Preparo mentalmente meu corpo para uma ofensiva, e observo novamente o próximo cômodo, o vulto passa de um lado para o outro, as madeiras abaixo dele rangem com seu peso, entregando completamente sua posição, é a minha chance, dou passos ousados e silenciosos, abusando da minha baixa estatura para não ser notada. A cena acontece muito rápido, vou com tudo que tenho e pulo na pessoa empunhando a arma na frente do corpo.

Derrubo o desconhecido com um baque, arrancando dele aquela coisa que carregava e direciono a ponta da lâmina contra seu pescoço, pressionando-a com toda força que consigo empregar, entretanto o invasor revida, aplicando um esforço contrário ao meu.

– Para! – a voz familiar do garoto soa abafada, me fazendo parar no mesmo instante, afasto a faca. Quando me inclino um pouco mais para baixo é que consigo confirmar o que já sei, o rosto assustado de Lukas me encara. – Você ficou maluca?

– O que foi que nós combinamos? – Saio de cima dele, relaxo os ombros, embora não tão aliviada quanto gostaria. – Você tem que emitir o sinal! Como vou saber se é você nessa escuridão?

– E se eu fizer o sinal e chamar a atenção deles?

– É só você ficar invisível e fugir! – Faço uma concha com a mão e bato a ponta dos dedos juntos na têmpora várias vezes, numa tentativa de colocar essa ideia em sua cabeça. Suspiro, afastando o aborrecimento momentâneo, lanço um olhar às cegas para o cômodo atrás. – Podem sair, tá tudo bem – falo com a voz mais calma com os humanos, que devem estar amontoados num pequeno quarto escuro.

– Será que não dá pra mudar esse código? Eu acho meio ridículo entrar num lugar e miar que nem um gato.

– Não vejo problema algum nisso, não é pra ser legal.

– Você tá me desencorajando – reclama, sorrindo.

Todas as pessoas saem, uma das crianças corre para abraçar Lukas, que retribui o gesto com muita ternura.

– Podia ao menos ter entrado aqui invisível, quase te matei sem querer – comento.

– Eu estava a horas invisível, meu poder tá esgotado – boceja.

Guardo minha faca depois de uma breve limpeza no cós da calça, não é o tipo de arma que eu necessito para lutar, afinal tenho um poder mental que me oferece uma vantagem por não precisar de contato físico e sou mais forte que qualquer humano nativo desse planeta, ou a maioria deles, mas, gosto de como o objeto me permite apagar a minha presença em certas situações, depois de tantas vezes em que tivemos que ser discretos, acabei me apegando a ela.

Império dos Três: Capítulo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora