Capítulo Onze

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O som ininterrupto, mas sutil, de um moedor preenche o ambiente. O final da tarde rapidamente se apresenta em um tom laranja, raios solares tímidos me alcançam, da varanda da fazenda, meu olhar vaga entre o pasto – de onde os bezerros se alimentam –, e a linha das árvores, atentos ao menor movimento. Não estou segura aqui, os humanos extraterrenos conhecem a região, então podem aparecer a qualquer momento. E é por isso que tenho que me apressar, embora o estômago ainda arda incessante, os ossos deem sinais de fragilidade, e as queimaduras nas costas e braços me obriguem a ser mais cautelosa, não tenho tempo.

Seguro uma estaca de madeira com uma mão, enquanto com a outra uso uma faca de caça para afiá-la, será uma das armadilhas que colocarei em pontos estratégicos na floresta para apanhar de surpresa o inimigo. Ao mesmo tempo em que prefiro eu mesma fazer tudo, sei que vou precisar da ajuda de Summer e até do velho, para ficar livre para treinar o tiro, e também verificar a região na qual irei me infiltrar.

O foco do meu treinamento com meu pai atende a essas situações, missões onde a letalidade e furtividade são essenciais. Nossa família nunca foi dotada de grandes poderes, e por isso fortalecemos nosso físico acima de tudo, acreditando na boa preparação. Foi o que me manteve viva até hoje.

O ranger da porta da frente me traz de volta, o chefe da família Hatford acaba de cruzá-la. Nossos olhares se encontram breves, e então ele estuda de longe as lanças prontas. O homem ajeita o chapéu na cabeça, enquanto a madeira embaixo de seus pés protesta com seus passos.

– Sabe que não precisa fazer isso. Não está nos devendo nada – Tobias se aconchega na cadeira ao meu lado.

– Não estou fazendo apenas por vocês. É por mim – respondo, sem deixar de arrancar farpas da estaca. – Antes de qualquer coisa, devo avisar que se concordar em tomar partido, poderá haver consequências. Imprevisíveis. A segunda humanidade é diferente, eles não terão piedade por sua traição.

– Estou ciente. – O seu suspiro profundo me faz parar. Eu o olho de soslaio, assistindo-o pegar um cachimbo e acendê-lo.

– O senhor tem três filhas, duas delas novas demais para se envolver. Não teme pela segurança delas?

– Summer não te contou? Um dos nossos antigos vizinhos, não os aliens, eles eram bem próximos de nossa família, Harold tinha quarenta e sete anos e sua esposa quarenta e três. Tinham um casal. Se não me engano, sete e oito anos. Eles praticaram a política do colaboracionismo como nós, não queriam encrenca. Mas isso não impediu que seus filhos fossem levados. Sei que esse governo não nos quer aqui, querem apenas usar nossas força de trabalho e nossas crianças para seja lá o que for. E então tenho que tomar uma atitude antes que peguem minhas filhas, não vou permitir, nem que isso me mate. Se isso acontecer, você cuida delas.

– Não mesmo – eu o encaro, séria. Não quero bancar a babá de humanos. Atrapalharia os meus planos. Não tenho a intenção de permanecer aqui.

– Pensei mesmo que recusaria – o velho dá uma risada, enquanto a fumaça de seu cachimbo sobe. – Elas vão ficar bem. Mandarei as duas meninas para a tia, na França. Ficaremos apenas nós três.

Lambo o lábio seco e cortado, desviando a atenção por instantes.

– Tenho uma pergunta para o senhor.

Ele se mexe na cadeira, o olhar focado no horizonte.

– Faça.

– Por que age dessa maneira? Desde quando cheguei aqui, me trata como se me conhecesse há muito tempo. Estão com poucas reservas de grãos, porém continua bastante hospitaleiro. Embora não seja regra, seus costumes não batem com o que se espera de um australiano, o senhor faz chá frequentemente, e adora feijões. Notei que sempre me cumprimenta com o chapéu, algo muito comum no século passado, e pelo que estou vendo, seu sotaque, é inglês. Soube que tivemos alguns dos Zedar que vieram muitos anos antes. Então... sabe de alguma coisa sobre nós que eu não sei?

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⏰ Última atualização: Jul 03 ⏰

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