Capítulo Cinco

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– Somos da resistência – o homem à nossa frente anuncia com um tom de voz calmo, embora esteja paralisado. Todos os outros de seu grupo apontam suas armas para nós, visto que um dos seus está sendo ameaçado por mim.

Lukas levanta as mãos, eu não. Os soldados que nos perseguiram estão mortos, matamos dois, e eles o restante. Ainda assim, mantenho o metal escuro da minha querida faca apoiado no pescoço do suposto rebelde de bigode grosso.

– Heather – Lukas chama meu nome de um jeito desesperado, me obrigando a olhar para seu rosto. – Eles são da resistência, acabaram de nos ajudar, abaixa a faca.

Lanço um olhar para os inimigos abatidos ao nosso redor, apenas para confirmar que realmente os mataram. Afasto lentamente o objeto cortante do pescoço do rebelde e guardo no coldre.

– Vocês são Zedar, correto? – o humano supostamente aliado abre um sorriso confiante. – Eu vi quando vocês dois se materializaram – confessa, ajustando o chapéu de balde com uma camuflagem bordada com as cores da floresta.

Para alcançar seu pescoço, quase tive que ficar na ponta do pé, não sei se pelo fato dele ser muito alto ou eu ser muito baixa. Talvez as duas coisas.

– Vocês estão bem? – falo, direcionando o olhar para o meu bando.

Eles confirmam com a cabeça, uma das crianças corre e abraça Lukas, como de praxe.

– Temos que sair daqui, chefe, eles vão mandar reforços – um dos caras do grupo rebelde se manifesta. Ele conversa com o homem à nossa frente, que é o que ameacei agora há pouco. São seis ao todo.

– Façam uma varredura no perímetro, estamos de saída – ordena. Os subordinados imediatamente deixam a casa. – Vocês vem conosco? – o homem me encara por um instante e, percebendo que não se apresentou, estende o braço. – Meu nome é Scott, é um prazer, Heather e...?

– Lukas – o garoto responde, dando um passo à frente, cumprimentando o soldado antes de mim. – Vocês têm algum esconderijo ou uma base de operações?

– Temos um velho posto de gasolina e uma serralheria caindo aos pedaços. E cada um aqui tem suas próprias casas, afinal, somos cidadãos. Podem ficar na minha, consertei a hidromassagem. E eu garanto, nada menos que o paraíso! – brinca, cutucando a costela de Lukas, que dá de ombros com um sorriso alegre.

– Nós não vamos – interrompo a diversão dos dois com minha voz rouca.

Lukas faz uma careta, ele me encara com ceticismo.

– O que tá dizendo? – balança a cabeça, ainda incrédulo. – É a nossa melhor opção, a melhor opção pra eles – aponta com as duas mãos para o nosso pessoal.

Analiso as pessoas atrás de mim e suas crianças. Eles estão felizes, claramente animados por termos sido ajudados por esses que dizem ser da resistência.

"Não confie em ninguém, faça as pessoas confiarem em você" , escuto, na minha mente, a voz do que agora considero a minha principal inspiração, Rachel. Ela me disse isso quando estávamos na base da floresta. Aquela garota tem a minha idade, mas é muito mais madura, experiente. Sabe se virar sozinha como ninguém. Não nego em pensar que queria muito que N1 estivesse aqui para tomar as decisões no meu lugar. Cada vez que tenho que decidir algo, sei que se errar, podemos morrer.

– Heather – Abigail, uma das mães, me convoca. Sua voz me arranca dos meus pensamentos. – Sabemos o quanto se esforçou pra ajudar a gente, mas... Precisamos de um lugar seguro – junta as mãos na frente da saia longa.

Sua declaração me faz machucar as mãos com um forte aperto nos punhos. Mas antes que possa pensar em dizer algo, Scott o faz.

– Vamos lá, garota, temos alguns da sua raça conosco. Temos lutado diretamente contra os soldados do ditador. Precisamos de mais guerrilheiros.

Império dos Três: Capítulo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora