Capítulo Um

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– Onde estou?

Ninguém responde, sinto meu corpo mergulhado em alguma coisa, embora não veja nenhum líquido. Ainda assim, a sensação é muito tranquilizante, é como um banho quente após um longo dia de estresse.

– No vazio, ou no infinito, ou no tudo, ou na verdade, ou na transcendência – depois de muito tempo, uma voz soa como um sussurro no meu ouvido, é semelhante a uma nota aguda delicada de uma canção.

Olho ao redor novamente, esse universo vintage parece não ter fim, o que eu chamo de chão parece espelhar o céu, ou vice versa e o horizonte espelha a imensidão. Não vejo ninguém, ainda sinto a sensação de estar mergulhado em um oceano invisível, mesmo pairando no ar, a sensação é de calmaria completa, os tons bege desse mundo vazio me fazem relaxar os músculos.

– E o que isso quer dizer?

– Significa que você está evoluindo para o próximo estágio.

– A singularidade.

– Exatamente – a voz agora se torna familiar, bastante familiar.

Num instante, uma estrela surge no céu rosado, o seu brilho ofusca tudo que antes conseguia enxergar, várias imagens vem na minha cabeça, se materializando diante de mim, não sei se é imaginação ou real. A maior parte delas são sem sentido, psicodélicas.

– Por que eu estou aqui?

– Para ver como as energias mais puras do universo se manifestam, isso é o mundo que olhos comuns não podem ver.

– Você enxerga tudo assim? De onde eu venho ver as cores distorcidas dessa forma tem outro nome.

– Não, seu bobo – Natalie finalmente perde sua compostura e ri. – Esse universo é apenas um plano paralelo onde a singularidade flui, algo invisível aos olhos. Porém, quando uma pessoa que começa a se conectar com essa energia, basta fechar os olhos e se concentrar para vir aqui, no começo é bem bizarro, mas com o tempo você se acostuma – agora alguma coisa se formar a poucos centímetros de mim, mas não posso tatear, não consigo me mexer.

A princesa aparece como num passe de mágica, primeiro sua silhueta fica iluminada, para só então tomar a forma física real, seus cabelos esvoaçantes se comportam diferente, é como se tivessem no meio de uma leve brisa que os acaricia o tempo inteiro, seus olhos verdes perolados me encaram com a mesma calmaria de sempre, a pupila fica estática, analisando sentimentos através do meu olhar. Ela também não se move.

– Por isso você ficava meditando sobre o monte?

– Sim, vir aqui sempre me acalma – Natalie sibila.

– Então, você não está perto de mim fisicamente?

– Não. Estamos conectados pela singularidade, como aconteceu uma vez aqui na Terra.

– Como foi possível? Já que nós nem tínhamos despertado os poderes.

– Mas eles sempre estiveram encapsulados em nosso DNA, mesmo que misturado com o dos humanos, ainda funciona. Aquela vez foi diferente de agora, mas com certeza foi por conta da singularidade.

Tento mexer a ponta do dedo, mas não sinto nada. Até onde sei, não deveria estar vivo. Será que ela também consegue se conectar com os mortos e agora está falando comigo?

– Entendi... – digo, fazendo uma pausa. – Mas então, eu estou...Morto? – Estreito os olhos, ainda confuso.

– Não, posso sentir você, o seu coração, os humanos levaram muitos de vocês para bases espalhadas pelo mundo. A Terra virou um caos.

Império dos Três: Capítulo FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora